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por Rogério Coelho

 

O arrependimento profícuo


O arrependimento sempre visitará as consciências em débito com a contabilidade divina


“(...) Arrependimento sadio das faltas cometidas é compromisso assumido com as tarefas a executar.” -
Joanna de Ângelis


Existem duas espécies de arrependimento: o profícuo e o improfícuo. Este último devemos evitar, vez que consiste tão somente em – improdutivamente – bater a mão no peito, assentados na esquina do remorso e, vezes sem conto, repetir: “mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa...” Tal atitude não nos leva a lugar algum a não ser à paralisia das possibilidades de reversão do quadro doloroso da dor moral.

Simão Pedro e Maria de Magdala são os símbolos máximos do arrependimento profícuo, aquele que devemos acoroçoar. O primeiro, arrependido por ter negado o Divino Amigo no momento grave do testemunho, doou-se, empós, à cruz santificante de todas as renúncias, entregando-se à causa dos filhos do calvário, o mesmo acontecendo com a antiga obsidiada de Magdala que, arrependendo-se da vida triste que levava, doou-se em holocausto, em forma de mãezinha amorável dos leprosos em regime de abnegado devotamento...

O arrependimento sempre visitará as consciências em débito com a contabilidade divina. Assim, faz-se necessário desdobrá-lo em ações edificantes no bem e não na paralisia das possibilidades de elevação espiritual e tampouco nas sufocantes malhas do remorso improdutivo e cruel...

Junto aos Espíritos Superiores, amigos da humanidade, Allan Kardec expõe a questão do arrependimento entre as perguntas 990 a 1007 de “O Livro dos Espíritos”, onde aprendemos que o Espírito arrependido, ao compreender as imperfeições que o privam de ser feliz, aspira a uma nova existência em que possa expiar suas faltas. 

Quer encarnado, quer desencarnado, mais dia menos dia, o Espírito calceta experimentará as constrições do arrependimento; arrependimento esse que é o passo inicial do seu processo de reabilitação.

O arrependimento apressa a reabilitação, mas não tem o condão de absolver o Espírito. Tal como na “parábola do filho pródigo”, diante dele sempre estará aberta a porta de acesso de retorno à proteção paternal de Deus, que lhe desdobra o futuro na Eternidade para remir suas faltas.

No livro “O Céu e o Inferno”, 2ª parte, está registrado o testemunho de Lisbeth, classificada entre os Espíritos sofredores. Segundo ela: “(...) o arrependimento é inútil quando apenas produzido pelo sofrimento. O arrependimento profícuo tem por base a mágoa de haver ofendido a Deus, e importa no desejo ardente de uma reparação”.

Kardec aduz o seguinte comentário: “este ensinamento é uma grande verdade; às vezes o sofrimento provoca um brado de arrependimento menos sincero, que não é a expressão de pesar pela prática do mal, visto como, se o Espírito deixasse de sofrer, não duvidaria reencetá-la. Eis por que o arrependimento nem sempre acarreta a imediata libertação do Espírito. Predispõe-no, porém, para ela — eis tudo! É-lhe preciso, além disso, provar a sinceridade e firmeza da resolução, por meio de novas provações reparadoras do mal praticado.

Encontrar-se-á nas palavras dos Espíritos — mesmo dos mais inferiores — profundos ensinamentos, pondo-nos a par dos mais íntimos pormenores da vida espiritual. O homem superficial pode não ver nesses exemplos mais que pitorescas narrativas; mas o homem sério e refletido encontrará neles abundante manancial de estudos”.

Arrependimento, expiação e reparação, tais o princípio, meio e fim do processo de reabilitação perante as Leis Divinas...

O arrependimento, além de sua característica de iniciador do processo de recuperação, constitui-se também na condição básica que possibilita a intervenção do Espírito Protetor em favor de seu tutelado. Existe, portanto, uma estreita relação entre o arrependimento e o auxílio prestado pelos bons Espíritos. Esse apoio do Plano Maior da Vida tem origem no amor de Deus e em Sua infinita misericórdia...

Eis, para nosso esclarecimento, a lição oferecida por Saint Paulin, guia espiritual do médium que incorporou Lisbeth: “(...) nunca esqueçais os ensinos que bebeis nos sofrimentos dos vossos protegidos e notadamente nas suas causas, visto serem lições das quais todos podem aproveitar no sentido de se preservarem dos mesmos perigos e de idênticos castigos. Purificai os corações, sede humildes, amai-vos e ajudai-vos sem esquecerdes jamais a fonte de todas as graças, fonte inesgotável na qual podem todos saciar-se à vontade, fonte de água viva que desaltera e alimenta, igualmente, fonte de vida e ventura eterna...  Ide a ela, meus amigos, e bebei com fé!  Mergulhai nela as vossas vasilhas, que sairão de suas ondas pejadas de bênçãos. Adverti vossos irmãos dos perigos em que podem incorrer. Difundi as bênçãos do Senhor, que se reproduzem incessantes; e quanto mais as propagardes, tanto mais se multiplicarão. Está em vossas mãos a tarefa, porquanto, dizendo aos vossos irmãos — aí estão os perigos, lá os escolhos; vinde conosco a fim de os evitar; imitai-nos a nós que damos o exemplo — assim difundireis as bênçãos do Senhor sobre os que vos ouvirem.

Abençoados sejam os vossos esforços. O Senhor ama os corações puros: fazei por merecer-Lhe o amor”.  


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita