O arrependimento profícuo
O arrependimento sempre visitará as consciências em
débito com a contabilidade divina
“(...) Arrependimento sadio das faltas cometidas é
compromisso assumido com as tarefas a executar.” -
Joanna de Ângelis
Existem duas espécies de arrependimento: o profícuo e o
improfícuo. Este último devemos evitar, vez que consiste
tão somente em – improdutivamente – bater a mão no
peito, assentados na esquina do remorso e, vezes sem
conto, repetir: “mea culpa, mea culpa, mea maxima
culpa...” Tal atitude não nos leva a lugar algum a
não ser à paralisia das possibilidades de reversão do
quadro doloroso da dor moral.
Simão Pedro e Maria de Magdala são os símbolos máximos
do arrependimento profícuo, aquele que devemos
acoroçoar. O primeiro, arrependido por ter negado o
Divino Amigo no momento grave do testemunho, doou-se,
empós, à cruz santificante de todas as renúncias,
entregando-se à causa dos filhos do calvário, o mesmo
acontecendo com a antiga obsidiada de Magdala que,
arrependendo-se da vida triste que levava, doou-se em
holocausto, em forma de mãezinha amorável dos leprosos
em regime de abnegado devotamento...
O arrependimento sempre visitará as consciências
em débito com a contabilidade divina. Assim, faz-se
necessário desdobrá-lo em ações edificantes no bem e não
na paralisia das possibilidades de elevação espiritual e
tampouco nas sufocantes malhas do remorso improdutivo e
cruel...
Junto aos Espíritos Superiores, amigos da humanidade,
Allan Kardec expõe a questão do arrependimento entre as
perguntas 990 a 1007 de “O Livro dos Espíritos”,
onde aprendemos que o Espírito arrependido, ao
compreender as imperfeições que o privam de ser feliz,
aspira a uma nova existência em que possa expiar suas
faltas.
Quer encarnado, quer desencarnado, mais dia menos dia, o
Espírito calceta experimentará as constrições do
arrependimento; arrependimento esse que é o passo
inicial do seu processo de reabilitação.
O arrependimento apressa a reabilitação, mas não tem o
condão de absolver o Espírito. Tal como na “parábola
do filho pródigo”, diante dele sempre estará aberta
a porta de acesso de retorno à proteção paternal de
Deus, que lhe desdobra o futuro na Eternidade para remir
suas faltas.
No livro “O Céu e o
Inferno”, 2ª parte, está registrado o testemunho de
Lisbeth, classificada entre os Espíritos sofredores.
Segundo ela:
“(...) o arrependimento é inútil quando apenas produzido
pelo sofrimento. O arrependimento profícuo tem por base
a mágoa de haver ofendido a Deus, e importa no desejo
ardente de uma reparação”.
Kardec aduz o seguinte
comentário:
“este ensinamento é uma grande verdade; às vezes o
sofrimento provoca um brado de arrependimento menos
sincero, que não é a expressão de pesar pela prática do
mal, visto como, se o Espírito deixasse de sofrer, não
duvidaria reencetá-la. Eis por que o arrependimento nem
sempre acarreta a imediata libertação do Espírito.
Predispõe-no, porém, para ela — eis tudo! É-lhe preciso,
além disso, provar a sinceridade e firmeza da resolução,
por meio de novas provações reparadoras do mal
praticado.
Encontrar-se-á nas palavras dos Espíritos — mesmo dos
mais inferiores — profundos ensinamentos, pondo-nos a
par dos mais íntimos pormenores da vida espiritual. O
homem superficial pode não ver nesses exemplos mais que
pitorescas narrativas; mas o homem sério e refletido
encontrará neles abundante manancial de estudos”.
Arrependimento, expiação
e
reparação,
tais o princípio, meio e fim do processo de reabilitação
perante as Leis Divinas...
O arrependimento, além de sua característica de
iniciador do processo de recuperação, constitui-se
também na condição básica que possibilita a intervenção
do Espírito Protetor em favor de seu tutelado. Existe,
portanto, uma estreita relação entre o arrependimento e
o auxílio prestado pelos bons Espíritos. Esse apoio do
Plano Maior da Vida tem origem no amor de Deus e em Sua
infinita misericórdia...
Eis, para nosso esclarecimento, a lição oferecida por
Saint Paulin, guia espiritual do médium que incorporou
Lisbeth: “(...) nunca esqueçais os ensinos que bebeis
nos sofrimentos dos vossos protegidos e notadamente nas
suas causas, visto serem lições das quais todos podem
aproveitar no sentido de se preservarem dos mesmos
perigos e de idênticos castigos. Purificai os corações,
sede humildes, amai-vos e ajudai-vos sem esquecerdes
jamais a fonte de todas as graças, fonte inesgotável na
qual podem todos saciar-se à vontade, fonte de água viva
que desaltera e alimenta, igualmente, fonte de vida e
ventura eterna... Ide a ela, meus amigos, e bebei com
fé! Mergulhai nela as vossas vasilhas, que sairão de
suas ondas pejadas de bênçãos. Adverti vossos irmãos dos
perigos em que podem incorrer. Difundi as bênçãos do
Senhor, que se reproduzem incessantes; e quanto mais as
propagardes, tanto mais se multiplicarão. Está em vossas
mãos a tarefa, porquanto, dizendo aos vossos irmãos — aí
estão os perigos, lá os escolhos; vinde conosco a fim de
os evitar; imitai-nos a nós que damos o exemplo — assim
difundireis as bênçãos do Senhor sobre os que vos
ouvirem.
Abençoados sejam os vossos esforços. O Senhor ama os
corações puros: fazei por merecer-Lhe o amor”.
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