O leitor Felipe Corrêa Trindade, em mensagem publicada
nesta mesma edição, enviou-nos a seguinte questão:
Li um artigo publicado em um periódico espírita sobre o
tema: limbo, inferno e purgatório. Gostaria de ter mais
informações sobre o limbo, o que significa essa palavra,
qual o seu significado teológico e como o Espiritismo vê
essa questão.
Originária do latim, a palavra limbo – limbu, 'orla' –
tem vários significados, mas, no âmbito da religião, é o
nome que se dava ao lugar onde, segundo a teologia
católica, se encontrariam as almas das crianças que,
embora não tivessem alguma culpa pessoal, morreram sem o
batismo que as livrasse do pecado original.
Considerado um espaço circunscrito fora das cercanias do
Céu, o limbo foi idealizado pelos religiosos da época
com a finalidade de abrigar crianças que não haviam sido
batizadas e também os que haviam morrido antes do
advento da chegada do Cristo.
Essa ideia foi incorporada aos ensinamentos católicos
como sendo um local destituído de sofrimento, uma vez
que as crianças nada fizeram para merecer o castigo, mas
também não seria um paraíso, em face da ausência do
batismo, um dos sete sacramentos adotados pela Igreja.
Allan Kardec tratou do assunto em seu livro O Céu e o
Inferno, em que lemos:
“É verdade que a Igreja admite uma posição especial em
casos particulares. As crianças falecidas em tenra
idade, sem fazer mal algum, não podem ser condenadas ao
fogo eterno. Mas, também, não tendo feito bem, não lhes
assiste direito à felicidade suprema. Ficam nos limbos,
diz-nos a Igreja, nessa situação jamais definida, na
qual, se não sofrem, também não gozam da
bem-aventurança. Esta, sendo tal sorte irrevogavelmente
fixada, fica-lhes defesa para sempre. Tal privação
importa, assim, um suplício eterno e tanto mais
imerecido, quanto é certo não ter dependido dessas almas
que as coisas assim sucedessem. O mesmo se dá quanto ao
selvagem que, não tendo recebido a graça do batismo e as
luzes da religião, peca por ignorância, entregue aos
instintos naturais. Certo, este não tem a
responsabilidade e o mérito cabíveis ao que procede com
conhecimento de causa.” (O Céu e o Inferno,
Primeira Parte, cap. IV, itens 7 e 8.)
O entendimento da Igreja Católica sofreu, no entanto,
radical mudança em abril de 2007, quando foi publicado o
documento "A esperança de salvação para bebês que morrem
sem serem batizados", no qual a Comissão Teológica
Internacional da Igreja Católica considerou inadequado o
conceito de limbo.
O texto aprovado pelo Vaticano “diz que a graça tem
preferência sobre o pecado, e a exclusão de bebês
inocentes do céu não parecia refletir o amor especial
que Cristo tinha pelas crianças". O documento considera
que o conceito de limbo refletia uma "visão
excessivamente restritiva da salvação".
Segundo seus autores, "Deus é piedoso e quer que todos
os seres humanos sejam salvos". E aduziram: "Nossa
conclusão é que os vários fatores que analisamos
fornecem uma base teológica e litúrgica séria para
esperar que os bebês não batizados que morrerem sejam
salvos".
Em face deste novo entendimento da Igreja, os bebês que
morrem sem batismo são considerados inocentes e sua
destinação, portanto, passa a ser o céu, verificando-se
o mesmo com os chamados infiéis, ou não batizados, desde
que tenham levado uma vida justa.
Quanto ao entendimento espírita acerca do limbo e sua
finalidade, tal como fora ensinado antes de 2007, Kardec
é objetivo e muito claro:
“A simples lógica repele uma tal doutrina em nome da
justiça de Deus, que se contém integralmente nestas
palavras do Cristo: ‘A cada um, segundo as suas obras’.
Obras, sim, boas ou más, porém praticadas voluntária e
livremente, únicas que comportam responsabilidade. Neste
caso não podem estar a criança, o selvagem e tampouco
aquele que não foi esclarecido.” (O Céu e o Inferno,
Primeira Parte, cap. IV, itens 7 e 8.)