Deus em nós
O amoroso Mestre Jesus revelou-nos que o “Reino de Deus”
está dentro de nós (Lucas 17:21), o que foi ressaltado
pelo “Apóstolo dos Gentios”, Paulo, arrematando: “Acaso
não sabeis
que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo que está
em vós, o qual tendes da parte de Deus e que não sois de
vós mesmos?”. (1 Coríntios 6:19)
No momento de nossa formação na Eternidade, o Excelso
Criador nos concedeu imensidade de potencialidades, as
quais são despertadas e exteriorizadas, nas inumeráveis
reencarnações, ascendendo os seres paulatinamente os
degraus sublimes da evolução espiritual. Portanto, Deus
vive em nós e o Seu Absoluto Amor será ainda
inteiramente vivenciado, concedendo-nos sem-fim as
dádivas da felicidade e da paz.
Avançando no crescimento espiritual, depois da eclosão
da razão e da responsabilidade, com todo o seu
contingente de elementos morais, sobressaindo as bases
seguras do raciocínio e da intelecção, exterioriza-se a
intuição, expressão mais pura do “Eu Superior” ou
“Centelha Divina em nós”. Então, com a razão intelectual
cedendo lugar à intuição, a busca da verdade mediante a
análise será percebida interiormente através da síntese.
Exemplificando a manifestação da faculdade intuitiva,
citamos primeiramente duas passagens da Bíblia: 1- O
Evangelho de Mateus (16: 13-17) faz menção ao episódio
significativo do afloramento do poder intuitivo dos
discípulos,
suscitado por Jesus, quando o Mestre lhes pergunta: "Quem
os homens dizem que o Filho do homem é?” Eles
responderam: Alguns dizem que é João Batista; outros,
Elias; e, ainda outros, Jeremias ou um dos profetas. E
vocês?, perguntou ele, quem vocês dizem que eu sou?
Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do
Deus vivo". Respondeu Jesus: "Feliz é você,
Simão, filho de Jonas! Porque isto não lhe foi revelado
por carne ou sangue, mas por meu Pai que está nos céus”
(os grifos são nossos).
Naquele momento, em Pedro, manifestava-se a intuição. O
“Eu interior” do discípulo exteriorizava-se,
testemunhando a realidade da presença do “Ungido”, o
Messias prometido no seio terreno.
Jesus, depois, advertiu a seus discípulos que não
contassem a ninguém que ele era o Cristo.
A seguir, confirma o Mestre a revelação intuitiva de
Pedro e acrescenta: “Também eu te digo que tu és Pedro,
e sobre esta pedra edificarei a minha igreja...” (Mateus
16:18)
Algumas considerações podem ser explanadas:
Primeiramente, o Mestre, com essas palavras endereçadas
a Pedro, reafirma que o Cristianismo seria por
excelência a religião da fé e da intuição, alicerçada na
pedra, símbolo da presença viva de Jesus no íntimo de
cada ser. Por sua vez, o termo latino “ecclésia”
(convocação) foi traduzido erroneamente como igreja,
desde que as
primeiras comunidades cristãs não tinham semelhanças com
as religiões organizadas: não possuíam templos, nem
pompas, nem rituais, nem dogmas, nem sacerdócio
remunerado. Estavam bem próximas, em verdade, das
atividades realizadas hodiernamente nos centros
espíritas;
2- O último exemplo vem do Evangelho de João, exatamente
no capítulo 11, versículos 51-52, quando, em uma reunião
do Sinédrio, Caifás, o sumo sacerdote, afirma que “Jesus
morreria pela nação judaica, e não somente por aquela
nação, mas também pelos filhos de Deus que estão
espalhados, para reuni-los num povo”.
O evangelista ressaltou que o religioso “não disse isso
de si mesmo”. Certamente, afastando a possibilidade da
mediunidade, podemos enfatizar que, naquele momento, o
“Cristo Interno” ou “Eu Divino” de Caifás se projetava,
afirmando algo que se encontrava armazenado nos refolhos
mais íntimos do seu ser.
Felizes são as criaturas que, em decorrência da evolução
espiritual, através das sucessivas reencarnações,
apresentam, com maior facilidade, lampejos do
“inconsciente puro” ou zona mais interna do psiquismo,
como aconteceu com célebres personalidades, como Carl
Gustav Jung, eminente psicanalista, discípulo de Freud,
que, entrevistado pela BBC de Londres, já idoso, exibe
diante de todos os ouvintes sua marcante faculdade
intuitiva. Foi-lhe perguntado se acreditava em Deus, e o
insigne cientista afirmara: “Eu não acredito em Deus. Eu
sei!”
Sabemos que acreditar é uma coisa, já saber é outra bem
diferente. Jung tinha certeza da existência da
Divindade, porquanto ele a sentia dentro de si mesmo, de
antemão conquistara o “Reino de Deus” que está dentro de
nós.
Jesus disse a Tomé: ”Porque me viste, creste?
Bem-aventurados os que não viram e creram” (João 20:29).
Outro ser intuitivo foi Jean-François Champollion,
famoso decifrador da escrita hieroglífica e que, desde
os 10 anos de idade, era chamado de “O Egípcio”, pelo
motivo de ostentar aspecto físico semelhante a um árabe
e por devotar profunda identidade com as coisas do
Antigo Egito.
Na casa do conhecido físico e matemático Joseph Fourier,
o menino Champollion, com 11 anos de vida, observando as
vetustas inscrições egípcias, perguntou ao Professor se
alguém podia decifrá-las, recebendo, de imediato, a
negativa do sábio. Pois bem, das profundezas do seu
psiquismo, exteriorizou-se uma profunda determinação,
afirmando que, dentro de alguns anos, “quando for
grande, eu os lerei”.
Mais tarde, saindo da adolescência, é aclamado membro da
Academia de Grenoble. Voltando a Paris, na carruagem,
junto com seu irmão, mais uma vez reafirma a certeza de
que decifraria os hieróglifos, o que verdadeiramente
aconteceu. Ele sabia intuitivamente que tinha domínio da
escrita antiga dos habitantes do Nilo, possibilitando
ressuscitar o pensamento dessa estranha e mística
civilização, trazendo para o presente a grandeza de uma
época transata.
Outra personalidade eminente da arqueologia foi o alemão
Heinrich Schliemann, o qual, assim como Champollion, era
portador igualmente da faculdade intuitiva. Aos 7 anos
de idade, vendo uma gravura a respeito da guerra de
Troia e cientificado pelo seu genitor da incerteza de
realmente ter existido tal fato, o ardoroso menino,
circunspecto, exclamou que descobriria a cidade de Páris
e Priamo. Pois bem, dedicou toda a sua vida nessa tão
aguardada empreitada e tudo que se relacionasse com a
Antiga Grécia chamava a atenção do idealista alemão.
Em 1868, com 46 anos de vida, abandona seus negócios e
parte para a Grécia. Dominando inteiramente a língua
grega, parecia um nativo e, à vontade, se comportava
como um verdadeiro helênico. Seu desejo era encontrar
Troia e, quando se deparou com a colina de Hissarlik,
intuitivamente sabia ser ali o lugar onde se encontrava
submersa a tão amada cidade, a qual, desde criança,
tinha certeza de encontrar.
Escavando nesse monte, impulsionado pela vontade férrea
de provar algo que sabia ter existido, Schliemann
descobriu nove cidades subterrâneas, estando Troia
situada nas ruínas de uma delas. O que se pensava ser
ficção era realidade. Através do idealista arqueólogo
alemão, o historiador Homero, com sua Ilíada e Odisseia,
foi legitimado.
Através da intuição, “Deus dentro de nós” se corresponde
com “Deus em tudo”, penetrando na essência dos fatos e
das realidades.
Portanto, trata-se de uma capacidade psíquica
inconsciente poderosa e profunda, emergindo no mundo
consciente, aflorando à mente espontaneamente, sem
qualquer transmissão exterior.
Nota do Autor:
Para mais subsídios referentes ao tema em tela, sugiro
leitura da obra de minha autoria intitulada
“Reencarnação-questão de lógica”, publicado pela Editora
EME.
|