Engajamento no bem
Uma confreira muito querida relatou-me há alguns dias
atrás um episódio lamentável concernente à ausência de
solidariedade humana. Morando em São Paulo, uma cidade
que possui uma frota de aproximadamente 14.500 ônibus, a
maior de todas as cidades do planeta, aliás, é difícil
se deslocar para algum lugar sem a utilização desse meio
de transporte. Embora a malha metroviária venha sendo
expandida, a velocidade e o passo como se dá tal esforço
estão muito aquém das necessidades da população.
Posto isto, a minha amiga estava sentada em um dos
bancos da frente de determinado ônibus rumo ao Bairro de
Pinheiros. Ao parar em certo ponto, o motorista, de
meia-idade, foi inquirido por uma mulher se aquela linha
passava pelo Hospital das Clínicas, e ele secamente lhe
respondeu:
“- Não passa. Pegue outro que vai para lá...”
Não dando oportunidade a qualquer outra indagação,
simplesmente fechou a porta e seguiu viagem. Ocorre que
aquela linha de ônibus, exatamente como muitas outras
que vão naquela direção, passa exatamente na esquina da
rua onde se localiza o famoso hospital, pois não há uma
condução específica que trafegue pelo complexo. Ao notar
a imprecisão da informação, já com o veículo em
andamento, minha amiga e outra passageira questionaram o
motorista. E este sem titubear respondeu abrupta e
surpreendentemente:
“- Não sou pago para dar informações. Sou muito mal pago
para dirigir, e só isso!”
Diante da grosseria do condutor do veículo, elas acharam
melhor nada mais dizer. Basicamente, o infeliz motorista
expressou uma tendência global preocupante, ou seja:
a falta de engajamento no trabalho. A propósito,
pesquisa do Instituto Gallup conduzida em 142 países
revelou que apenas 13% dos trabalhadores estão
psicologicamente comprometidos com os seus empregos e
provavelmente contribuindo positivamente para as suas
organizações. Com efeito, o construto (ideia) do
engajamento no trabalho tornou-se importante medida de
avaliação de comprometimento nos últimos anos. Em
essência, ele indica o quão alinhados estão os
empregados às metas e objetivos das suas empresas.
É evidente que pessoas descontentes com o seu trabalho
têm o legítimo direito de procurar algo mais adequado
aos seus interesses e aspirações. Contudo, é
incompreensível o comportamento negligente,
irresponsável, destrutivo e displicente de
trabalhadores. Nada justifica tal conduta. O caso em
questão se enquadra nessa sombria realidade.
Portanto, expandindo o pensamento acima é possível
cogitar a conceituação do engajamento no bem.
Afinal de contas, diariamente somos defrontados por
situações e eventos que demandam de nossa parte alguma
ação benéfica. Com relação a isso, o Espírito Emmanuel,
no livro Vinha de Luz (psicografia de Francisco
Cândido Xavier), oferece-nos o argumento de que: “...
diante do Senhor, o problema fundamental de nosso
Espírito é a transformação para o bem, com a elevação de
todos os nossos sentimentos e pensamentos”.
Desse modo, na condução, no ambiente de trabalho, na
escola, na relação familiar, enfim, somos sempre
convidados a agir sob a diretriz do bem. Reclamamos com
bastante veemência, na atualidade, da maldade que grassa
na Terra. Nesse sentido, é verdade que estamos
atravessando um período extremamente delicado na
história desse orbe de Deus. Por conseguinte, não é
incomum nos depararmos com a falta de respeito,
consideração, empatia, compaixão em nossos contatos com
os indivíduos e instituições.
Mas, se tal estado de coisas está tão intensamente
presente na Terra, é porque as criaturas humanas não
seguem a bússola do bem. Dito de outra forma, a
necessidade da prática do bem ainda não está
suficientemente internalizada no íntimo das pessoas. Não
raro, lembramo-nos do bem apenas quando precisamos dele.
Mas não o aplicamos quando as situações assim o
exigem... Segue daí o predomínio do mal no mundo.
Emmanuel com acerto observa também, na obra Caminho,
Verdade e Vida (psicografia de Francisco Cândido
Xavier), que “O mal, portanto, não é essencialmente do
mundo, mas das criaturas que o habitam”. E complementa o
seu raciocínio explicando que: “A Terra, em si, sempre
foi boa. De sua lama brotam lírios de delicado aroma,
sua natureza maternal é repositório de maravilhosos
milagres que se repetem todos os dias”. Apesar das
dificuldades e desafios – típicos de um mundo
convulsionado pelos excessos e males de toda ordem –
colocados às criaturas, há sempre espaço para o
exercício do bem.
Como igualmente elucida Emmanuel no referido livro:
“De nada vale partirmos do planeta, quando nossos males
não foram exterminados convenientemente. Em tais
circunstâncias, assemelhamo-nos aos portadores humanos
das chamadas moléstias incuráveis. Podemos trocar de
residência; todavia, a mudança é quase nada se as
feridas nos acompanham. Faz-se preciso, pois, embelezar
o mundo e aprimorá-lo, combatendo o mal que está em
nós”.
Definitivamente, precisamos que o imperativo do bem
permeie todas as esferas e setores da vida para
eliminarmos de vez o mal do mundo. Com certeza, é uma
tarefa gigantesca, mas absolutamente viável desde que
cada um de nós se engaje, com todas as forças da alma, a
essa causa.
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