O Resgate Histórico de
A Gênese:
síntese
do Seminário de São Paulo
O
Seminário “150 anos de
A Gênese
- O Resgate Histórico”, desenvolvido no
dia 4 de março, pela
União das Sociedades
Espíritas do Estado de São Paulo (USE-SP), em parceria
com o Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do
Espiritismo – Eduardo Carvalho Monteiro, Liga de
Pesquisadores do Espiritismo (LIHPE) e Site Autores
Clássicos Espíritas, teve como expositora Simoni Privato
Goidanich. Esta se reportou às pesquisas contidas no seu
livro “El legado de Allan Kardec”, editado em
outubro de 2017 na Argentina e lançado durante o
Seminário, em português, editado pela USE-SP e pelo
CCDPE.1
Houve transmissão ao vivo pela Rede Amigo Espírita e por
web rádios.
A prece de abertura foi
proferida por Sandra Moraes (Amazonas) e a de
encerramento por Heloísa Pires (São Paulo).
Louvamos a iniciativa da
Confederação Espírita Argentina que no ano de 2017
editou A Gênese, de Allan Kardec, traduzida para
o espanhol da 1a edição francesa de
1868; apoiou e editou o livro “El legado de Allan
Kardec” e teve a iniciativa de levar o alerta e
informações das providências para reunião do Conselho
Espírita Internacional, ocorrida em Bogotá em outubro de
2017. Destacamos que Gustavo N. Martínez, presidente da
Confederação Espírita Argentina, não podendo comparecer
ao evento de São Paulo, encaminhou atenciosa carta para
a presidência da USE-SP.
O evento foi aberto pela
presidente da USE-SP Júlia Nezu Oliveira, seguindo-se a
exposição feita pela convidada, o lançamento de O
legado de Allan Kardec, em português, e um painel,
com atuação dos representantes das quatro entidades
promotoras e perguntas emanadas do plenário, contando
com nossa coordenação.
Na apresentação de Simoni
e no painel vieram à tona fatos sobre as alterações
ocorridas na 5ª edição francesa (1872) de
A Gênese. Na pesquisa documental da autora fica
claro que as alterações do texto publicado por Kardec em
La genèse
foram feitas na quinta edição, registrada apenas em
dezembro de 1872, ou seja, mais de três anos depois da
desencarnação do Codificador. As quatro edições
registradas por Kardec, datadas de 1868, têm o mesmo
conteúdo e são a versão definitiva da obra.1
No livro objeto do
Seminário ficam evidentes as alterações de propósitos da
Sociedade Anônima para a Continuação das Obras Espíritas
de Allan Kardec, e também na linha editorial da
Revista Espírita. O livro
O legado de Allan Kardec
reúne informações e documentações sobre as primeiras
décadas em seguida à desencarnação de Allan Kardec,
sendo um rico repositório da história do movimento
espírita francês. Avulta o valor de Amélie Boudet, Léon
Denis, Gabriel Delanne e Berthe Fropo.
Além da iniciativa
pioneira da Argentina, em fevereiro de 2018 foi lançada
a versão original de A Gênese, em francês, pelo
Movimento Espírita Francofônico. Há providências
editoriais correlatas no Uruguai e Colômbia. Em nosso
país, com exceção da edição do Centro Espírita Léon
Denis, do Rio de Janeiro, todas as edições de A
Gênese são traduções da 5ª edição francesa (1872),
exatamente a que altera as edições iniciais produzidas
por Kardec. Em nossos dias há informações de que várias
editoras brasileiras estariam providenciando traduções
das edições francesas (1ª. a 4ª.) de A Gênese.
Fato inusitado, no
transcorrer do Seminário, foi a informação feita por
Fernando Porto, responsável por um dos departamentos da
USE-SP, de que a tradução para o esperanto de A
Gênese, lançada pela Editora da FEB no ano de 2003,
adotando a 5ª. edição francesa, eliminou também a última
e significativa frase do item 66 do capítulo XV: “Jesus,
pois, teve, como todo homem, um corpo carnal e um corpo
fluídico, o que é atestado pelos fenômenos materiais e
pelos fenômenos psíquicos que lhe assinalaram a
existência.”2,3
Também marcante foi a
comunicação do vice-presidente da Federação Espírita do
Amapá e membro do Ministério Público, Manoel Felipe
Menezes da Silva Júnior,
sobre o texto jurídico de autoria dele e do dr. Auriney
Uchoa de Brito, doutor em Direito, professor de Direito
e vice-presidente da OAB-Amapá,
a propósito de estudos relacionados com direito
autoral, direito moral e estudo comparativo com a
legislação francesa da época de Kardec.
O Seminário da USE-SP
representou um momento criativo e histórico para se
comemorar o sesquicentenário de A Gênese, sendo
um passo importante para se assegurar a fidedignidade
das obras do Codificador.
A propósito de alterações
e/ou deturpações, não cabem incriminações, mas o
compromisso de se restabelecer fatos e textos
autênticos. O importante é que surjam edições em
português a partir de traduções das edições de A
Gênese registradas por Allan Kardec.
Torna-se oportuna a
lembrança da obra Na hora do testemunho (Ed.
Paideia), uma parceria de Herculano Pires com Chico
Xavier, em que se denuncia um triste incidente ocorrido
no meio espírita brasileiro: a adulteração de O
Evangelho segundo o Espiritismo, levada a efeito por
uma editora, em julho de 1974. Destaca Herculano Pires:
“O médium Francisco Cândido Xavier, apesar de sua
costumeira isenção em polêmicas doutrinárias, acabou
manifestando-se contra a adulteração e tomou posição
firme e clara na defesa dos textos de Kardec. A maioria
dos chamados líderes espíritas não se manifestou. A hora
do testemunho provara mal, revelando a falta de
convicção da maioria absoluta, e portanto esmagadora, do
chamado movimento espírita brasileiro. Mas os resultados
foram se manifestando mais tarde, com um crescente
interesse do meio espírita pelas obras de Kardec em
edições insuspeitas.”4
Após a síntese do
Seminário, passamos a realçar o significado de A
Gênese para o momento atual, apontando como
imprescindível o estudo dessa Obra Básica, não apenas de
textos comparativos de edições, mas do significativo
conteúdo geral do livro.
Com
A Gênese completa-se o quinto volume das chamadas
Obras Básicas da Codificação. Kardec discorre sobre
questões destacadas no subtítulo: os milagres e as
predições segundo o Espiritismo; e analisa a Gênese de
acordo com as leis da Natureza e a interpretação
espírita.
Realçamos a importância do
capítulo “Fundamentos da Revelação Espírita”, em que
Kardec faz abordagens
fundamentais e de que destacamos a
significativa colocação:
"[...] o que caracteriza a revelação espírita é que
a sua origem é divina, que a iniciativa pertence aos
espíritos e que a elaboração é o fruto do trabalho do
homem”
(Cap. I, item 13).3
Essa afirmação mostra a responsabilidade dos
encarnados, notadamente nas condições de liderança,
gestão nas instituições e as ações do movimento
espírita. O Mundo Espiritual orienta, mas as decisões
dependem de nossas escolhas.
No livro recém-lançado de
Simoni Privato Goidanich há o alerta: “A
responsabilidade ante o legado de Allan Kardec é de
todos os espíritas, e cada um herdará as consequências
de seus atos e de suas omissões”.1
É o que ocorre neste
momento quando se manifestam espíritas preocupados com a
fidelidade à obra de Kardec e com o movimento espírita.
O Codificador discorre
sobre a relação entre Espiritismo e Ciência e realçamos
o seu cuidado no tratamento de temas relacionados com as
diversas áreas do conhecimento, sem detalhá-los em
demasia, fazendo com que sua obra seja atual e não
ultrapassada.
O antigo professor Rivail,
intelectual e inspirado, analisou o desenvolvimento do
planeta e da civilização procedendo a uma analogia dos
chamados dias bíblicos com os períodos geológicos e de
maneira totalmente diferenciada das religiões
tradicionais. E comenta a posição da Terra no amplo
contexto do Cosmo.
Na Introdução, Kardec diz
que o livro é “um complemento das aplicações do
Espiritismo, de um ponto de vista especial”. Assim, se
em O evangelho segundo o espiritismo o
Codificador destacou o ensino moral, em A Gênese
ele comenta que “os fatos relatados no Evangelho e que
foram até agora considerados miraculosos pertencem, na
sua maioria, à ordem dos fenômenos psíquicos, isto é, os
que têm como causa primeira as faculdades e os atributos
da alma” (Cap. XV, item 1).3
O perispírito é abordado
em vários capítulos do livro, clareando explicações
sobre os fenômenos mediúnicos, os chamados “milagres” e
as aparições de Jesus, descortinando-se o mundo
espiritual.
Afirma que “Jesus teve,
como todo homem, um corpo carnal” (Cap. XV, item 66)3
e trata da polêmica sobre o desaparecimento do corpo no
item 67, eliminado na 5ª. edição francesa.1,3
No capítulo XV aponta: “O
maior milagre que Jesus operou, o que verdadeiramente
atesta a sua superioridade, foi a revolução que seus
ensinos produziram no mundo, malgrado a exiguidade dos
seus meios de ação” (item 63).3
A transição planetária é
apreciada nos capítulos “As predições segundo o
Espiritismo” e “Os tempos são chegados”, em que ele
alerta que ainda
“falta um imenso progresso
a realizar: o de fazerem reinar entre eles a caridade, a
fraternidade e a solidariedade, para assegurar o
bem-estar moral.” A partir da expectativa dos
tempos chegados e de uma era nova, nada mais pertinente
do que se estudar o livro A Gênese.
A USE-SP lançou em 1975 a
Campanha Comece pelo Começo e agora lança o brado
do resgate histórico de A Gênese. No
sesquicentenário de A Gênese é o momento de
valorizarmos a citada Campanha, que enfatiza a
necessidade do estudo das obras do Codificador Allan
Kardec.
Referências:
1)
Goidanich, Simoni Privato.
O legado de Allan Kardec.
1.ed. São Paulo: USE/CCDPE. 2018. 447p.
2)
A Gênese em esperanto;
acesso em 04/03/2018.
3)
Kardec, Allan. Trad. Sêco,
Albertina Escudeiro. A gênese. 3.ed. Rio de
Janeiro: Ed. CELD. 2010. 488p.
4) Xavier,
Francisco Cândido;
Pires,
José Herculano.
Na hora do testemunho.
1. ed.
São Paulo:
Paidéia.
1974. 120p.
Antonio Cesar Perri de
Carvalho, ex-presidente da USE-SP e da FEB, foi o
coordenador do Painel no Seminário Resgate Histórico de
A Gênese.