As
previsões proféticas e o entendimento espírita
Estou fazendo com este artigo minha estreia na revista
O Consolador trazendo, para discussão, um assunto
considerado por muitos confrades como polêmico, mas que
me agrada muito, e que gostaria que refletíssemos
juntos.
É muito comum ouvirmos falar que os Espíritos superiores
nunca falam de datas exatas em suas previsões para
acontecimentos no mundo, pois sabem que tudo depende do
nosso livre-arbítrio. E, quando falam de períodos ou
datas, estes devem ser encarados como sendo prováveis,
não tendo o cunho da certeza. Utilizam como argumentação
lógica as informações contidas no livro A Gênese, de
Kardec (Cap. XVI, “Teoria da Presciência”, item
16).
O assunto referente às previsões voltou a ser muito
discutido, não somente no meio espiritualista, tendo em
vista não apenas o atual momento em que nós estamos
passando, quando muitos ouvem circular por aí
informações sobre o Apocalipse, a proximidade do fim do
mundo, do final dos tempos etc., mas, principalmente,
diante do lançamento de um livro que diz que Chico
Xavier revelou uma data limite, dizendo que não será em
2012, mas em 2019, o fim do velho mundo, mas que tudo
dependeria do livre-arbítrio da humanidade.
Contudo, lendo e estudando mais detalhadamente, com mais
calma e cuidado, as informações contidas em A Gênese e O
Livro dos Espíritos, de Kardec, e que falam sobre o
conhecimento do futuro, cheguei à conclusão de que
existe um plano geral traçado por Deus desde a
antiguidade, e que é sim possível que os homens tenham
conhecimento de datas/anos exatos, fornecidos por
Espíritos superiores, através de profetas ou médiuns que
cumprem uma missão especial no mundo, segundo a vontade
e a permissão de Deus, e que gostaria de compartilhar
com os amigos leitores.
Coloco, a seguir, algumas passagens daqueles livros
entre aspas, com alguns comentários meus.
Sobre as previsões dos acontecimentos futuros
importantes para o conjunto da humanidade e o papel
exercido pelos homens mediante o uso do seu
livre-arbítrio, Kardec leciona, dizendo que “os
acontecimentos que envolvem interesses gerais da
Humanidade (grifo meu)”, e que, deste
modo, fazem parte de um planejamento global, “têm a
regulá-los a Providência”, pois são originados de
uma determinação divina, estando consequentemente sob o
seu controle. Assim, “quando uma coisa está nos
desígnios de Deus, ela se cumpre a despeito de tudo, ou
por um meio, ou por outro”, pois senão onde estaria
a Sua onipotência e onisciência? A vontade de Deus não
pode ser frustrada, sendo impedida ou alterada por
imprevistos causados pelos homens! Por outro lado, os
“homens concorrem para que ela se execute”, podendo
não só causar resistências, tentando deter os seus
desígnios relativos à marcha do progresso, mas também
colaborar na sua execução (OLE, Parte Terceira, Cap. 10,
“Lei de Liberdade”, “Conhecimento do Futuro”,
questão 869), agindo como instrumentos da sua vontade.
Então “pode, portanto, ser certo (ou determinado)
o resultado final de um acontecimento (geral),
por se achar este nos desígnios de Deus; como, porém,
quase sempre, os pormenores e o modo de execução se
encontram subordinados às circunstâncias e ao
livre-arbítrio dos homens”, frutos dos seus
interesses particulares, “podem ser eventuais as
sendas e os meios (grifo meu)”, enfim,
ocasionais os caminhos e as circunstâncias como os
acontecimentos ocorrerão na prática.
Falando a respeito da permissão para que a
espiritualidade pudesse revelar as datas de
acontecimentos gerais para o cumprimento dos desígnios
de Deus, Kardec informou que “está nas possibilidades
dos Espíritos prevenir-nos do conjunto (grifo
meu)” ou do plano geral de Deus, “se convier
que sejamos avisados”, ou seja, caso seja permitido
(OLE, Parte Terceira, Cap. 10, “Lei de Liberdade”,
“Conhecimento do Futuro”, questão 870), conforme
ocorreu, por exemplo, na sublime missão do profeta
Daniel, que revelou muitas e belíssimas profecias, e que
tratam, segundo o meu ponto de vista, da previsão não só
da primeira vinda de Jesus, o Cristo, ao mundo, mas
também da vinda do novo Consolador, o Espiritismo, e do
início do processo de regeneração da humanidade,
conforme o Espírito Emmanuel também revelou através do
Chico, tendo o seu alvorecer por volta do ano de 2057.
Aliás, sobre a questão da existência ou não de um
planejamento divino, devemos pensar que, se nós, simples
homens, sabemos planejar as nossas coisas, quanto mais
podemos esperar um planejamento por parte de Deus, que é
perfeito em tudo que faz.
Prosseguindo, Kardec informou que, contudo, “para
determinarem lugar e data”, ou seja, revelar os
pormenores e como aqueles acontecimentos, que são frutos
da vontade dos homens, ocorrerão na realidade, “fora
mister conhecessem previamente a decisão que tomará este
ou aquele indivíduo”, o que, na prática, equivale
saber previamente onde e quando deverá ser o ponto de
partida ou de referência para as previsões dos
acontecimentos futuros. E, em seguida, concluiu,
dizendo: “ora, se essa decisão” a ser tomada
pelos homens “ainda não lhe estiver na mente, poderá,
tal venha ela a ser, apressar ou demorar a realização do
fato, modificar os meios secundários de ação, embora o
mesmo resultado chegue sempre a produzir-se”, pois a
vontade de Deus deverá ser sempre cumprida no decorrer
do tempo e independentemente da vontade e das ações
contrárias exercidas pelos homens, conforme o plano
geral previamente determinado. Logo, “é assim,
por exemplo, que, pelo conjunto das circunstâncias,
podem os Espíritos prever que uma guerra se acha mais ou
menos próxima, que é inevitável, sem, contudo, poderem
predizer o dia em que começará, nem os incidentes
pormenorizados que possam ser modificados pela vontade
dos homens” (A Gênese, Cap. XVI, “Teoria da
Presciência”, itens 13 e 14), pois estes pormenores
eventuais, originados das suas vontades particulares,
não fazem parte das questões que envolvem interesses
gerais da humanidade. Enfim, eles não fazem parte
daquele planejamento global de Deus.
Quanto à dificuldade de determinação de datas para as
previsões de acontecimentos futuros pelos Espíritos,
Kardec explicou que “para determinação da época dos
acontecimentos futuros, será preciso, ao demais, se leve
em conta uma circunstância inerente à natureza mesma dos
Espíritos. O tempo, como o espaço, não pode ser avaliado”,
isto é, determinado, para a realização das profecias ou
das projeções temporais, “senão com o auxílio de
pontos de referências” ou datas iniciais de partida
“que o dividam em períodos que se contem”, como,
por exemplo, através de dias, semanas, meses, anos,
milênios etc. Na sequência, explicou que, “na Terra,
a divisão natural do tempo em dias e anos tem a marcá-la
o levantar e o pôr-do-Sol”, conforme o movimento de
rotação, “assim como a duração do movimento de
translação do planeta terreno” em torno do Sol, que
é de cerca de 365 dias. “Há, pois, para cada mundo,
um modo diferente de computar-se a duração, de acordo
com a natureza das revoluções astrais” ou dos ciclos
astronômicos “que nele se efetuam. Já haverá aí uma
dificuldade para que Espíritos que não conheçam o nosso
mundo determinem datas com relação a nós. Além disso,
fora dos mundos”, isto é, no mundo espiritual,
“não existem tais meios de apreciação. Para um Espírito,
no espaço, não há levantar nem pôr-do-sol a marcar os
dias, nem revolução periódica a marcar os anos; só há,
para ele, a duração e o espaço infinitos” (A Gênese,
Cap. XVI, “Teoria da Presciência”, item15).
Continuando, Kardec explicou que os “Espíritos, que
formam a população invisível do nosso globo, onde eles
já viveram e onde continuam a imiscuir-se na nossa vida,
estão naturalmente identificados com os nossos hábitos,
cuja lembrança conservam na erraticidade”, isto é,
no mundo espiritual. Eles “poderão, por conseguinte,
com maior facilidade, determinar datas aos
acontecimentos futuros, desde que os conheçam; mas, além
de que isso nem sempre lhes é permitido, eles se veem
impedidos pela razão de que, sempre que as
circunstâncias de minúcias estão subordinadas ao
livre-arbítrio e à decisão eventual do homem, nenhuma
data precisa existe realmente, senão depois que o
acontecimento se tenha dado”. Em seguida, ao
contrário dos acontecimentos que envolvem interesses
gerais, que são regulados ou determinados segundo a
inalterável vontade de Deus, Kardec, tratando dos
acontecimentos circunstanciais, justificou, dizendo que
este é o motivo pelo qual “as predições
circunstanciadas não podem apresentar cunho de
certeza e somente como prováveis devem ser acolhidas,
mesmo que não tragam eiva (ou marca) que as torne
legitimamente suspeitas. Por isso mesmo, os Espíritos
verdadeiramente ponderados nada nunca predizem para
épocas determinadas, limitando-se a prevenir-nos do
seguimento das coisas que convenha conheçamos (grifo
meu)” (A Gênese, Cap. XVI, “Teoria da
Presciência”, item 16). Observe bem que Kardec,
neste seu comentário, disse apenas que os Espíritos
verdadeiramente ponderados não costumam determinar
épocas ou datas para os fatos circunstanciais, isto é,
acessórios ou pormenorizados que se prendem a um
acontecimento ou a uma situação futura importante para o
conjunto da humanidade. Porém, por outro lado, quanto
aos acontecimentos que envolvem os interesses gerais
regulados por Deus, estes deverão necessariamente que
ter todo o cunho de certeza do seu cumprimento no tempo.
Estes não poderão ser considerados somente como
prováveis, mas como certos, pois foram determinados.
Desta forma, ao contrário do que alguns estudiosos, não
só espiritualistas, ainda entendem e defendem, existe
sim a possibilidade de ocorrer a revelação, pelos
Espíritos, de épocas e datas determinadas, ou seja, de
anos específicos, para a consumação futura de certos
acontecimentos que envolvem interesses gerais, e até
mesmo alguns particulares, caso haja a permissão de
Deus, mas a sua precisão somente poderá ser constatada
após o acontecimento do fato, ou seja, pelo evento
realizado na prática.
Tratando deste mesmo assunto e falando sobre as
revelações espirituais dos tempos proféticos, bem como
da dificuldade para a sua percepção quanto à duração e a
devida previsão de cumprimento no tempo, ou seja, para a
fixação de datas determinadas no mundo, Kardec, através
dos Espíritos, obteve o seguinte esclarecimento, e que
vem justificar toda a argumentação que foi apresentada
anteriormente:
“Questão 240 – Os Espíritos compreendem o tempo como
nós?
– Não. É por isso que vós
(os homens) também não nos compreendeis quando se
trata de fixar datas ou épocas”, isto é, de se
prever com exatidão as datas e a duração dos tempos
proféticos revelados por eles.
Em seguida, Kardec explicou que “a ideia e a ação do
tempo”, isto é, a percepção da sua duração “para
os Espíritos não são como nós os compreendemos”,
pois eles vivem como que fora do tempo normal do nosso
mundo, assim como nós o conhecemos. E que “o
tempo, para eles, é nulo, por assim dizer”, porque a
duração normal do tempo é como se deixasse de existir
para eles. Assim, “os séculos, tão longos para nós,
são, a seus olhos”, ou seja, segundo as suas
percepções espirituais, “apenas instantes que se
perdem na eternidade”, enfim, apenas um pouco de
tempo (Jo 16:16), pois não transcorre da mesma maneira,
segundo a percepção dos homens, e, deste modo, poderemos
ter uma ideia a respeito, comparativamente, assim
“como o relevo do solo (que) se apaga e
desaparece para quem o vê de longe quando se eleva no
espaço” (O Livro dos Espíritos, Cap. 6, “Vida
Espírita”, “Percepções, Sensações e Sofrimentos
dos Espíritos”, questão 240).
Wallace Santos de Oliveira é escritor, pesquisador e
palestrante espírita nas cidades de Belo Horizonte e
Contagem (MG).