Divaldo Franco: “O amor, o perdão e a caridade moral
devem viger entre os espíritas”
A frase acima sintetiza o recado que o estimado médium e
orador transmitiu no encontro com dirigentes espíritas
realizado em Pinhais, no dia 15 de março, na véspera da
abertura oficial da Conferência Estadual Espírita
realizada nos dias 16 a 18 de março na mesma localidade.
O encontro, promovido pela Federação Espírita do Paraná,
representada no ato por seu presidente, Adriano Lino
Greca, e seus dois vice-presidentes, Luiz Henrique da
Silva e Nélio Mauro Aguirre de Castro, contou com a
participação de dirigentes de mais de 80 Centros
Espíritas e Entidades Associadas. Calcado em perguntas
previamente elaboradas, Divaldo Franco teve a
oportunidade de colaborar, esclarecendo à luz da
Doutrina Espírita, dos ensinamentos de Jesus e de sua
própria experiência adquirida ao longo de mais de sete
décadas, apresentando reflexões doutrinárias sobre a
caridade, o acolhimento, o amor ao próximo, o perdão, a
ética e a moral.
As judiciosas informações e considerações tiveram por
objetivo o aperfeiçoamento moral dos espíritas, o que
por sua vez se reflete no Centro Espírita, com
consequências na sociedade humana. Carinhosamente
recebido, e após longo trabalho, Divaldo Franco foi
demoradamente aplaudido, atestando o mútuo amor nutrido
pelo tribuno baiano e pelo movimento espírita
paranaense.
No dia seguinte, à noite, verificou-se a abertura da XX
Conferência Estadual Espírita, promovida pela Federação
Espírita do Paraná, a qual, ao longo de suas edições,
tem alcançado um número quase incalculável de Espíritos
nos dois planos da vida. A fraternidade e o acolhimento,
prestando inigualável atendimento, são características
facilmente percebidas. O importante evento realizou-se
no Centro de Convenções Expotrade, em Pinhais,
região metropolitana de Curitiba, reunindo cerca de
40.000 participantes.
Participaram da Conferência expositores de renome em
nosso país. Divaldo Pereira Franco, Alberto Almeida,
Haroldo Dutra Dias, Sandra Borba Pereira e Sandra Della
Pola discorreram sobre assuntos de grande relevância nos
três dias em que se desenvolveu a parte final da
Conferência, iniciada, como vimos anteriormente, no dia
12 de março.
Sob o tema Construindo o Mundo do Amanhã, a obra
basilar A Gênese, publicada originalmente em 6 de
janeiro de 1868, foi enaltecida pelo transcurso dos seus
150 anos de lançamento, trazendo luzes aos homens
sedentos de saber. Registre-se a presença na mesa
diretora do evento do presidente da Federação Espírita
Brasileira, Jorge Godinho Barreto Neri.
O Coral do Centro Espírita Ildefonso Correia apresentou
riquíssimo recital, embalando em suaves e melodiosas
vibrações os milhares de presente nesta magnífica
atividade de congraçamento.
Arthur Lins de Vasconcellos Lopes (27 de março de 1891 -
21 de março de 1952), assumiu a Presidência da FEP pela
primeira vez em 1916, retornando a esse cargo, por
eleição, mais cinco vezes. Além de ocupar várias
diretorias, foi secretário e tesoureiro. Quando precisou
renunciar ao cargo de Presidente, em 1929, em virtude da
sua transferência para o Rio de Janeiro, foi aclamado
Presidente Honorário da FEP, dados os relevantes
serviços prestados. Esse extraordinário espírita foi
belamente homenageado, tendo sido a sua história e
dedicação ao movimento espírita brasileiro relembrada.
Erick de Almeida, caracterizado de Lins de Vasconcellos,
apresentou-se narrando a sua saga, historiando
sinteticamente o início do movimento espírita unificado
e o ingente trabalho de construção da união dos
espíritas brasileiros.
José Raul Teixeira, convidado especial, foi homenageado
pela sua trajetória no campo da mediunidade e no
trabalho de divulgação da Doutrina Espírita, sob a
orientação segura de seu guia espiritual Camilo. São 50
anos de mediunidade. Materializando o fato, foi-lhe
ofertada uma placa externando a gratidão dos espíritas
paranaenses.
Conferência de abertura
– Abordando o tema Os Tempos são Chegados,
Divaldo Franco destacou que a humanidade vive momentos
paradoxais. O homem busca construir a sua plenitude, e
nesse afã nem sempre age consoante as leis divinas,
amealhando para si algumas perturbações. A filosofia tem
buscado responder o que é a vida, a razão para o
sofrimento, o destino do homem. Ainda sob o véu de
maya, o seja a ilusão, o homem confunde-a com a
realidade. Desde os filósofos pré-socráticos aos atuais,
as respostas para a ânsia de viver retamente estão em
constante construção. A busca pela estética, a não
materialidade, a alegria perfeita de viver, ocupam as
mentes e corações de muitos que buscam sair de sob o
manto dessa ilusão enganadora. O ideal da beleza só
pode ter a alegria se estiver alicerçada na ética.
(Cristiane Beira)
O homem, criatura inteligente da Criação Divina, vem
tentando ao longo dos séculos, com o auxílio da ciência,
dar respostas satisfatórias as suas indagações íntimas,
em um ingente esforço de autoconhecimento. Nesse
crescente vir a ser a criatura humana realiza as suas
experiências, nem todas bem-sucedidas, na construção do
ideal de libertação, construindo-se melhor,
continuadamente.
Líderes e liderados se apresentam para as conquistas
almejadas, e todos aqueles que fixaram seus objetivos
nas expressões do poder temporal e na materialidade,
sempre de curso transitório, não lograram êxito. Jesus,
o incomparável Mestre, com sua mensagem de AMOR,
sinalizou o caminho seguro para desvendar a realidade do
ser, dentro de toda a sua complexidade, isto é,
desenvolver o amor incondicional, a compaixão, a
solidariedade e outras virtudes tão necessárias. A
Doutrina Espírita, trazida aos homens pelas nobres
entidades porta-vozes de Jesus e codificada pelo ínclito
Allan Kardec, apresenta respostas e orientações de
grande alcance para que o homem viva em harmonia, tão
plena quão possa esse mesmo homem compreender-se.
A ciência vai se ampliando através de homens e mulheres
notáveis que desvendam incógnitas, apresentando caminhos
para o estabelecimento do progresso, quer no campo
filosófico ou material. O Espiritismo, porém, remontando
às causas, vai além do ponto onde a ciência acadêmica se
deteve, e apresenta respostas e aponta caminhos seguros
para que a criatura humana se plenifique através da
caridade, a ação por excelência do amor. O Espiritismo é
o Consolador Prometido conforme registra João
Evangelista (Cap. XIV, 16, 17, 18 e 25 e 26).
Deus está no homem. Essa sentença está sendo equacionada
pelas conquistas científicas do homem. A presença do
Criador no ser humano, e no Universo, a pouco e pouco
vai sendo demonstrada, até que não reste nenhuma dúvida,
corroborando as imorredouras lições do Mestre Galileu e
do Espiritismo.
A mensagem gloriosa de Jesus avança e apresenta os
princípios éticos/morais a serem vividos pelos homens de
todas as latitudes, construindo a fraternidade universal
alicerçada no amor. Não fazer a outrem o que não deseja
lhe seja feito é a atitude segura para uma vida
plenificada, foi a orientação amorosa e acolhedora de
Jesus. Na singeleza do monte, Jesus cantou as
Bem-aventuranças, as mais belas sinfonias. Jesus é a
resposta de Deus aos homens ávidos de amor, de ternura.
Jesus veio libertar almas. Essa é a missão do
Espiritismo. O Espiritismo é Jesus de volta entre os
homens. A ternura e a docilidade são necessárias para
esses tempos atuais de turbulências de toda ordem. A
vida possui um significado psicológico. Jesus está em
nós através do amor, da solidariedade que se manifestam
nos diversos exercícios da vida, nos indivíduos, nas
famílias, na sociedade humana. O progresso é inexorável,
e o ser humano, a cada nova geração, se renova e se
apresenta mais bem equipado nos campos da ética e da
moral.
São chegados os tempos, a ilusão e a fantasia, ou seja,
o véu de Maya, vão sendo transformadas em ações
de amor, progredindo sempre, inexoravelmente. Jesus nos
espera! Francisco de Assis, cantando as
Bem-aventuranças, enalteceu a alma imortal, a natureza
em toda a sua exuberante plenitude, sinalizando ao homem
atento que os tempos novos exigem transformações íntimas
em profundidade.
Assim finalizou o insigne orador de Feira de Santana,
que com seus 90 anos de idade, doando-se inteiramente ao
seu próximo, é um exemplo de retidão e de incondicional
amor, superando limites impostos até mesmo pela dor
física e moral. Os milhares de presentes se puseram de
pé, reverentes, aplaudindo intensamente o trator de
Deus, conforme Chico Xavier ou o Semeador de
Estrelas, cunhado por Suely Caldas Schubert.
Encontro com os Jovens
– No dia seguinte, 17 de março, Divaldo Franco, além dos
autógrafos, desincumbiu-se de mais três atividades
doutrinárias: um encontro com os jovens espíritas, uma
entrevista para a Band TV e a conferência da noite.
No momento jovem, Divaldo Franco, solícito, e atendendo
programação com a juventude paranaense, respondeu
perguntas adrede preparadas pelo movimento espírita
juvenil. Reuniu-se com os representantes selecionados,
contemplando a totalidade das instâncias juvenis do
Paraná, apresentando judiciosas reflexões acerca dos
assuntos da atualidade e que, em geral, preocupam os
jovens que buscam viver retamente, exercendo as
habilidades e aquisições intelectuais na prática do
dever de amar-se, amando o próximo.
Respondendo sobre o grande número de suicídios entre os
jovens, Divaldo citou uma frase de Mahatma Gandhi:
Se um único homem alcançar a mais elevada qualidade de
amor, isso será suficiente para neutralizar o ódio de
milhões. A Organização Mundial de Saúde, em suas
projeções, afirma que até o ano de 2025 a primeira causa
de mortes será o suicídio, causado pela depressão. A
maior incidência está na faixa dos 14 aos 25 anos de
idade. A solidão interior, os conflitos sexuais, o
número exagerado de informações e as problemáticas
relativas à juventude são fatores desencadeantes para o
suicídio.
Essa ocorrência permeia a sociedade humana em todos os
quadrantes do planeta. Segundo Rollo Reece May,
(1909 - 1994) a sociedade elegeu como parâmetros para a
felicidade três fatores: o individualismo, o
sexismo, e o consumismo. Na busca do prazer, a
criatura humana busca satisfazer, tão somente, os
sentidos físicos e, por não encontrar a felicidade, a
alegria, o afeto, entra em melancolia, deprime-se. Por
outro lado, ao viver os sentimentos, que são os da alma,
o indivíduo plenifica-se. As relações afetivas sadias
vividas no seio familiar e social sustentam o ser humano
nas conquistas de ordem elevada. A religiosidade, a
prática da oração é capaz de lograr êxito ante o
suicídio.
Ilustrando a fragilidade do homem, com alicerce nas
imperfeições morais, Divaldo narrou uma experiência
vivida em sua juventude, quando, ante uma frustração,
pensou no suicídio, sendo inclusive estimulado por um
Espírito desencarnado a realizá-lo. Com essa
experiência, Divaldo Franco alertou, assim,
especificamente para as influências espirituais
perniciosas. Cada jovem, cada ser humano, deve
permanecer atento aos bons e aos maus pensamentos que os
visitam. As ideias negativas devem ser prontamente
rechaçadas, substituindo-as por pensamentos bons. Jamais
se deve alimentar uma ideia negativa. A morte do corpo
físico não livra o indivíduo de suas aflições, dores ou
infortúnios. O suicídio é um tremendo engano. Suicídio
nunca!
A participação nas manifestações políticas foi outro
ponto de destaque. O jovem espírita, aconselhou o nobre
tribuno, deve, em primeiro lugar transformar-se em
alguém melhor, e com isso melhorará o mundo em que vive.
As mudanças se darão de dentro para fora, nunca ao
inverso. Ante as ocorrências do mundo, adotar a conduta
que se coaduna com a Doutrina Espírita, atingindo um
nível de dignidade para tornar-se um líder.
A alimentação, a educação familiar, os estudos nos
Centros Espíritas, a vivência cristã, a autenticidade de
pensamentos e atos, as quedas morais, foram outros
tantos temas abordados cujo encaminhamento foi a estrita
observância e a conduta ilibada com base no Espiritismo.
O Semeador de Estrelas, sempre muito solicitado, ao
encerrar o encontro com os jovens, concedeu entrevista
para a Band TV. Falando sobre a cultura da paz, disse
que é hora de o ser humano tornar-se pacífico. A paz de
Jesus, e de todos os profetas, é necessária e urgente. O
amor é a solução. Respeitar o direito do próximo é
dever. O que está faltando na sociedade humana é a
presença de homens e mulheres de bem, tornando-se bons
exemplos.
Conferência da noite
– Dentro da programação ordinária da XX Conferência
Estadual Espírita, Divaldo Franco desenvolveu o tema:
O Herói Cristão. Antes, porém, o Dr. Juan Danilo
Rodríguez, espírita, médico de família, psicólogo,
homeopata e fundador do Centro Espírita Francisco de
Assis e de uma fundação de acolhimento aos portadores da
síndrome de autismo, em Quito, no Equador, dirigiu-se ao
numeroso público externando o seu agradecimento pela
participação em tão notável encontro de espíritas e
destacando a necessidade de esforços cotidianos para a
melhoria íntima. Jesus, a exemplo do que fez com seus
discípulos, espera que os espíritas sejam, também,
pescadores de alma, divulgando o Espiritismo.
Divaldo Franco apresentou as inúmeras qualificações e
realizações desse trabalhador equatoriano e que
atualmente está residindo na Mansão do Caminho, onde
lança as pedras basilares de um projeto para atendimento
de autistas sob o ponto de vista da Doutrina Espírita,
construindo um novo mundo.
Estamos no limiar de uma era nova, assim se expressou
Divaldo, e cansados das experiências fracassadas, o
homem procura outras expressões das relações humanas
para alcançar a plenitude, aplicando os ensinamentos em
as Bem-aventuranças. O autoconhecimento é peça
fundamental nestas conquistas do homem novo. Para tal
será necessário conhecer-se a si mesmo, produzindo a
felicidade.
Os verdadeiros heróis, cristãos ou não, estão em todos
os quadrantes do planeta e em grande número de
instituições orientais e ocidentais. O heroísmo maior é
enfrentar a vida no corpo, é estar no corpo cuidando da
vida espiritual. Apresentando a comovente história de
uma mulher dedicada e aureolada pelo amor, Divaldo
Franco, narra a experiência vivida juntamente com Nilson
de Souza Pereira no bairro do Uruguai, em Salvador/BA. O
local era uma invasão pantanosa, os dois atendiam os
moribundos na Casa de Jesus, um barraco que acolhia
aqueles que estavam deixando a vestimenta corporal,
abandonados por todos.
Recebendo o chamado, dirigiram-se para o casebre de dois
cômodos. O cenário era de angústia e de miséria humana.
Sobre uma enxerga no chão do barraco encontrava-se uma
trabalhadora do Centro Espírita Caminho da Redenção.
Mulher dotada de grande pureza d´alma. Devotada ao bem,
portadora de qualidades espirituais, aplicava passes.
Heroína, lavava roupas e vendia acarajé na porta do
Elevador Lacerda.
Acometida de tuberculose pulmonar, moribunda, contou-lhe
que estava viajando para a outra vida, a espiritual. Seu
tempo estava se esgotando. A amiga que aprendeu amar,
ensinando-lhe o amor, estava deixando o veículo físico.
Segreda a Divaldo a sua história, dizendo de antemão que
seu filho iria procurá-lo mais tarde, após a sua morte,
pedindo para dizer ao filho que sempre o amou.
Falou-lhe do filho, dedicado estudante desde criança,
agora tornado médico famoso em Salvador. Narrou sua
saga, desde jovem, os seus ingentes esforços em
amealhar, com muito suor, os recursos para custear os
estudos do filho amado. Os estratagemas para solicitar
veladamente a ajuda dos professores ao filho,
facilitando-lhe um aprendizado profissional de
qualidade. Esse filho, muito preto, foi fruto de uma
relação íntima em troca de alimentos, tal era sua
condição famélica. O filho era conhecido por um apelido
muito peculiar. Por que ela o vestia sempre com roupas
brancas, impecavelmente brancas, e contrastando com a
sua pele negra, passou a ser conhecido por o mosca no
leite. A moribunda, febril, com tosse, falou-lhe
sobre as alegrias em trabalhar e em economizar para
adquirir belo vestido vermelho, sapatos para a formatura
de seu amado filho, o anel de formatura acondicionado em
caixa aveludada em azul. Foram três anos. Aproximava-se
o dia da láurea. Na véspera, à noite, após já ter
recolhido os pertences que lhe interessavam, dirigiu-se
à mãe dizendo-lhe que tinha dois pedidos a fazer.
Primeiro, que não necessitaria ir à cerimônia de
formatura. Sua noiva, filha do diretor da faculdade,
iria acompanhá-lo no ato solene. Mantendo serenidade, a
mãe compreensiva, agradeceu-lhe a dispensa. O segundo
pedido era uma condição: quando ela adoecesse, deveria
ligar para o número de telefone que lhe passou em um
cartão. Assim ele viria, ou mandaria um colega para
atendê-la, ali mesmo naquele barraco. Dizia que desejava
poupá-la de ser humilhada. Disse-lhe mais: que não
telefonaria para ela.
Foi tudo muito simples, voltou a dizer a Divaldo aquela
mãe heroína. Ele casou, não me avisou, mas estou feliz,
disse. Meu filho está feliz e por ele estou feliz. Agora
estou morrendo. A heroína saiu da vida para entrar na
vida espiritual. Como uma fada iluminada saiu daquele
corpo. Fulgurante, desapareceu no infinito. Ela havia
expirado nos braços de Divaldo. Consumado o fato, Nilson
e Divaldo recolheram o cadáver, velando-o sob uma
árvore. Em estando contaminado aquele barraco, os dois
atearam-lhe fogo.
Uma semana depois, no Centro Espírita Caminho da
Redenção, Divaldo identificou aquele filho, que lhe
perguntou se havia visitado aquela negra no Bairro do
Uruguai. Justificou a pergunta informando que tinha
tomado a si a tarefa de protegê-la, era sua amiga.
Desejava saber o que ela havia contado a Divaldo, se
havia lhe falado sobre a família. Respondendo, Divaldo
disse que não poderia contar nada que pudesse
interessar, indagando se ele era parente dela. Como
disse que não, foi embora sem obter qualquer informação
de Divaldo. Um mês depois, eis que o mosca no leite
está de volta. Divaldo então pergunta: - É a respeito
daquela negra? Confirmado, disse que desejava
veementemente que lhe contasse o que sabia sobre ela e
seus comentários. Após alguns momentos de titubeios, o
visitante declarou que era o filho dela. Tinha vergonha
de sua mãe.
Agora identificado o filho, que Divaldo já conhecia,
disse-lhe que ela havia pedido para dizer que o amava
muito. Caindo em si, o médico perguntou como poderia se
reabilitar. Divaldo, então, disse-lhe que há no interior
de cada indivíduo um herói, e que para a reabilitação
são necessárias três etapas, o arrependimento, a
expiação e a reparação. Assim, sintetizou o preclaro
orador e orientador, faça para o próximo o que gostaria
de fazer à sua mãe.
Compreendida a lição, o filho em reabilitação solicitou
a sua inclusão nas atividades de assistência
desenvolvida por Divaldo Franco e sua Instituição no
bairro do Uruguai. A mãe prestimosa, dúlcida e amorosa,
presente no diálogo, suplicou, de joelhos, ao Mestre que
recebesse a ovelha tresmalhada. Era um anjo vestido de
pobreza.
A essa altura da narrativa emocionante, o público
parecia não respirar, tal era o silêncio e a emoção
dominante no ambiente. Ame, deixe aberta a porta do
coração. Amar é reabilitar-se dos erros. Assim, nesse
grau de emoção, Divaldo Franco, narrador eloquente,
apresentou heróis e heroínas, um verdadeiro desfilhe de
anjos dedicados, que superando provas ingentes,
venceram-se a si mesmos, tornando-se plenos e felizes,
exemplos de dedicação e amor ao próximo.
Considerada heroína russa, condecorada, a jovem
Catarina de Hueck (1896-1985), tendo adquirido o
título de baronesa pelo casamento, tornou-se mãe muito
cedo. Perseguida, buscou abrigo e sustento na América do
Norte, tanto no Canadá como nos Estados Unidos da
América. Esta emocionante e comovente história
encontra-se narrada em detalhes no capítulo 8 – A
Baronesa -, da obra A Estrela Verde, da Editoria
LEAL, de Divaldo Franco e Délcio Carvalho. Como acontece
com grande número de heróis e heroínas, a baronesa de
Hueck é amplamente desconhecida.
As lágrimas brotavam em muitos olhos, pois que corações
sensíveis foram tocados pelos dedos caridosos do orador
nonagenário, fazendo com que as autoanálises se fizessem
presentes, pelos questionamentos óbvios. Como alcançar
tal alto grau de amor incondicional a ponto de doar-se
inteiramente ao próximo, tomando Jesus por exemplo maior
e os heróis como a prova da possibilidade real de amar?
Declamando o Poema Meu Deus e Meu Senhor, de Amélia
Rodrigues, Divaldo Franco encerrou a atividade,
recebendo caloroso e demorado aplauso.
Encerramento
– Estando presentes alguns dirigentes de federações
espíritas estaduais, Jorge Godinho, da Federação
Espírita Brasileira, e os diversos expositores que
desenvolveram suas atividades tanto no interior do
estado, como os que se apresentaram na culminância da XX
Conferência Estadual Espírita, bem como a Diretoria
Executiva da Federação Espírita do Paraná, Adriano Lino
Greca conduziu o encerramento do evento na manhã do dia
18 de março de 2018. Após os agradecimentos, Divaldo
Franco foi recebido com a canção Paz pela Paz, de Nando
Cordel.
No amor que Jesus nos ensinou está a resposta para todas
as amarguras. Está a resposta para a nossa busca no
amor.
(Divaldo Franco)
Divaldo Franco, superando as dores cruciantes que o
atingem e mantendo sua jovialidade e alegria de viver,
disse que aqueles eram dias diferentes. Referia-se aos
dias em que Jesus se apresentou na Terra. Fazia 400 anos
que a boca profética silenciara, Israel parecia
totalmente sem rumo, acostumado que estava, o país, a
ser conduzido pelas vozes da imortalidade.
Magdala era uma formosa e celebre cidade à beira do mar
da Galileia. Em razão de seu clima era considerada uma
região amena, situada em posição privilegiada. Célebre
porque a Rainha Cleópatra, por duas vezes, passou o
verão tórrido do Egito, na calma e agradável cidade, que
também tinha fama pelo seu mercado e pelo câmbio de
importantes moedas.
Para desenvolver o tema proposto: Nunca desista do
Amor, Divaldo narrou a comovente história de Maria
de Magdala, a meretriz que, conhecendo Jesus, tornou-se
uma nova mulher, abandonando, de chofre, todos os maus
hábitos, distribuindo todos os seus bens, dispensando
empregados e escravos, para seguir Jesus
incondicionalmente.
A vida da famosa meretriz de Magdala era visitada
periodicamente por forças misteriosas que a deixavam
prostrada, hebetada. E porque procurara Jesus, ao
encontrar um mendigo leproso que lhe pedia dinheiro,
este disse-lhe que naquelas imediações havia um homem
bom que curava os doentes. Maria, então, solicita-lhe
que se o encontrasse fosse ter com ela, informando-a
sobre o paradeiro. Ele tinha lepra por fora, mas ela a
possuía por dentro, na alma, isto é, na consciência em
tormento. Era uma pecadora, uma vendedora de ilusões.
Assim sucedeu. O leproso encontrou o Messias, foi ter
com Ele e ficou curado. Imediatamente foi informar a
equivocada de Magdala. A noite se fazia presente. Ela se
encontrava aturdida pelo acometimento que a visitava
inesperadamente. Nessas ocasiões não recebia a ninguém.
Mas o mendigo insistiu tanto que logrou o seu tentame.
Informou-lhe que o Messias estava em Cafarnaum,
pernoitando no lar de Simão, o pescador, filho de Jonas.
Não poderia perder tempo. Seria agora ou nunca mais.
Algo me diz, senhora, que Ele a espera, insistiu o
mendigo. De barco, atravessaram o mar da Galileia e
foram ter com Ele ao amanhecer.
Ao encontrar Jesus, Maria de Magdala atirou-se aos seus
pés, chamando-o de Mestre querido (Raboni). Jesus se
dirige a ela chamando-a pelo nome – o Mestre a conhecia,
tal qual o pastor conhece as suas ovelhas. Maria disse
que desejava seguir-lhe os passos, acompanhá-lo. Porém,
o Nazareno disse-lhe não, por ora não seria possível,
não agora, mas depois. Por ora, Maria, por ora ame. Ame
os filhos do mundo, tome conta deles e depois venha a
mim. Vá, Maria, eu a esperarei. Vá e ame.
A meretriz experimentou algo diferente dentro de si,
tinha vontade de dar a sua vida a Jesus. Ela saiu
fascinada. No dia seguinte a cidade se encontrava
alvoroçada. Corria o boato de que a meretriz havia
enlouquecido. Ninguém a compreendia. Ela atirava pelas
janelas de sua imensa casa luxuosa as joias, seus bens
preciosos, moedas e outros valores, perfumes raros e
caros. Dispensou seus empregados. Libertou os escravos.
Apanhou um vaso de alabastro onde guardava um caro
perfume de nardo especial e foi ter com o Mestre,
servindo-o com deferência e sublime amor.
O amor é libertador. A meretriz de Magdala amou-O como
nunca. Passou a fazer parte das atividades de Jesus. Ela
assistiu-O entrar triunfante em Jerusalém, no domingo
que se celebrizaria pelos ramos de oliveira e de palmas
que o povo agitava. Esteve presente, também, quando o
Mestre iria, pouco depois, para o suplício no Gólgota.
Jesus foi para o seu martírio, João e a pecadora
convertida acompanharam-nO de perto.
No percurso do caminho de dor imposto pelos poderosos
temporários, no monte da caveira, ou do calvário, e na
hora da crucificação Maria de Nazaré, a Santíssima,
acompanhada de Maria de Magdala e de Mônica, que lhe
secou o suor sanguinolento, experimentaram a dor da
angústia, do medo e o tormento do suplício aplicado ao
inocente. A cena era tenebrosa, Jesus tomba pendurado na
cruz. Tudo estava consumado.
A noite caiu sobre a terra antes mesmo de o sol se pôr.
Aqueles últimos momentos foram de terrível angústia e
tristeza. A ex-meretriz permaneceu ali, constrita, em
profunda tristeza e ao amanhecer foi ao sepulcro e lá já
não encontrara o corpo do Messias. Vislumbra, na
penumbra da madrugada, uma silhueta, imagina ser um
zelador, e pergunta para onde haviam levado o seu
Senhor. Ele, então, se volta, ela se viu diante do
Mestre, que não se deixa tocar.
Maria de Magdala saiu dali e foi ter com os demais
discípulos, informando-os sobre o sucedido. O Mestre
está vivo, exclama ela. Não acreditaram nela. Maria
Santíssima, disse-lhe, então: - Minha filha, meu coração
de mãe diz que tu o viste. Já Tomé, somente mais tarde
foi acreditar, desejava tocar em suas chagas para que
tivesse certeza de era realmente o Mestre.
Depois desta aparição, Jesus ainda teve outras
oportunidades para se fazer notar pelos circunstantes,
reafirmando a sua natureza espiritual ímpar. Estimulou e
encorajou aos que estiveram com Ele a saírem por toda a
parte para pregarem o Evangelho para todos.
No passado, como na atualidade, o preconceito vige
soberano. Maria de Magdala não conseguia trabalhar. E
por não encontrar, ao passar uma caravana de assírios
leprosos que procuravam pelo Mestre, no desejo de serem
curados e não sabendo do que havia sucedido no Gólgota,
Maria de Magdala dá-lhes a notícia.
Ela falou aos leprosos sírios com ternura como nunca, e
como não tinha a ninguém, foi ter com eles, passando a
falar de Jesus para aqueles doentes. Em estando no meio
de leprosos, adquiriu a peste. A lepra se alastrou,
tomou-lhe o corpo outrora belo e, agora, quando falava
aos leprosos, se dirigia não mais a vós, mas a nós, pois
que, então, fazia parte do número dos contaminados.
Maria de Magdala decidiu, então, visitar a Mãe
Santíssima, em Éfeso. Viajava à noite, para não ser
importunada. Depois de longas noites caminhando, chegou
a Éfeso pela manhã. Já quase sem forças, desfaleceu, e
um casal de cristãos recolheu-a, levando-a para a casa
de Maria Santíssima e de João.
Por três dias e duas noites Maria de Magdala permaneceu
em delírio. Na manhã do terceiro dia sentiu algo
estranho e uma força arrancou-a da carcaça. Viu-se à
beira do mar, ouvia suave melodia e aquela luz, pairando
sobre as águas, arrebatou-a às alturas, acolhendo-a. Era
Jesus. Luz fulgurante rasgou os céus. Maria de Magdala
havia transposto a porta estreita. No amor que Jesus nos
ensinou está a resposta para todas as amarguras. Está a
resposta para a nossa busca no amor.
A esse respeito, conta uma lenda grega que naquela
noite, na Babilônia, um astrólogo, fitando o firmamento,
viu uma claridade intensa. Imaginou ser uma estrela
novíssima e fez suas anotações. Em verdade não era uma
estrela. Era o rastro luminoso de Maria de Magdala em
viagem para a LUZ. Esse relato, em detalhes, se encontra
estampado no capítulo 3 – Mírian de Migdal, da obra A
Estrela Verde, de Divaldo Franco e Délcio Carvalho,
da Editora Leal.
Mensagem de Bezerra
– Ao final da XX Conferência Estadual Espírita, Divaldo
Franco transmitiu, pela psicofonia, a seguinte mensagem
do dr. Bezerra de Menezes:
“Se nos amarmos quanto Ele nos pediu, as nossas dores
serão transformadas em alegrias no Reino de Deus.
Lembrai-vos, filhos da alma, Jesus é os dois extremos da
vida, o zênite e o nadir, das nossas aspirações. Quando
as dores vos parecerem insuportáveis, quando a solidão
se vos apresentar tenebrosa e fria, lembrai-vos de
Jesus. Uma voz sequer levantou-se para inocentá-lo, e
eram centenas aqueles a quem Ele atendeu. Quando vos
sentirdes desamado ou rejeitado mantende a irrestrita
confiança no amor e entregai-vos àquele que é a vida da
própria vida. Não temais nunca, porque Ele nunca nos
deixa a sós.
Elegemos o tema da mulher equivocada, porque todos nós
carregamos um espinho na carne. E nas carnes da alma,
todos nós, ainda imperfeitos, somos algo Maria de
Magdala ou Mírian de Migdal. Que o amor de Jesus nos
receba com ternura infinita sem nos perguntar quem
fomos, mas nos propor o que seremos. Tende ânimo, são
horas muito difíceis, de testemunho e de lágrimas, de
ansiedade e de desamor, mas crede, filhos da alma, Jesus
não venceu no mundo, venceu o mundo das paixões. Sede
vós aqueles que podeis vencer as sombras do pretérito
que vos arrebatam muitas vezes de volta aos abismos da
alucinação. Amai, pagai o preço do amor, socorrei por
amor, erguei por amor, libertai por amor e vos sentireis
salvos, erguidos, amparados por alguém que distenderá as
mãos e dirá com sorriso: - Vinde, já atravessastes a
porta estreita, vinde à casa de Meu Pai.
Nestes dias, meus filhos, o endereço de Deus chegou aos
vossos corações. Tendes agora o mapa da vitória,
cabe-vos alcançar pela rota abençoada da bondade, da
misericórdia, do amor e da doutrina libertadora dos
imortais para que a plenitude do Reino dos Céus, desde
hoje, se vos instale no coração. Muita paz. O servidor
humílimo de sempre que vos fala em nome dos Espíritos
Espíritas aqui presentes. Ide em paz! Bezerra.”
Nota do Autor:
As fotos que ilustram esta reportagem são de Jorge
Moehlecke.