O leitor Roberto T., em mensagem publicada na seção de
Cartas desta edição, enviou à revista o seguinte
questionamento:
O livre-arbítrio de uma pessoa pode interferir no
livre-arbítrio de outra? Por exemplo: pode uma pessoa,
que deveria viver até os 80 anos, morrer em virtude de
um atropelamento causado por um estado de embriaguez de
outra pessoa que, nesse caso, fez mau uso de sua
liberdade de ação? Ou então, se era "destino" da
primeira pessoa desencarnar naquele momento, então o
infrator nada mais seria que um "instrumento divino"
para se cumprir tal episódio, não devendo ser imputado a
ele nenhuma culpa ou responsabilidade?
O livre-arbítrio é apanágio da criatura humana.
Trata-se da faculdade que tem o indivíduo de determinar
sua própria conduta, ou seja, a liberdade que tem de,
entre duas ou mais razões suficientes de querer ou de
agir, escolher uma delas e fazer que prevaleça sobre as
outras.
Excetuado o caso de alienação mental, nada nos coage nos
momentos de decisões próprias, daí ser correto afirmar
que somos responsáveis pelos nossos atos e construtores
do nosso destino.
Respondendo assim à pergunta inicial, podemos dizer, com
base nos ensinamentos espíritas, que uma pessoa pode
prejudicar, magoar, ferir e até matar outra pessoa, mas
não pode interferir no seu livre-arbítrio, visto que
esse atributo é conquista inalienável do ser humano.
A criatura humana exercita o livre-arbítrio a todo
momento, seja quando cede a uma tentação, seja quando a
ela resiste. Há, no entanto, um instante em nossa vida
que o exercício do livre-arbítrio se verifica de forma
mais completa. Esse momento é o que precede a
reencarnação, quando se elabora a programação
reencarnatória daquele que prepara sua volta ao plano
corpóreo.
Escolhendo tal família, certo meio social, a pessoa sabe
de antemão quais são as provações que a aguardam e
compreende, igualmente, a necessidade dessas provações
para desenvolver suas qualidades, curar seus defeitos,
despir-se de seus preconceitos e vícios. Essas provações
podem, evidentemente, ser consequência de um passado
nefasto, que é preciso reparar, e ela as aceita com
resignação e confiança.
Aprendemos com a doutrina espírita que é estreita a
correlação entre livre-arbítrio e responsabilidade. Se
agirmos mal, deveremos arcar com as consequências. Se
agimos bem, os louros da vitória nos pertencem.
Quem provoca de forma irresponsável um acidente que leva
alguém à morte ou à invalidez, deverá responder por isso
perante a Lei divina, mesmo quando o momento da morte
naquelas circunstâncias fizer parte da programação da
pessoa vitimada.
É a responsabilidade do homem que faz sua dignidade e
moralidade. Sem ela, não seria ele mais que um autômato,
um joguete das forças ambientes.
O questionamento feito pelo leitor fere também,
indiretamente, duas questões importantes já examinadas
nesta revista: o acaso e as mortes causadas por
terceiros.
Sobre ambos os assuntos sugerimos ao leitor que acesse a
seção O Espiritismo responde das edições abaixo
mencionadas:
edição 103 – sobre o acaso:
https://goo.gl/76ePgE
edição 511 – sobre mortes acidentais:
https://goo.gl/XVjFrB