A perseguição
não se limitou
aos
protestantes,
pois se estendeu
aos judeus,
muçulmanos,
artistas,
pensadores e
cientistas, ou
seja, a qualquer
pessoa que fosse
capaz de
contestar
publicamente as ideias da
Igreja.
A importância da Reforma Protestante e seus impactos
políticos e religiosos
A reforma protestante teve um impacto significativo na
história, traçando os novos rumos políticos, econômicos
e religiosos da humanidade. A Igreja, até então, exercia
um papel controlador na política, na economia, nas
ciências e nas artes. O papa era uma figura religiosa e
política e opinava em diversas decisões. Após a grande
Reforma o poder da Igreja se declinou entre as
monarquias europeias. Houve um fortalecimento dos
princípios sociais e econômicos da burguesia, que
passaram a ser sustentados pela aprovação do lucro, que
antes a Igreja combatia.
No campo religioso a reforma de Lutero proporcionou o
surgimento de outras vertentes do Cristianismo. A Igreja
Católica, na época, dividia espaço apenas com a Igreja
Ortodoxa, que tinha seus maiores domínios na região
oriental. Com o advento do protestantismo nasceram as
Igrejas Luterana, Anglicana, Presbiteriana e Batista,
que se multiplicaram e se ramificaram em outras
denominações. Hoje os protestantes contabilizam 40% dos
cristãos em todo o mundo.
A Reforma Protestante e o Espiritismo
Os espíritas compreendem que a Reforma Protestante foi
uma preparação para a chegada da Doutrina Espírita, o
Consolador Prometido. Assim como o Cristo veio para
cumprir a Lei professada por Moisés, a Doutrina Espírita
não veio desdizer os ensinamentos do Mestre, mas
desenvolvê-los, completá-los e explicá-los, sem
alegorias.
A Reforma e os movimentos que se lhe seguiram vieram ao
mundo com a missão especial de exumar a “letra’’ dos
Evangelhos [...] a fim de que, depois da sua tarefa,
pudesse o Consolador prometido, pela voz do Espiritismo
cristão, ensinar aos homens o “espírito divino’’ de
todas as lições de Jesus. (XAVIER, F.C. O Consolador.
Pelo Espírito Emmanuel. Questão 295).
O espírito Humberto de Campos através da mediunidade de
Chico Xavier, em uma mensagem publicada pela revista
“Reformador” na edição de setembro de 1978, narra que o
espírito de Jan Huss (1369-1415),
um dos mais importantes pré-reformadores, recebeu
instruções de Jesus antes de retornar ao plano
físico como Allan Kardec (1804-1869), para codificar a
Doutrina Espírita.
“Não serás portador de invenções novas, não te deterás
no problema de comodidade material à civilização, nem
receberás a mordomia do dinheiro ou da autoridade
temporal, mas deponho-te nas mãos a tarefa sublime de
levantar corações e consciências. É indispensável
estabelecer providências que amparem a fé, preservando
os tesouros religiosos da criatura. Confio-te a sublime
tarefa de reacender as lâmpadas da esperança no coração
da humanidade.
O Evangelho do Amor permanece eclipsado no jogo de
ambições desmedidas dos homens viciosos! …. Vai, meu
amigo. Abrirás novos caminhos à sagrada aspiração das
almas, descerrando a pesada cortina de sombras que vem
absorvendo a mente humana. Na restauração da verdade, no
entanto, não esperes os louros do mundo, nem a
compreensão dos teus contemporâneos.”
[…]
(Jesus dirigindo-se a Jan Huss no plano espiritual,
antes de Huss reencarnar como Allan Kardec, como narra o
Espírito Humberto de Campos em mensagem publicada pela
revista “Reformador” em setembro de 1978).
Traçando um paralelo entre as duas personalidades,
encontramos várias semelhanças que reafirmam a doutrina
da reencarnação. Jan Huss foi reformador da língua do
seu país, como lexicógrafo emérito, tradutor do idioma
tcheco. Já Allan Kardec, além de talentoso educador, foi
também tradutor de livros para diferentes idiomas. Huss
viu algumas de suas obras serem queimadas pela Igreja em
praça pública, assim como Kardec teve 300 exemplares de
obras espíritas incineradas em um ato que ficou
conhecido como o auto da fé de Barcelona. Observemos
também o período exato de 500 anos entre a data de
nascimento de Huss e a de desencarnação de Kardec.
Portanto, estamos convencidos de que o mesmo espírito,
em diferentes épocas, esteve comprometido com a Doutrina
do Cristo, primeiro trabalhando em defesa do Novo
Testamento e posteriormente na edificação do
cristianismo redivivo, através da codificação da
Doutrina Espírita, o que nos leva a crer que a Reforma
Protestante foi necessária para o surgimento do
Espiritismo.
A grande reforma foi a origem da retomada do
cristianismo que estava sendo desvirtuado pelos
representantes católicos da época, em decorrência da
depravação da natureza humana. A Igreja utilizava a fé
como instrumento de dominação e foi capaz de cometer
atrocidades em nome de Deus para manter o seu poder.
Entendendo todo esse contexto, a plêiade dos espíritos
de luz, sob a égide de Jesus, julgou ser necessária a
divisão do cristianismo para garantir a sua expansão e
mais tarde, através do Espiritismo, trazer de volta a
ideia principal da doutrina cristã, como nos tempos dos
discípulos de Jesus. Certamente, se a filosofia cristã
permanecesse apenas sob os domínios da igreja romana, o
pensamento cristão estaria comprometido. Eis que então a
espiritualidade organizou a vinda de missionários para
restaurar o cristianismo e garantir sua propagação.
O plano invisível determina, assim, a vinda ao mundo de
numerosos missionários com o objetivo de levar a efeito
a renascença da religião [...]. Assim, no século XVI,
aparecem as figuras veneráveis de Lutero, Calvino,
Erasmo, Melanchton e outros vultos notáveis da Reforma,
na Europa Central e nos Países Baixos. XAVIER, F.C. A
caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel. Cap. 20.
Não somente no campo religioso, mas também na ciência,
na política e nas artes (renascimento e iluminismo),
retornavam ao plano físico espíritos encarregados de
trazer novas ideias e mudar a visão distorcida que se
tinha sobre diversos assuntos. Nicolau Copérnico
(1473-1543), por exemplo, foi o primeiro a contradizer a
Igreja ao afirmar que a Terra não era o centro do
universo, teoria confirmada mais tarde por Galileu
Galilei (1564-1642).
A [...] ideia da reforma não estava só na cabeça de
Lutero, mas na de milhares de cabeças, de onde deveriam
sair homens capazes de a sustentar. KARDEC, Allan.
Revista espírita. Jornal de estudos psicológicos. Ano de
1866, agosto, p. 321
Por que mesmo após o advento do Espiritismo existem
tantas religiões?
O planeta Terra ainda é um mundo em desenvolvimento e
por isso necessita de uma variedade de doutrinas
religiosas que sejam compatíveis com a capacidade de
discernimento de seus adeptos. Cada espírito compreende
as leis de Deus de acordo com o seu grau de evolução e é
por isso que ainda existem divergências doutrinárias.
Toda religião tem a sua importância, se cumpre o
objetivo de aproximar o homem a Deus. Aqueles que causam
guerras em nome de Deus ou das religiões ainda não
progrediram a ponto de compreender que a maldade é fruto
da natureza humana.
Quando todos os homens estiverem convencidos de que Deus
é o mesmo para todos; de que esse Deus, soberanamente
justo e bom, nada pode querer de injusto; que o mal vem
dos homens e não dele, todos se considerarão filhos do
mesmo Pai e se estenderão as mãos uns aos outros.
(KARDEC, Allan. A Gênese: os milagres e as predições
segundo o Espiritismo).
Léon Denis destaca que “O Espiritismo não é a
religião do futuro, mas sim o futuro de todas as
religiões”. Pois chegará um tempo em que todas as
doutrinas reconhecerão as verdades trazidas pelo
cristianismo redivivo através da Doutrina Espírita e
comungarão da mesma ideia, consolidando a harmonia e a
paz fundamental para o bem universal. Nesses tempos,
desfrutaremos de um mundo ditoso, onde o bem prevalecerá
entre os homens.
Referências:
XAVIER, Francisco Cândido. A caminho
da luz: história da civilização à luz do Espiritismo.
Pelo Espírito Emmanuel, de 17 de agosto a 21 de setembro
de 1938. 33. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006.
KARDEC, Allan. A Gênese: os milagres e
as predições segundo o Espiritismo. Trad. de Guillon
Ribeiro da 5. ed. francesa. 48. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2005.
SEFFNER, Fernando.
Da reforma à
contra-reforma. Coleção História geral
em documentos. São Paulo: Atual.
MARTINA, Giacomo.
História da Igreja: de
Lutero aos nossos dias. V. 1: A era da
Reforma. São Paulo: Loyola, 1997.
XAVIER, Francisco Cândido. O
Consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 26. ed. Rio de
Janeiro: FEB, 2006.
JOSTEIN, Gaarder. O Livro das
Religiões.
Jostein, Gaarde; Hellern, Victor; Notaker,
Henry.
Tradução: Isa Mara Lando; Revisão Técnica
e Apêndice: Flávio Antônio Pierucci. São Paulo:
Companhia das Letras, 2000.
CHAUNU, Pierre.
O tempo das reformas
(1250-1550): a Reforma protestante.
Lugar na História, v. 49-50, Edições 70, 1993.
KARDEC, Allan.
Revista espírita: jornal de estudos psicológicos.
Ano 12, n. 9, p. 372-374, set. 1869. Trad. Evandro
Noleto Bezerra. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009.
Precursores do Espiritismo – Jan Huss.
XAVIER,
Francisco C. Lembrando Allan Kardec. Pelo
Espírito Humberto de Campos. Reformador, ano 96,
n. 1.794, p. 25(293)-26(294), set. 1978.