O Espiritismo responde

por Astolfo O. de Oliveira Filho

Em mensagem publicada na seção de Cartas desta edição, a leitora Neuza Aparecida Alves Bedaque (Guaratinguetá, SP) escreveu-nos o seguinte:

Por favor, preciso de um esclarecimento: um espírito em processo reencarnatório, no 4º mês de gestação, pode manifestar-se em uma reunião mediúnica, pela psicografia, para dizer de sua alegria de estar voltando e dando a sua preferência pelo nome que lhe será dado? Despede-se dizendo que vai voltar para a barriga da mamãe. Eu acredito, pelo que tenho estudado, que não é possível. Por favor, esclareçam-me.

A situação do espírito do bebê, durante a gestação, já foi examinada nesta revista em mais de uma ocasião, a primeira vez na edição 24, em que dissemos, com base nos ensinos espíritas, que no período que se estende da concepção ao nascimento o estado do encarnante assemelha-se ao do Espírito encarnado durante o sono. Durante essa fase, os Espíritos mais evoluídos gozam de maior liberdade, mas desde o momento da concepção o Espírito sente as consequências de sua nova condição e começa a sentir-se perturbado. Uma espécie de torpor, agonia e abatimento o envolve gradualmente, intensificando-se até o término da vida intrauterina. Suas faculdades vão-se velando uma após outra, a memória desaparece, a consciência fica adormecida, e o Espírito como que é sepultado numa espécie de crisálida. Esse fenômeno se deve à constrição do perispírito e à sua limitação pelo corpo, que fazem com que a existência no Plano Espiritual e a consciência das vidas pregressas retornem ao inconsciente.

No livro Missionários da Luz, cap. 14, pp. 242 a 249, André Luiz traz informações interessantes relacionadas com a reencarnação de Segismundo. Conforme ali é dito, depois do vigésimo dia de gestação, quando o embrião atinge a configuração básica, Raquel e Segismundo – mãe e filho – poderiam ser visitados a qualquer hora, porque então conseguiriam ausentar-se do corpo com facilidade. Na noite do vigésimo dia, a visitação passou a ser permitida e não foram poucos os amigos espirituais que aguardavam esse momento. Raquel sentia-se agora aliviada e quase ditosa, o mesmo ocorrendo com Segismundo, que fios tenuíssimos prendiam à organização fetal. À medida que Raquel se afastava, Segismundo também podia afastar-se, não lhe sendo possível abandonar a companhia maternal. Raquel asilava-o, então, nos seus braços carinhosos, enquanto sorria fora do campo material mais denso.

Em tal período, não vemos por que o espírito do reencarnante não possa transmitir diretamente, ou por intermédio de um amigo espiritual, uma mensagem aos encarnados.

Haverá, no entanto, um determinado momento em que isso não mais lhe será possível, em face da informação, acima mencionada, de que uma espécie de torpor, agonia e abatimento o envolve gradualmente durante a gestação, “intensificando-se até o término da vida intrauterina”.

Certamente esse é o motivo pelo qual, ao tratar do assunto no cap. XXV d´O Livro dos Médiuns, sobre as evocações, Allan Kardec consignou a seguinte informação dada por um amigo espiritual:

51ª Pode evocar-se um Espírito cujo corpo ainda se ache no seio materno? "Não; bem sabes que nesse momento o Espírito está em completa perturbação."

NOTA. A encarnação não se torna definitiva senão no momento em que a criança respira; porém, desde a concepção do corpo, o Espírito designado para animá-lo é presa de uma perturbação que aumenta à medida que o nascimento se aproxima e lhe tira a consciência de si mesmo e, por conseguinte, a faculdade de responder. (O Livro dos Médiuns, cap. XXV, item 282.)


  
 


 
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