Entrevista

por Orson Peter Carrara

Humberto de Campos, antes e depois do retorno ao plano espiritual

Natural de São Paulo e residente em Osasco, no mesmo estado, Cláudio Bueno da Silva (foto) é espírita há quarenta anos. Formado técnico de contabilidade e atuando profissionalmente como contabilista, vincula-se, como voluntário, ao Instituto Espírita Obreiros do Bem, na cidade onde reside. Tendo presidido a USE Osasco por dois mandatos, atua hoje nos departamentos do livro e artes da mesma instituição. Palestrante e escritor, lançou recentemente “O menino livre de Miritiba”, que apresenta notável pesquisa sobre o grande escritor Humberto de Campos, em primorosa análise de sua obra como encarnado e depois por meio da psicografia.

Como surgiu essa obra?

"O menino livre de Miritiba" surgiu da minha vontade de conhecer o trabalho do Humberto de Campos acadêmico. Como já havia lido toda a sua magnífica produção através da psicografia de Chico Xavier, calculei que sua obra de encarnado devesse ter também elementos de aprendizado, dada a inteligência e talento desse espírito. E não me enganei. Depois de mergulhar na leitura dos seus livros, percebi que não tinha outra coisa a fazer senão compartilhar com as pessoas que o apreciam, principalmente os espíritas, todo o rico material que encontrei.

Analisando o Humberto encarnado e depois no mundo dos espíritos, quais suas impressões sobre o autor?

Humberto de Campos é o mesmo nos dois planos da vida. O estilo inconfundível, a criatividade, a cultura, o humanismo, que o caracterizavam quando encarnado, o identificam também como o grande escritor que voltou "do mundo das sombras". Todavia, as constatações que fez após a entrada no mundo espiritual levaram-no a aceitar ideias que antes não ocupavam plenamente o seu pensamento. Bem por isso, a temática dos seus livros como espírito livre da matéria se modificou e suas preocupações se voltaram exclusivamente para os assuntos de interesse da vida imortal.

Que fato mais lhe chamou a atenção na grande obra do conhecido e talentoso escritor, enquanto encarnado e depois pela psicografia?

Algumas características ressaltam muito fortes dos textos do Humberto de Campos encarnado: a sinceridade, o humanismo e a intransigência ética. Essas virtudes permearam sua vida de homem, de escritor, e inclusive de parlamentar, já que exerceu, sem manchas, um mandato e meio como deputado federal, num período difícil da vida política brasileira. Eram qualidades da sua alma. Como autor espiritual, junto com Chico Xavier, chama a atenção sua lealdade e dedicação no propósito de divulgar a realidade do mundo dos espíritos, exaltando o Cristo, seguindo humildemente um programa traçado pela espiritualidade superior.

Das obras escritas quando encarnado, qual mais o sensibilizou? Por quê?

Várias obras de Humberto de Campos me encantaram. Mas, sem dúvida, as "Memórias", em que narra sua infância e adolescência com um teor admirável de verdade e humildade, é o mais emocionante. Esse livro serviu de base para a história de "O menino livre de Miritiba", em que reconto a vida do escritor maranhense. Apreciei muito também "Sombras que sofrem" e "Os párias", por reunirem textos saborosos, lúcidos e cheios de sentimento.

E dos livros psicografados, qual o que mais o marcou?

O trabalho de Humberto de Campos com o Chico, como já disse, é muito significativo. Em meio a tantos bons livros, há um bastante interessante pelo volume de revelações que traz e também pelo modo intenso, mas sereno, como Humberto narra seu retorno ao mundo dos espíritos: "Crônicas de Além-túmulo". No entanto, o mais belo dentre todos os ditados ao médium mineiro é, sem dúvida, "Boa Nova". Neste, Humberto narra magistralmente os três anos da pregação de Jesus, e aceita em definitivo sua aliança com o pensamento do Mestre.

Dessa pesquisa, como ficou o livro?

"O menino livre de Miritiba" constitui-se de três partes. A primeira narra as incríveis aventuras vividas pelo menino e moço Humberto. Nessa história encontram-se lances pungentes e de grande emoção que permearam a vida daquele que viria a ser mais tarde o prestigiado escritor. A segunda parte contém impressões, sob a ótica espírita, de surpreendentes passagens da sua literatura de encarnado. A última parte traz revelações sobre a vida, o pensamento e a morte de Humberto de Campos.

Das lembranças desses estudos e pesquisas, que mais lhe vem à mente?

Interessante esta pergunta, pois sempre que penso em Humberto de Campos me vêm à mente as comoções que senti em muitos momentos ao vê-lo descrever os próprios sofrimentos. Mesmo sob o cerco das dores angustiantes, encontrava forças para escrever todos os dias. E o mais incrível é que seus textos mantinham a qualidade, talvez aumentada pelo poder das lágrimas.

Que traço marcante destacaria na personalidade de Humberto de Campos?

Uma característica de Humberto de Campos foi a perseverança. Mesmo abatido pelas duras provas, mantinha-se preso a um fio de esperança que o levava à superação das dificuldades. Nos últimos tempos, certa resignação ajudou-o a aceitar o que era mais forte que ele. Se a morte não tivesse decretado sua retirada prematura do mundo, teria continuado a lutar, como sempre o fez, no limite das suas forças.

Há algo interessante que gostaria de acrescentar?

Uma curiosidade. Humberto de Campos foi autodidata. Passou alguns anos pela escola e depois seguiu seu próprio caminho. Para mim, o obcecado amor que demonstrou pelos livros e pela cultura geral confirma o princípio da reencarnação. Por mais que tenha buscado o aprimoramento cultural nesta vida, não teria chegado aonde chegou se não trouxesse no Espírito as experiências de vidas passadas. Sua vida serviu também, nesse sentido, para uma profunda reflexão de todos nós.

Suas palavras finais.

Agradeço ao IDE-Araras por ter aceitado divulgar o meu trabalho. Humberto de Campos teve e tem um papel fundamental no projeto coordenado pelo espírito Emmanuel de fortalecer as bases do verdadeiro Cristianismo no Brasil e espiritualizar nosso povo. O IDE-Araras me permitiu com este livro dividir com as pessoas meu pensamento sobre essa questão, além de poder contar a elas detalhes, minúcias, da vida e da obra de um dos maiores e mais lidos escritores brasileiros.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita