A característica evangélico-cristã do
Espiritismo
O Evangelho é diretriz e medicamento para as angústias
do coração
"Nunca, quanto ocorrem nestes dias, a vivência da
mensagem evangélica se faz tão necessária.” - Joanna
de Ângelis
Segundo o nobre mentor Vianna de Carvalho,
ainda reponta, hoje, nos arraiais dos honestos
investigadores da sobrevivência do Espírito, certa
ojeriza pelo ensino evangélico, asseverando - indóceis
e invigilantes - que é desnecessária a vivência do
Evangelho para a felicidade do homem. Porque os seus
conceitos remanesçam fixados às informações religiosas
ortodoxas, não se tendo permitido maior estudo e
reflexão nos ensinos morais profundos da Boa-Nova, sob a
angulação luminescente do Espiritismo, afirmam que o
comportamento evangélico é pieguista, dando origem a
personalidades fracas, dúbias...
Muito fácil, no entanto, a posição agressiva,
reacionária, acrimoniosa. A resistência pacífica e
branda à perseverança nos ideais superiores sem alarde
nem explosões de estoicismo exterior é muito exigente,
impondo maior dose de coragem e de abnegação moral do
que pode parecer. A Doutrina Espírita - por isso mesmo -
pode ser considerada como a Renascença do
Cristianismo Primitivo, trazendo de volta a emulação
corajosa dos "homens do caminho", a estesia
sacrificial que caracterizou os lídimos servidores das
horas primeiras, produzindo-lhes nas almas uma imediata
transformação para melhor.
O Espiritismo reacende nas almas a empatia da fé,
fortalecendo - realmente - o homem para enfrentar as
vicissitudes, em decorrência do seu ensino vivo da
Imortalidade, resultando o comportamento moral e a
experiência filosófica da criatura então, interiormente,
iluminada.
A dor, que sobrenada nas caudais da miséria como nas
expressões da abundância econômica, tem sido um desafio
ainda não enfrentado, para o vigoroso combate ao comando
do amor, da fé e da razão. Ao Espiritismo está reservado
esse cometimento que já se inicia...
Não obstante transcorridos quase vinte séculos, as
lições incomparáveis do Cristo prosseguem com atualidade
comovedora. A história do pensamento experimentou várias
tentativas nos diversos campos do conhecimento, ora
adicionando ou não experiências, à medida que desprezava
conceitos que se esvaziavam de conteúdo, superava
escolas de realizações sem estrutura legítima, caldeando
informações e elaborando princípios válidos por uns
tempos, noutros desconsiderados, enquanto a
palavra-roteiro do Messias Divino continua hoje
imperiosa e oportuna quanto o fora no momento em que
enunciada.
Esse valioso conteúdo permanece inalterado, diretriz e
medicamento para as angústias do coração e as
incertezas, intranquilidade da mente...
Os pesquisadores da ciência e os filósofos negadores,
embora tentando substitutivos para o Espiritualismo,
alegando a imperiosa urgência em destruir a esperança na
Imortalidade da alma, esbarram, por mais cépticos, nas
claridades meridianas e consoladoras do Além-Túmulo, bem
como da sempre nova mensagem cristã, insuperável,
oportuna.
Continua o nobre Mentor:
"todas as religiões estabeleceram os seus postulados em
dogmas de fé inamovíveis. Allan Kardec, porém,
traduzindo o pensamento do Cristo, fundamentou a
Religião Espírita nos códigos da razão insculpidos na
consciência individual do homem; todos os pensadores se
preocuparam em solucionar a problemática do homem,
criando escolas de conhecimento e engendrando sistemas
que objetivam combater-se uns aos outros. Allan Kardec,
todavia, refundiu os conceitos idealistas de Sócrates e
Platão, erguendo um monumento granítico em linhas
morais, apoiado nos alicerces dos fatos; todos os
pesquisadores da Ciência partiram da premissa na busca
infatigável da demonstração. Allan Kardec, sem embargo,
mergulhou no oceano infinito dos fatos, deles extraindo
a grandiosa constelação de luzes e experimentações que
constitui a Ciência Espírita; todos os religiosos sempre
afirmaram a Imortalidade da alma, sem terem como
prová-la. Allan Kardec, entretanto, partindo da
observação, comprovou a imortalidade pelos métodos
vigentes de demonstração, elucidando as leis que regem o
intercâmbio entre o mundo físico e o mundo espiritual.
A reencarnação sempre esteve presente nas experiências e
informações extrafísicas dos séculos como chave da
incógnita dos sofrimentos humanos. Allan Kardec,
contudo, conseguiu, às expensas do Mundo Espiritual que
o assistia, extrair os fundamentos éticos relevantes
para a felicidade do homem, nos conceitos
reencarnacionistas, estribando, no Evangelho, a rota de
segurança, única, aliás, propiciatória para colimar-se
as metas evolutivas.
Todos os tratados de Filosofia têm sido apresentados em
linguagem complexa, somente compreensível pelos
especialistas e estudiosos... Allan Kardec, porém,
conseguiu debater e estudar os pontos capitais do
pensamento universal em linguagem simples, compatível
com a mente do povo, sem esquecer as inteligências
brilhantes, a todos franqueando devassar os umbrais da
Imortalidade à luz da Codificação.
Todos os militantes das religiões e das filosofias
procuraram definir Deus ou negá-lO. Allan Kardec, a
exemplo de Jesus, apresentou o Criador, na Criação, e a
Divindade manifesta nos Seus atributos de grandeza e
magnitude, sem insistir em definir o Indefinível".
O Espiritismo materializou na Terra a promessa de Jesus
sobre "O Consolador" que viria mais tarde, a Seu
pedido, ensinar-nos “todas as coisas, lembrar as que
Ele ensinara e ficar conosco para sempre".
Afirma o ínclito Mestre Lionês:
"o Espiritismo é a ciência nova que vem revelar aos
homens, por meio de provas irrecusáveis, a existência e
a natureza do mundo espiritual e as suas relações com o
mundo corpóreo. Ele no-lo mostra, não mais como coisa
sobrenatural, porém, ao contrário, como uma das forças
vivas e sem cessar atuantes da Natureza, como a fonte de
uma imensidade de fenômenos até hoje incompreendidos e,
por isso, relegados para o domínio do fantástico e do
maravilhoso. É a essas relações que o Cristo alude em
muitas circunstâncias e daí vem que muito do que Ele
disse permaneceu ininteligível ou falsamente
interpretado. O Espiritismo é a chave com o auxílio da
qual tudo se explica de modo fácil.
A lei do Antigo Testamento teve em Moisés a sua
personificação; a do Novo Testamento tem-na no Cristo. O
Espiritismo é a terceira revelação da Lei de Deus, mas
não tem a personificá-la nenhuma individualidade, porque
é fruto do ensino dado, não por um homem, sim pelos
Espíritos, que são as vozes do Céu, em todos os pontos
da Terra, com o concurso de uma multidão inumerável de
intermediários. É, de certa maneira, um ser coletivo,
formado pelo conjunto dos seres do mundo espiritual,
cada um dos quais traz o tributo de suas luzes aos
homens, para lhes tornar conhecido esse mundo e a sorte
que os espera.
Assim como o Cristo disse: ‘não vim destruir a lei,
porém cumpri-la’,também o Espiritismo diz: ‘Não
venho destruir a lei cristã, mas dar-lhe execução’. Nada
ensina em contrário ao que ensinou o Cristo, mas
desenvolve, completa e explica, em termos claros e para
toda gente, o que foi dito apenas em termos
alegóricos".
Como podemos pensar em separar o Espiritismo do
Evangelho de Jesus?! Seria incoerência... As palavras de
Jesus não passarão e o Espiritismo, limpando-as das
cinzas dos dogmas ancilosados, emancipando-as dos
prejuízos acrescentados pelos interesses subalternos dos
homens dá a sua mensagem de Luz e Vida, religando o
homem ao Criador, fazendo-o identificar-se com a sua
natureza cósmica, eterna...
Por tudo isso, estamos com Hermínio C. Miranda quando
afirma parafraseando o Apóstolo dos Gentios:
“(...) dos três
aspectos do Espiritismo: Ciência, Filosofia e Religião,
o mais excelente de todos é o aspecto religioso”.
A Ciência e a Filosofia Espíritas nos conduzem com
segurança pelos meandros dos conhecimentos científicos
terrestres, a Religião Espírita permite-nos alçar voos
transcendentais rumo aos cimos gloriosos da
Espiritualidade, manancial inesgotável e imarcescível da
Luz Divina.
-
KARDEC, Allan. O Evangelho seg. o Espiritismo. 125.
ed. Rio: FEB, 2006, cap. I, itens 5 a 7.