A. Com o propósito
de negar o Criador e
sua inteligência, é
verdade que o Sr.
Büchner, conhecido
adepto das teses
materialistas,
criticou até mesmo a
velocidade da luz?
Sim, é verdade. Para
Büchner, a luz não é
tão veloz como
deveria. Eis o
argumento: “A luz
atravessa tão
lentamente o
Universo, que seriam
precisos milhões de
anos para chegar de
uma a outra estrela.
Que se há de pensar
destas restrições
tão pouco sábias,
como manifestações
de uma vontade
criadora?” Conclusão
do autor
materialista:
“Arrastando-se assim
penosamente no
espaço, é porque não
existe Criador”.
Parece incrível, mas
é isso mesmo que o
citado crítico
escreveu. (Deus
na Natureza – Quarta
Parte. Plano
da Natureza -
Construção dos Seres
Vivos.)
B. Que avaliação
Flammarion –
astrônomo respeitado
e homem igualmente
ligado à Ciência –
fez de semelhante
crítica?
Ele considerou essa
e outras objeções do
mesmo quilate
simplesmente
ridículas, o que de
fato elas são.
Afinal, que relação
pode existir entre a
sabedoria de Deus e
a velocidade da
luz? (Deus na
Natureza – Quarta
Parte. Plano
da Natureza -
Construção dos Seres
Vivos.)
C. Ao argumento de
que na obra da
Natureza há coisas
sem sentido, como os
seres sem utilidade
ou nocivos à espécie
humana, qual a
resposta dada por
Flammarion?
Segundo ele, o mundo
organizado é toda
uma harmonia imensa;
os monstros
mencionados nesta
obra são atestados
de unidade da lei e
do plano da
Natureza, e os seres
inúteis ou nocivos
ao homem são
manifestações da
força criadora e das
etapas gradativas. O
conjunto é o que
importa considerar,
e não o “habitat”
humano. (Deus na
Natureza – Quarta
Parte. Plano
da Natureza -
Construção dos Seres
Vivos.)
Texto para leitura
880. A fecundidade
de uns tantos
animais é tal, que,
abandonados a si
mesmos, em poucos
anos repletariam os
mares e envolveriam
a Terra numa crosta
da altura de uma
casa. Para que serve
essa organização?
Espaço e matéria não
bastam a uma tal
quantidade de
animais. Que fim
poderia ter a
Natureza
desenvolvendo uma
glândula mamária nas
costas de um homem
de 34 anos, fenômeno
este recentemente
observado e descrito
pelo Dr. Hobbe, de
Viena? Por que dar
três seios
completamente
formados a uma
mulher e quatro a
uma outra? E por
que, num cortiço de
abelhas, milhares de
zangões tão só
destinados ao
extermínio? Animais
há que jamais nadam
e, no entanto, têm
patas providas de
membranas
natatórias, enquanto
que aves aquáticas
importantes apenas
apresentam delgadas
membranas. (Deus
na Natureza – Quarta
Parte. Plano
da Natureza -
Construção dos Seres
Vivos.)
881. O ferrão da
vespa e da abelha
apenas lhes serve de
arma mortífera ao
inseto que o
experimenta, e assim
por diante. O
desígnio de um
Criador Onipotente e
onisciente deveria,
antes de tudo, ser
possível de
interpretação
racional. Se assim
fosse, não daria,
certo, órgãos
inúteis aos animais.
Qual a finalidade e
utilidade das formas
fetais transitórias,
nas quais os
mamíferos se
assemelham aos
peixes e aos
répteis, antes de
atingirem completa
formação? Para que
servem, no feto
humano, os arcos
bronquiais com suas
aberturas? Por que,
nos mamíferos,
órgãos rudimentares
que só se
desenvolvem nos
répteis? E por que,
nos mamíferos
machos, órgãos
genitais femininos
que se não
desenvolvem, e
vice-versa? (Deus
na Natureza – Quarta
Parte. Plano
da Natureza -
Construção dos Seres
Vivos.)
882. Tuttle não
percebe que estas
anomalias se
integram de si
mesmas no plano
geral, cuja lei de
progresso é
princípio e fim. O
autor de Força e
Matéria apega-se
com unhas e dentes a
esses artifícios, no
intuito de
dissimular a
cambalhota, trazendo
à baila todos os
monstros de terra e
mar. Sob estes
argumentos
exagerados há uma
verdade constante
que é, certo, uma
das maiores
dificuldades que se
nos podem opor. Por
nós, confessamos que
jamais se nos
deparou um aleijão,
que nos não
sentíssemos
molestados em nossas
convicções. O
Gabinete de Anatomia
de Estrasburgo, tão
rico de monstros
acéfalos e de
espécimes
teratológicos, não
nos desperta, neste
particular, nenhuma
atração. (Deus na
Natureza – Quarta
Parte.Plano da
Natureza -
Construção dos Seres
Vivos.)
883. Que alma teriam
tido esses fetos
detidos uns,
desviados outros, em
sua evolução normal?
Problema que nem
Santo Agostinho nem
São Tomás nos ajudam
a resolver, e que a
Ciência pouco
elucida.
Considerando, porém,
as coisas no seu
justo ponto de
vista, temos que aí
militam exceções
muito raras, de
sorte a não poderem
infirmar o ensino de
conjunto. Que uma
planta se empole
acima de um
ligamento; que as
veias intumesçam à
compressão do braço,
que impede o retorno
do sangue; que um
feto paralise a sua
evolução, ou que um
órgão se atrofie em
consequência de
particularidade
orgânica qualquer,
anomalias são essas
mais aparentes que
reais, a mostrarem
que as leis são
gerais, tanto quanto
não ser Deus um ser
mesquinho, cuja ação
se modele pelos
obstáculos
passageiros
produzidos pelo
homem, ou por
quaisquer acidentes,
quando por elas
induzem à
inexistência de
Deus, ou que Deus
deveria proceder de
acordo com as ideias
humanas.(Deus na
Natureza – Quarta
Parte.Plano da
Natureza -
Construção dos Seres
Vivos.)
884. Insistindo mais
especialmente acerca
das monstruosidades,
também nos advertem
da possibilidade de
as produzir
artificialmente com
uma simples lesão do
ovo ou do feto. A
Natureza, dizem, não
tem meios de reparar
esse mal e, muito ao
contrário, segue o
impulso recebido,
continua a operar na
falsa direção e
acaba engendrando um
monstro. “Haverá
quem possa duvidar
da ausência total de
inteligência e do
puro mecanismo deste
processo? Diante de
um fato desta ordem,
poder-se-á admitir
um criador
inteligente
governando a matéria
a seu nuto? Seria,
então, possível que
essa inteligência se
deixasse vencer ou
desviar pela vontade
arbitrária do
homem?” – eis o que
dizem os partidários
do materialismo. (Deus
na Natureza – Quarta
Parte. Plano
da Natureza -
Construção dos Seres
Vivos.)
885. Admiremos,
aqui, até onde ousam
levar esta crítica
às obras da Natureza[i].
Para que esses
senhores se
contentassem e se
dignassem fazer
justiça à
Inteligência que
rege o mundo, fora
preciso que a ordem
soberana e
inflexível cercasse
os seres de uma
couraça de aço
rígido. Admirais a
fina tessitura da
pele, uma cútis
acetinada, sua
alvura e
sensibilidade ao
menor contacto. E,
na verdade, não
tendes razão. Essas
qualidades, não
provam que a
Natureza tenha
operado
inteligentemente e
preparado ao mesmo
tempo as condições
sanitárias de um
corpo bem
constituído, assim
como as sensações
úteis ou agradáveis,
que essa carne
vibrátil venha a
experimentar. Não.
Esses filósofos
haveriam de preferir
o mármore ou o
ferro: “a Natureza
poderia ter agido de
forma que as balas
esfuziassem do corpo
e as espadas
acutilassem sem
ferir[ii].
Que tal esta
crítica? Eis aqui
uma criança que
acaba de nascer: se
lhe decepardes a
cabeça, essa cabeça
não tornará a
nascer. Estúpida
Natureza! que se
deixa, assim, anular
pelo arbitrário
capricho humano”... (Deus
na Natureza – Quarta
Parte. Plano
da Natureza -
Construção dos Seres
Vivos.)
886. E quereis ainda
conhecer uma outra
prova da
ininteligência de
Deus e da futilidade
dos que nele
acreditam? – Ei-la e
tomai bem nota,
porque é prova
irresistível. A luz,
cuja velocidade se
estima em 75.000
léguas por segundo,
não vai assaz
rapidamente. “A luz
atravessa tão
lentamente o
Universo, que seriam
precisos milhões de
anos para chegar de
uma a outra estrela.
Que se há de pensar
destas restrições
tão pouco sábias,
como manifestações
de uma vontade
criadora?[iii] Talvez
objeteis, ingênuo
leitor, que a maior
ou menor velocidade
da luz nada tem que
ver com a
inexistência de uma
vontade criadora.
Mas, nesse caso, é
que não percebestes
que esses escritores
julgam que Deus, se
existisse, deveria
ter as mesmas nossas
fantasias. (Deus
na Natureza – Quarta
Parte. Plano
da Natureza -
Construção dos Seres
Vivos.)
887. Ocorre que como
ao Sr. Büchner não
lhe apraz que a luz
apenas percorra
4.620.000 léguas por
minuto, é claro que
ela deveria correr
mais. Arrastando-se
assim penosamente no
espaço, é porque não
existe Criador. Isto
posto, podeis
perguntar qual a
cifra que agradaria
ao talentoso crítico
e sabereis que o
próprio Sr. B... não
o sabe ao certo e o
que só deseja, para
o momento, é que a
luz caminhe mais
depressa. Mas, a
despeito de tudo,
não nos devemos
formalizar por esta
inocente fantasia,
antes, pelo
contrário,
compartilhar do
mesmo nobre desejo.
Assim, confessamos
que veríamos com
prazer quaisquer
progressos de
rapidez na luz,
mesmo aqui por
baixo. (Deus na
Natureza – Quarta
Parte. Plano
da Natureza -
Construção dos Seres
Vivos.)
888. Aí estão,
dir-se-á, objeções
meramente ridículas.
Entretanto, as mais
sérias dificuldades
desaparecem por si
mesmas, quando o
homem deixa de
apresentar-se como
ponto de referência.
E isso é o que se
lhe impõe, de vez
que é, ele próprio,
parte integrante de
um plano geral,
extensivo a outros
mundos, na
imensidade da
Criação. Se o Cid,
se Andrômaco –
advertimos com E.
Bersot[iv] –
ressuscitassem para
se verem
representados por
Corneille e Racine –
tendo em vista o
belo papel que lhes
atribuíram, o relevo
em relação a outras
personagens, a
predileção do poeta
neles concentrada –
diriam, seguramente,
que Corneille e
Racine tiveram em
mira erguer um
monumento à sua
glória, e mais: que
são eles finalidade
da obra, a sua mola
real, e que os
demais comparsas
apenas vêm à cena
por causa deles... A
verdade é que o
objetivo do autor é
realizar o belo,
cuja perspectiva o
inflama; é traduzir
na linguagem dos
homens o ideal
invisível. As
personagens não
passam de
instrumentos. Não
temos aí uma justa
imagem da Criação?
Tem graça, então,
ver como algum dos
atores, chamados à
cena para balbuciar
um só vocábulo em
toda a peça, imagina
que o teatro foi
construído e
ornamentado para ele
e que estivera vazio
até então etc.(Deus
na Natureza – Quarta
Parte.Plano da
Natureza -
Construção dos Seres
Vivos.)
889. A ilusão dos
sentidos e a vaidade
aí se juntam para
induzir-nos em erro.
O fim da Ciência é
libertar-nos da mais
funesta superstição,
dos inimigos da
verdade. Deixem-se
os teólogos de
invocar as causas
finais, pois não há
como ser juiz e
parte ao mesmo
tempo. O mundo
organizado é toda
uma harmonia imensa;
os monstros de que
falamos são
atestados de unidade
da lei e do plano da
Natureza, Os seres
inúteis e os nocivos
ao homem são
manifestações da
força criadora e das
etapas gradativas. O
conjunto é o que
importa considerar,
e não o “habitat”
humano. À face desse
panorama,
esvanecem-se todas
as objeções
derivadas de uma
acanhada aplicação
ao homem.
Concentremos agora a
nossa atenção na
construtividade
inteligente dos
órgãos destinados a
transmitir ao
cérebro o
conhecimento do
mundo exterior, isto
é, dos sentidos e,
particularmente, da
vista. A beleza da
conformação ótica do
olho não há quem
possa contestar.
Afirmar que ele foi
feito para ver, como
o ouvido para ouvir,
é cometer pleonasmo.
Repetir que a sua
organização é mais
perfeita que a de
qualquer câmara
fotográfica é
incidir em
banalidade. Mas,
para combater o
adversário no mesmo
pé e no mesmo
terreno, importa
entrar em detalhes
por um momento e
invocar a descrição
anatômica do olho.(Deus
na Natureza – Quarta
Parte.Plano da
Natureza -
Construção dos Seres
Vivos.) (Continua
no próximo número.)
[i] Já
registramos
que esta
crítica é
velha quanto
o mundo. Diz
Lucrécio:
(parte 5ª)
“como é que
as vagas dos
elementos
criadores
fundaram o
céu, a
Terra,
cavaram o
fundo oceano
e dirigiram
o curso do
Sol e dos
astros?
Repito: este
conjunto não
pode ser
obra de
inteligência;
os elementos
do Universo
não poderiam
ter meditado
a ordem que
a eles
preside, não
combinaram
de antemão o
surto e o
movimento
que deveriam
sustentar
mutuamente a
verdade,
porém, é
que,
infinitos em
número,
esses
elementos
sacudidos em
todas as
direções,
submetidos
de toda a
eternidade a
choques
estranhos
levados pelo
próprio
peso,
atraídos,
reunidos em
todos os
sentidos,
tentaram,
tomaram,
abandonaram
e retomaram
todas as
combinações
e, à custa
de
movimentos
conjuntivos,
coordenando-se,
engendraram
essas
grandes
massas, que
se tornaram
mais ou
menos no
primitivo
esboço da
Terra, do
céu, dos
mares e das
espécies
animadas.”
[ii]
Büchner – Força
e Matéria,
capítulo
11º.
[iv] Du
Spiritualisme
et de la
Nature.