Provisão de beijos
No capítulo Eu, do livro Memórias,
publicado em 1933, o escritor brasileiro Humberto de
Campos narra episódios da sua primeira infância, de que
se lembrava ainda, considerada do nascimento à morte do
pai, quando ele contava seis anos. Diz ter sido um
menino casmurro e antipático e que, talvez por isso, não
recebia a atenção e o carinho que os adultos dedicavam
às outras crianças. Retraía-se, alimentando tristeza e
rebeldia.
Num belo trecho de autêntica avaliação psicológica que
faz desse período infantil, a certa altura, Humberto
diz: A ideia que tenho, assim, hoje, é de que, nessa
idade em que se faz provisão de beijos para a vida toda,
cercava-me uma atmosfera de prevenção ou de desprezo,
que me doía e revoltava.
Humberto de Campos não poderia ter sido mais preciso e
oportuno ao lembrar, com o próprio exemplo, a
necessidade que têm todas as crianças das doses
permanentes de afeto, principalmente dos familiares. O
efeito desse remédio afetivo, administrado com amor e,
conforme a necessidade, com energia também, continuará
agindo no adulto de amanhã. A atenção e o carinho que se
dá a uma criança é investimento moral para o futuro. É o
elemento que dará origem à sociedade mais fraterna e
solidária que tanto sonhamos.
(Leia mais em “O menino livre de Miritiba”,
idelivraria.com.br.)
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