A. Dentre as
criações
maravilhosas
das quais se
repleta a
Natureza,
qual é
considerada
por Euler a
mais
engenhosa?
O mecanismo
da visão,
que permite
que os
objetos
exteriores
passem do
campo físico
ao mental,
tornem-se
acessíveis
ao espírito
e deixem-se
tatear, como
se deles não
nos
separasse
qualquer
distância.
Depois de
haver
ponderado a
estrutura do
órgão
visual,
Euler disse:
“O olho
ultrapassa,
portanto,
infinitamente,
todas as
máquinas que
o engenho
humano possa
construir.
As diversas
matérias
transparentes
de que ele
se compõe
têm, não
apenas um
grau de
densidade
capaz de
causar
refrações
diferentes,
como bem
determinada
se apresenta
a sua
configuração,
de sorte que
todos os
raios saídos
de um ponto
do objeto
são
exatamente
reunidos num
mesmo ponto,
ainda que o
objeto
esteja mais
ou menos
distante,
situado
direta ou
obliquamente,
e que seus
raios sofram
refração
diferente”. (Deus
na Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da Natureza
- Construção
dos Seres
Vivos.)
B. O olho e
sua
estrutura
poderiam ser
construídos
sem
conhecimento
da Ótica?
Claro que
não, diz
Flammarion.
Segundo ele,
essa
estrutura
demonstra,
sem
contestação
possível,
não só a
existência
de uma
inteligência
conhecedora
da Ótica,
mas também
capaz de lhe
submeter às
leis todos
os
movimentos
da matéria. (Deus
na Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da Natureza
- Construção
dos Seres
Vivos.)
C. Aos que
defendem a
tese dos
materialistas
de que o
órgão visual
é fruto
simplesmente
do jogo da
matéria e
independente
de
inteligência,
que diz
Flammarion?
Segundo
Flammarion,
é preciso
audácia para
defender
tais ideias.
Se a luneta
astronômica,
que não
passa de
grosseiro
arranjo de
lentículas,
testifica ao
senso comum
a
intervenção
de um
técnico,
como poderia
a lente do
homem,
infinitamente
superior a
todo e
qualquer
aparelho
físico, ser
considerada
obra
espontânea
do acaso?
Pois isso é
o que
propugna a
escola
materialista:
o olho
formou-se
por si
mesmo! (Deus
na Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da Natureza
- Construção
dos Seres
Vivos.)
Texto para
leitura
890. A visão
nos olhos do
homem, como
nos do
animal –
dizia Euler
– é coisa
maravilhosa.
A forma do
globo é, em
geral,
esférica e
compõe-se de
três
folhetos. A
membrana
mais
superficial
chama-se
esclerótica
(branco do
olho), é
opaca, assaz
espessa e
cerca mais
ou menos os
três quartos
posteriores
do globo
visual,
dando-lhe
consistência
e forma. Sua
parte
anterior
apresenta
uma abertura
arredondada,
na qual se
embute a
córnea
transparente.
A essa
membrana
estão
ligados os
músculos
destinados a
movimentar o
globo. Por
baixo dessa
primeira
membrana
fica a
coroide, de
cor negra
retinta, que
faz do olho
uma
verdadeira
câmara-escura,
absorvendo
os raios que
pudessem
irritar a
retina; em
sua parte
anterior,
ela forma um
como
repartimento
diafragmático,
chamado
íris, disco
circular com
um orifício
central e
colorido de
diversos
matizes,
cuja suave
atração é,
às vezes,
maravilhosamente
poderosa.(Deus
na Natureza
– Quarta
Parte.Plano
da Natureza
- Construção
dos Seres
Vivos.)
891. O
orifício
central é a
chamada
pupila (ou
menina dos
olhos) e nós
sabemos que
ela nada tem
de objetivo,
como se
afigura, e
sim, apenas,
uma abertura
que se
dilata, mais
ou menos,
conforme a
quantidade
de luz que
os olhos
recebem,
pois que a
íris goza da
propriedade
curiosa de
se contrair
ou dilatar
para
tornar-se,
assim, um
graduador
indispensável.
É por essa
abertura
variável da
íris que os
raios
luminosos
penetram na
câmara-escura
que lhe fica
por trás.
Uma lente
biconvexa lá
está
suspensa,
para receber
esses raios:
é o
cristalino. (Deus
na Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da Natureza
- Construção
dos Seres
Vivos.)
892. Toda a
parte
posterior, a
partir dessa
lente até o
fundo do
olho, está
cheia de
massa
gelatinosa,
diáfana,
semelhante à
clara de ovo
e conhecida
por humor
vítreo.
Finalmente,
atrás desse
humor e
defronte da
pupila,
localiza-se
a mais
delicada e
importante
das
membranas, a
placa
sensível,
que recebe a
imagem e,
comunicando-se
com o
cérebro, lhe
dá a
percepção: é
a retina,
uma floração
do nervo
ótico,
proveniente
do cérebro.
Vê-se, pois,
sem
metáfora,
que é o
cérebro que
se vem
colocar à
janela para
ver o mundo
exterior. O
prolongamento
da retina
forra toda a
zona
posterior e
interna dos
olhos. (Deus
na Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da Natureza
- Construção
dos Seres
Vivos.)
893. O
cristalino,
lente pela
qual passam
todos os
raios
luminosos, a
fim de
chegar à
retina,
pode, com
extraordinária
facilidade,
modificar a
cada
instante a
sua flexão,
de maneira a
adaptar-se à
distância e
levar
constantemente
à retina uma
imagem
nítida. Mas,
como
concebermos
possa esse
cristal
orgânico
dilatar-se e
retrair-se
assim, à sua
vontade? Sem
concebermos
esta
possibilidade,
fora preciso
uma
estrutura
ainda mais
admirável
que o
próprio
efeito. É
preciso
saber que
esse globo
lenticular
não é nenhum
sólido
constituindo
uma peça
inteiriça,
mas, antes,
uma
associação
de
finíssimas
lâminas
transparentes,
justapostas
e tão
delgadas que
preciso fora
reunir um
milhar para
perfazer a
espessura de
uma unha e
que, na
realidade, o
cristalino
contém assim
uma como
bagatela de
cinco
milhões.
Considere-se,
ainda, que
essas
lâminas, por
sua vez, se
compõem de
pequenos
fragmentos
soldados
entre si, e
que é o jogo
desses
fragmentos
que produz a
extraordinária
mobilidade
interna
dessa lente
diáfana. (Deus
na Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da Natureza
- Construção
dos Seres
Vivos.)
894. Aí
estão as
criações
maravilhosas,
das quais se
repleta a
Natureza, e
que passam
comumente
despercebidas!
Mediante
essa
estrutura
engenhosa
quão
inimitável
da vista, os
objetos
exteriores
passam do
campo físico
ao mental,
tornam-se
acessíveis
ao espírito
e deixam-se
tatear, como
se deles não
nos
separasse
qualquer
distância. É
um mecanismo
que se molda
a todas as
contingências.
De si mesmo
e a nosso
nuto, ele se
adapta às
variações de
luz, como as
de espaço, e
faz o que
nenhum outro
instrumento
é capaz de
fazer, isto
é, sabe
distinguir
os corpos
celestes a
distâncias
enormes,
tanto quanto
os seres
microscópicos
que se lhe
acercam de
centímetros.
Brewster tem
razão quando
o denomina
“sentinela
que guarda a
passagem
entre os
mundos
material e
espiritual,
executando a
permuta de
suas
comunicações”. (Deus
na Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da Natureza
- Construção
dos Seres
Vivos.)
895. Nós
compreendemos
que, depois
de haver
ponderado a
estrutura do
órgão
visual,
Euler tenha
dito: “O
olho
ultrapassa,
portanto,
infinitamente,
todas as
máquinas que
o engenho
humano possa
construir.
As diversas
matérias
transparentes
de que ele
se compõe
têm, não
apenas um
grau de
densidade
capaz de
causar
refrações
diferentes,
como bem
determinada
se apresenta
a sua
configuração,
de sorte que
todos os
raios saídos
de um ponto
do objeto
são
exatamente
reunidos num
mesmo ponto,
ainda que o
objeto
esteja mais
ou menos
distante,
situado
direta ou
obliquamente,
e que seus
raios sofram
refração
diferente. À
mínima
alteração
que se
operasse na
natureza e
na
configuração
das matérias
transparentes,
o olho
perderia
desde logo
todas as
vantagens
que acabamos
de admirar”. (Deus
na Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da Natureza
- Construção
dos Seres
Vivos.)
896. Nada
obstante, os
ateus ousam
sustentar
que os
olhos, bem
como o mundo
inteiro, não
passam de
obra de mero
acaso. Nada
encontram
eles, em
tudo isso,
digno de sua
atenção. Não
reconhecem
na estrutura
do globo
visual
indício
qualquer de
sabedoria;
antes,
acreditam
haver motivo
para
lastimar-lhe
a
imperfeição,
de vez que
não domina a
obscuridade,
não
atravessa
uma parede,
não
distingue as
particularidades
de um objeto
mais
distanciado,
quais a Lua
e outros
corpos
celestes.
Gritam eles,
em alto e
bom som, que
o olho nada
é que
indique um
desígnio e
foi feito ao
acaso, como
qualquer
fruto
silvestre,
pelo que
fora absurdo
dizer que
tivemos
olhos para
podermos
ver. O que
se conclui é
que, ao
invés, tendo
recebido
ocasionalmente
os órgãos,
deles nos
aproveitamos
tanto quanto
o permite a
Natureza. É
inútil
discutir com
essa gente:
inabalável
nas suas
convicções,
ela despreza
as coisas
mais
respeitáveis.
Suas
presunções a
respeito dos
olhos,
vê-se, são
absurdas
quanto
injustas[i]. (Deus
na Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da Natureza
- Construção
dos Seres
Vivos.)
897. Os
raios que ao
nosso
cérebro
transmitem o
aspecto dos
objetos,
penetram no
olho,
obedecendo
às leis da
refração, em
virtude das
quais as
substâncias
do olho se
encontram de
si mesmas
dispostas. A
íris enche o
globo ocular
e exerce, em
relação aos
raios
luminosos, o
papel de
diafragma. A
chispa
central,
luminosa,
que
atravessa a
pupila,
atinge logo
o
cristalino;
esses raios
são
fortemente
aproximados
por essa
lente
biconvexa,
mas, sem que
daí resulte
decomposição
de raios
luminosos,
assim
facultando a
coloração
prismática
objetiva.
Esse
perfeito
acromatismo,
tão rara e
dificilmente
obtido na
construção
das
objetivas, é
devido à
diferença de
densidade
das
numerosas
camadas
concêntricas
do
cristalino.(Deus
na Natureza
– Quarta
Parte.Plano
da Natureza
- Construção
dos Seres
Vivos.)
898. Os
raios
luminosos,
tornando-se
fortemente
convergentes
ao
atravessarem
o cristalino
e, mais
ainda, pelo
humor vítreo
que se lhe
segue,
tendem a
reunir-se
num foco
comum e a
formar uma
imagem que
se vai
desenhar na
superfície
da retina. O
olho se
adapta,
pois, de si
mesmo, às
distâncias,
seja pela
contração da
íris, seja
pelo
alongamento
ou retração
do eixo do
cristalino.
Ao demais,
exposto,
devido à sua
posição, a
numerosas
alterações,
a Natureza
tomou as
maiores
precauções
em sua
garantia.
Assim, para
subtraí-lo a
uma
excessiva
excitação
luminosa,
dispôs na
parte
anterior as
pálpebras
movediças,
guarnecendo-as
de cílios
protetores,
e cujo
interior se
forra de
membrana
delicadíssima,
lubrificada
com a
secreção de
uma glândula
situada na
abóbada
orbitária, a
verter de
seis ou sete
pequeninos
canais que
se abrem ao
alto da
pálpebra
superior.(Deus
na Natureza
– Quarta
Parte.Plano
da Natureza
- Construção
dos Seres
Vivos.)
899. Ante a
descrição
anatômica do
globo
visual, que
desejaríamos
poder
ilustrar
direta ou
graficamente,
a nós mesmos
nos
perguntamos,
como Newton,
“se o olho
poderia ser
feito sem
conhecimento
da Ótica”,
para
responder,
com o
ilustre
pensador,
que essa
estrutura
demonstra,
sem
contestação
possível,
não só a
existência
de uma
inteligência
conhecedora
da Ótica,
mas também
capaz de lhe
submeter às
leis todos
os
movimentos
da matéria. (Deus
na Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da Natureza
- Construção
dos Seres
Vivos.)
900.Efetivamente,
é preciso
audácia
para, diante
da
construção
portentosa
do órgão
visual,
pretendê-la
originária
de uma força
cega e
ignorante,
simples jogo
da matéria e
independente
de
inteligência.
Se a luneta
astronômica,
que não
passa de
grosseiro
arranjo de
lentículas,
testifica ao
senso comum
a
intervenção
de um
técnico,
como poderia
a lente do
homem,
infinitamente
superior a
todo e
qualquer
aparelho
físico, ser
considerada
obra
espontânea
do acaso?
Pois isso –
pesa dizê-lo
– é o que
propugna a
escola
materialista!
O olho
formou-se
por si
mesmo! Este
fato
importante é
uma
aquisição
dessa
meia-ciência,
realizada em
duas fases,
a primeira
com Darwin e
a segunda
com
Büchner. (Deus
na Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da Natureza
- Construção
dos Seres
Vivos.)
901. Büchner
nos diz que
ao escrever,
há sete
anos, sobre
a
inexistência
de Deus, não
esperava que
os
progressos
constantes
da Natureza
lhe
fornecessem,
tão cedo,
“provas tão
exatas e
convincentes”,
em apoio de
sua
doutrina, e
essas provas
é Darwin
quem se
encarrega de
as editar.
Está, enfim,
provado (?)
que o olho,
órgão dos
mais
perfeitos do
corpo animal
(o Sr. B.
confessa-o)
desenvolveu-se
insensivelmente
de um
simples
nervo
sensitivo! O
Sr. Büchner
exulta de
alegria com
esse feito,
ou por
melhor
dizer, com
essa teoria
que lhe
prova, a seu
ver, a
inexistência
de Deus. (Deus
na Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da Natureza
- Construção
dos Seres
Vivos.)
902. Ouçamos
o próprio
Darwin,
vejamos se o
fato está
bem
comprovado e
se, mesmo
neste caso,
a explicação
secundária
suprime a
existência
de Deus:
“Antes de
tudo[ii],
parece,
confesso,
estranhável
absurdo
supormos que
o olho, tão
admiravelmente
construído
para
suportar
mais ou
menos luz,
para ajustar
o foco dos
raios
visuais a
diferentes
distâncias e
a corrigir a
aberração
esférica e
cromática,
possa
formar-se
por seleção
natural.
“E contudo,
quando pela
primeira vez
foi dito que
o Sol estava
imóvel e a
Terra
girava, o
bom senso
declarou
falsa a
teoria.
Todos os
filósofos
sabem que,
em matéria
de Ciência,
não podemos
confiar no
velho adágio
– vox
populi, vox
Dei. A
razão me diz
e assegura
podermos
demonstrar
inúmeros
graus de
transição
entre o
globo mais
perfeito e
complicado e
o mais
simples e
imperfeito.
Cada um
desses graus
de perfeição
aproveita
utilmente a
quem o
desfruta.
Se, de
resto, o
olho varia
algumas
vezes, por
pouco que
seja, e se
as variações
se herdam, o
que se pode
demonstrar
por fatos;
se, enfim,
as variações
ou
modificações
do órgão
jamais
puderam ter
alguma
utilidade
para um
animal
colocado em
condições
mutáveis de
existência;
desde logo
ressalta o
pressuposto
de que um
olho
perfeito e
complicado
pode ter
sido formado
por seleção
natural e
esta
rigorosamente
considerada
como
verdadeira.
Como pode um
nervo
tornar-se
sensível à
luz? É um
problema que
nos importa
tão pouco
quanto o da
origem da
vida em si
mesma.
“Devo apenas
dizer que
vários fatos
me levam a
crer que os
nervos
sensíveis ao
contacto
podem
tornar-se
sensíveis à
luz, bem
como às
vibrações
menos sutis,
produtoras
do som.” (Deus
na Natureza
– Quarta
Parte.Plano
da Natureza
- Construção
dos Seres
Vivos.) (Continua
no próximo
número.)
[i] Lettre
à
une
Princesse
d’Aliemagne,
41º.
[ii] On
the
origin
of
species
by
means
of
natural
seleotion.