O comportamento espírita-cristão
O Espiritismo oferece recursos para superar aflições e
desequilíbrios
“Na verdade, é já realmente uma falta entre vós terdes
demandas uns contra os outros. Por que não sofreis,
antes, a injustiça? Por que não sofreis, antes, o dano?” - (Paulo,
I Cor., 6:7.)
A questão das demandas aqui analisadas transcende o
âmbito das alçadas dos tribunais, vez que elas (as
demandas) expressam-se em uma escala muito mais ampla no
cerne dos lares e das instituições.
Esclarece Emmanuel: “aí
se movimentam através do desregramento mental e da
conversação em surdina, no lodo invisível do ódio que
asfixia corações e anula energias ao óleo da animosidade
recalcada.
De modo geral, inúmeras criaturas preferem a atitude
agressiva, de espada às mãos, esgrimindo com calor na
ilusória suposição de operar o conserto do próximo.
Prontos a protestar, a acusar e criticar com grande
estardalhaço, costumam esclarecer que servem à Verdade.
Por que motivo, porém, não exemplificam a própria fé,
suportando a injustiça e o dano heroicamente, no
silêncio da alma fiel, antes da opção por qualquer
revide?
Quantos lares seriam felizes, quantas instituições se
converteriam em permanentes mananciais de luz, se os
crentes do Evangelho aprendessem a calar para falar, a
seu tempo, com proveito!”
Se já estamos na Doutrina Espírita há algum tempo e o
nosso comportamento frente às injustiças, calúnias,
vicissitudes, morte ainda é o mesmo de antes, significa
isso que apenas estamos superficialmente no Espiritismo,
mas o Espiritismo não está em nós.
Sendo Jesus nosso “Modelo
e Guia”, conforme assertiva dos Espíritos Superiores,
e sendo Espírita somente aquele que “se
esforça – perseverantemente – para reformar-se
moralmente e combater suas más inclinações”,
não é digno de ser chamado discípulo do Cristo ou
Espírita senão aquele que satisfaça essas condições.
O discurso de Jesus, para
o discípulo sincero, deverá ser o parâmetro
comportamental para o curso de sua vida. Há que se
compreender tudo isso, ter convicção mesmo, porque“o
primeiro e mais imediato efeito da adoção das diretrizes
da Doutrina Espírita é a transformação moral do homem,
que serve de base para a sua constante renovação
interior, comandando-lhe o “modus-vivendi”.
Pela mediunidade de
Divaldo Pereira Franco, aprendemos com Vianna de
Carvalho que
“(...) com muita justeza, Allan Kardec situa, na
transformação do homem, o efeito positivo do
Espiritismo, porque elucida a gênese dos problemas que
afetam o indivíduo e simultaneamente oferece os recursos
para equacionar as dificuldades de qualquer natureza,
que produzam aflição e desequilíbrio.
Doutrina de Responsabilidade pessoal conscientiza a
criatura dos deveres para com a vida e dos resultados
que defluem dos seus próprios atos, sendo, ele próprio,
o semeador e o colhedor da gleba que lhe diz respeito.
A adoção do Espiritismo faz-se revelada, quando o
indivíduo é de caráter rebelde e torna-se dócil;
agressivo e faz-se gentil; tirano e modifica-se para
compassivo; avaro e passa a ser generoso; maledicente e
adota a compreensão; intolerante e transforma-se em
piedoso; atrabiliário e converte-se em equilibrado;
perturbador e apresenta-se pacificado... Quando consegue
sair da faixa das depressões para o otimismo; do medo
para a confiança; do ódio para o amor; da vingança para
a solidariedade; da violência sistemática para a
fraternidade; do orgulho para a humildade... Quando a
confiança substitui a suspeita pertinaz; a esperança
toma conta da paisagem da dúvida; a alegria sem exagero
sobrepõe-se à tristeza causticante; a prece revela-se um
hábito em lugar da blasfêmia ou da revolta surda...
Quando a doença de qualquer espécie deixa de ser
desgraça para converter-se em processo de purificação e
os problemas em geral recebem lentas, mas, seguras
soluções reais, aquelas que lhes vão às nascentes,
impondo terapia de paz e alegria... Quando a morte de um
ser amado não representa infortúnio traumatizante, antes
sendo uma libertação que traz conforto e serenidade.
Já não ressuma vibrações deletérias, antes habituais,
porém, atrai com magnetismo benéfico, irradiando
bem-estar que aos outros contagia. Confia em Deus, sem
misticismo pernicioso, e age com perseverança, na mesma
postura, seja no júbilo ou sob dificuldades, mantendo a
mesma positiva insistência no bem.
Silencia o mal e não o vitaliza; acolhe a perseguição e
não revida; entende cada qual no estágio em que se
encontra, conforme as suas conquistas morais; sem
impor-se, libera aqueles que lhe compartem a vida sem a
mesquinhez do domínio enganoso; sofre, porém não
desanima, mesmo quando outros desertam... É, em suma,
feliz, sem embargo das conjunturas naturais que
defronte”.
-
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 88.
ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, q. 625.
-
KARDEC, Allan. O Evangelho seg. o Espiritismo. 125.
ed. Rio: FEB, 2006, cap. XVII, item 4, § 5º.