Continuamos o estudo da RevueSpirite correspondente
ao ano de 1863. O texto condensado do volume será aqui
apresentado em 16 partes, com base na tradução de Júlio
Abreu Filho publicada pela EDICEL.
Questões para debate
A. Que é preciso para afastarmos os maus Espíritos?
B. Por que o Espiritismo agrada tanto às pessoas que o
conhecem?
C. A prece feita em intenção daquele que faleceu produz
resultado?
Texto para leitura
62. Kardec refere ainda, baseado em relato do Dr.
Chiara, que certa vez houve na igreja, onde os doentes
tinham sido reunidos, um tumulto horrível. As mulheres
caíram em crise ao mesmo tempo, derrubando e quebrando
os bancos da igreja e rolando pelo chão, de mistura com
homens e crianças, que tentavam contê-las. A seguir,
elas proferiram juras horríveis e incríveis,
interpelando os sacerdotes em termos bastante
injuriosos. Foi aí que cessaram as cerimônias públicas
de exorcismo, que passou a ser feito a domicílio, sem
quaisquer resultados, até que a prática foi encerrada de
vez. (P. 138)
63. Resultado diverso se obteve em Moscou, onde na mesma
ocasião os habitantes de uma aldeia foram também
atingidos por um mal em tudo semelhante ao de Morzine –
as mesmas crises, as mesmas convulsões, as mesmas
blasfêmias, as mesmas injúrias contra os padres e a
mesma impotência de exorcistas e médicos. Conta o Sr.
A... que um de seus tios, o Sr. R..., de Moscou,
poderoso magnetizador e homem de bem por excelência, de
coração muito piedoso, tendo visitado aqueles infelizes,
parava as convulsões mais violentas pela simples
imposição das mãos, acompanhada de fervorosa prece.
Repetindo o ato, ele acabou curando quase todos
radicalmente. (P. 138)
64. É preciso que o agente da cura tenha o coração
piedoso, contribuindo para que os que sofrem o mal se
elevem moralmente, pois este é o mais seguro meio de
neutralizar a influência dos maus Espíritos e de
prevenir a volta do que se passou, porquanto os maus
Espíritos só se dirigem àqueles a quem sabem poder
dominar e não àqueles a quem a superioridade moral – não
dizemos intelectual – encouraça contra os ataques. (P.
139)
65. Kardec conclui o artigo advertindo que ninguém creia
na virtude de talismãs, amuletos, signos ou palavras
para afastar os maus Espíritos. A pureza de coração e de
intenção, o amor de Deus e do próximo, eis o melhor
talismã. (P. 139)
66. Segundo São Luís, guia da Sociedade Espírita de
Paris, os possessos de Morzine estavam realmente sob a
influência de Espíritos atraídos para aquela região por
causas que um dia serão conhecidas. “Se todos os homens
fossem bons - diz São Luís - os maus Espíritos deles se
afastariam porque não poderiam os induzir ao mal. A
presença dos homens de bem os faz fugir; a dos homens
viciosos os atrai, ao passo que se dá o contrário com os
bons Espíritos.” (P. 140)
67. Com o título “Algumas refutações”, Kardec refere-se
às prédicas que se intensificavam, à época, com o
objetivo de denegrir a doutrina espírita e desmoralizar
seus partidários. O conteúdo dos ataques - afirma o
Codificador - é geralmente o mesmo. Parte do clero
considerava o Espiritismo uma mistura de horrores que só
a loucura poderia justificar. Kardec alinha, em seu
artigo, algumas das objeções feitas e lhes dá a resposta
cabível. (PP. 140 a 145)
68. Eis alguns dos pontos que merecem destaque nos
comentários de Kardec: I) O Espiritismo também reconhece
como profanação chamar os mortos levianamente, por
motivos fúteis e, sobretudo, para fazer disto profissão
lucrativa. II) Se a crença nas penas eternas alimentadas
pela Igreja constituem um freio poderoso, por que a
humanidade chegou ao ponto em que se encontra, no qual
as prevaricações, os vícios, a corrupção e as guerras
parecem jamais ter fim? III) Se a Igreja julga sua
segurança comprometida com o ataque a essa crença, é o
caso de lamentá-la por repousar sobre uma base tão
frágil, porquanto, se tem ela um verme roedor, esse
verme é o dogma das penas eternas. IV) Os grupos e
sociedades espíritas na França não abrem as portas ao
público para pregar sua doutrina aos transeuntes. O
Espiritismo se prega por si mesmo e pela força das
coisas. V) O Espiritismo agrada às pessoas porque não se
impõe e por causa de sua doçura, das consolações que
proporciona, da fé inabalável que propicia. VI) A
doutrina espírita se apoia em fatos irrecusáveis que
desafiam toda negação: eis o segredo de sua tão rápida
propagação. (PP. 140 a 145)
69. Falando sobre sua desencarnação, o Espírito de
Philibert Viennois relata: I) A viagem da morte é um
sono para o justo; a ruptura é natural; mas, ao primeiro
despertar, que admiração! Como tudo é novo, esplêndido,
maravilhoso! II) Os Espíritos que ele amava e amigos de
precedentes encarnações acolheram-no e abriram-lhe as
portas da existência verdadeira. Na sequência, Viennois
disse que a prece que Kardec fez em sua intenção
comovera muitos Espíritos levianos e incrédulos que
estavam presentes à reunião, e serviria para o seu
adiantamento. A prece proferida por Kardec foi
transcrita em seguida à comunicação. (PP. 145 a 148)
70. Num sermão pregado contra o Espiritismo, o orador,
pensando com isso dar um golpe mortal nas ideias
espíritas, relatou que, três semanas atrás, uma senhora
que perdera o marido foi procurada por um médium. Este
ofereceu-se para obter uma mensagem do falecido, o qual,
valendo-se da escrita, contou à esposa que não tinha
sido digno de entrar no repouso dos bem-aventurados e
por isso se viu obrigado a reencarnar imediatamente para
expiar seus pecados. Adivinhem onde? A um quilômetro
dali, na propriedade de um moleiro, na pessoa de um
jumentinho. A mulher foi e comprou o animal,
instalando-o devidamente num cômodo especial de sua
casa. (PP. 148 e 149)
71. Kardec, após relatar a anedota, diz que o orador
demonstrou que critica o que não conhece, visto que o
Espiritismo ensina, sem equívoco, que o Espírito não
pode animar o corpo de um animal e vice-versa. (P. 149) (Continua
no próximo número.)
Respostas às questões
A. Que é preciso para afastarmos os maus Espíritos?
Os maus Espíritos só se dirigem àqueles a quem sabem
poder dominar e não àqueles a quem a superioridade moral
– não dizemos intelectual – encouraça contra os ataques.
Ninguém creia na virtude de talismãs, amuletos, signos
ou palavras para afastar os maus Espíritos. A pureza de
coração e de intenção, o amor de Deus e do próximo, eis
o melhor talismã. (Revue Spirite de 1863, p.
139.)
B. Por que o Espiritismo agrada tanto às pessoas que o
conhecem?
Segundo Kardec, o Espiritismo agrada às pessoas porque
não se impõe e por causa de sua doçura, das consolações
que proporciona, da fé inabalável que propicia. (Obra
citada, págs. 140 a 145.)
C. A prece feita em intenção daquele que faleceu produz
resultado?
Sim, a prece é sempre útil. Segundo relato do Espírito
de Philibert Viennois, a prece que Kardec fez em sua
intenção comovera muitos Espíritos levianos e incrédulos
que estavam presentes à reunião, e serviria para o seu
adiantamento. (Obra citada, pp. 145 a 148.)