Questões vernáculas

por Astolfo O. de Oliveira Filho

No Brasil são raras as pessoas que jamais ouviram falar da lã de aço produzida pela firma Bombril S.A., cuja marca – bombril – adquiriu a condição de substantivo comum, devidamente registrado pelos melhores dicionários do idioma português. No Dicionário Priberam, editado em Portugal, o verbete figura com o seguinte significado: Bombril: substantivo masculino - [Brasil] Esfregão de palha de aço.

“Bombril tem 1001 utilidades” – eis um slogan que, devido ao sucesso que alcançou, assinalou um momento marcante na história da publicidade brasileira.

Foi devido a esse slogan que o jornalista e professor universitário Francicarlos Diniz, autor de “Coisas do Português: A língua nossa de cada dia”, escreveu, a propósito das inúmeras utilidades da palavra “coisa”:

A palavra "coisa" é um bombril do idioma. Tem mil e uma utilidades. É aquele tipo de termo-muleta ao qual a gente recorre sempre que nos faltam palavras para exprimir uma ideia. Coisas do português.

No texto que redigiu sobre o assunto, Franciscarlos Diniz apresenta inúmeros exemplos de como a palavra “coisa” assume significados diversos e se encaixa perfeitamente nos mais diferentes contextos:

«Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça (...)» (Tom e Vinícius, em Garota de Ipanema)

«Alguma coisa acontece no meu coração» (Caetano Veloso, em Sampa)

"Prepare seu coração / Pras coisas que eu vou contar" (Geraldo Vandré, em Disparada)

"Pra ver a banda passar / Cantando coisas de amor" (Chico Buarque, em A Banda)

«Ô coisinha tão bonitinha do pai» (Almir Guineto e Jorge Aragão, em Coisinha do Pai).

«... deixemos de coisa, cuidemos da vida, senão chega a morte ou coisa parecida» (Fagner, em Canteiros, canção baseada no poema Marcha, de Cecília Meireles)

Diversas locuções, frases ou expressões próprias do idioma português são compostas com a palavra “coisa”.

Eis algumas delas:

Aqui há coisa – expressão que indica que algo levanta suspeitas ou dúvidas.

Cheio das coisas – cheio de si.

Coisa à toa – sem importância, desprezível.

Entender o espírito da coisa – compreender o fato ou a situação exposta.

Coisa de – aproximadamente, cerca de.

Coisas da breca – coisas inexplicáveis, espantosas.

Coisas do arco-da-velha – histórias extraordinárias, inverossímeis.

Como quem não quer a coisa – dissimuladamente.

Fazer as coisas pela metade – não terminar aquilo que se começou.

Não dizer coisa com coisa – ter um discurso desconexo; dizer disparates, coisas sem sentido.

Não ser lá grande coisa – não ser particularmente bom ou extraordinário.

Ou coisa que o valha – ou algo  parecido.

Que coisa! – exclamação que se usa para exprimir espanto, desagrado ou irritação.

Ver as coisas malparadas – prever insucesso ou perigo quando da realização de algo.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita