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por Silas Lourenço

 
O inferno são os outros?


“Aproveite este dia para reconciliar-se com alguém que não tem coragem de achegar-se a você.” - Marco Prisco.


Conforme a divisão proposta por Allan Kardec em O Evangelho segundo o Espiritismo e como se tornou notório no meio espírita, sabemos que o nosso é um mundo de Expiação e Provas, e de acordo com o Espírito Santo Agostinho, um dos mais atrasados da escala.

O mal permeia entre nós, saturando a atmosfera psíquica. Espíritos Inferiores desencarnados pululam, induzindo-nos ao mal. Por fraqueza e opção nos afastamos do bem, e dos Bons Espíritos. A consequência: sofrimentos de toda ordem. Em termos evangélicos, “trevas exteriores onde há choro e ranger de dentes”. Neste quadro aterrador é que vivemos.

Grande parte dos sofrimentos e aflições se deve à necessidade da convivência, que é ínsita ao ser humano e é derivada de uma Lei Moral, estudada por Allan Kardec na terceira parte de O Livro dos Espíritos, no capítulo denominado Lei de Sociedade.

No meio acadêmico costuma se afirmar, parafraseando Aristóteles, que, estando só na natureza, o homem é uma fera selvagem ou um deus.

Convivemos e concomitantemente somos vítimas e algozes, em diversos graus e com diferentes semelhantes. Muita vez a intimidade ou a simples proximidade nos faz viver situações de conflito com pessoas que sabemos amar, mas que, devido à nossa inferioridade, nos desentendemos agredindo-nos e ofendendo-nos simultaneamente. E nestas ocasiões não tarda o arrependimento.

O filósofo francês do século passado, o existencialista Jean-Paul Sartre, imortalizou a frase que publicou na sua peça Entre quatro paredes: “o inferno são os outros”. Contudo, não deveríamos esquecer que, para o nosso semelhante, nós somos os infernais outros.

A reconciliação deve ser imediata e não demanda maiores detalhes, não carece de situação especial, de palavras de efeito, nada.

Jesus, em Mateus 5, estabelece que devemos nos reconciliar com nosso irmão, quando ainda estamos a caminho com ele.

E por que não deixar o amor nos conduzir? De coração desarmado, sejamos instrumento do amor e da paz; de fato, não é necessário sequer procurar nossos semelhantes com os quais por ventura tenhamos discutido. A Lei Divina da sintonia se encarrega de aproximar uns dos outros a seu tempo.

Assim sendo, a primeira providência para deixarmos de ser um inferno na vida dos outros e encontrarmos a paz em nossos relacionamentos é a nossa própria transformação moral. E somente, então, por merecimento, passarmos a viver com aqueles que já progrediram enquanto permanecemos na retaguarda.

Para tal desiderato, o dia de hoje nos oferece oportunidade única que não se repete. É bem verdade que amanhã teremos uma nova chance, mas não a mesma ocasião que se renovou.

Fazer o bem hoje, em nosso próprio bem.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita