Transtornos
Psiquiátricos e
Obsessivos
Parte 2
Damos continuidade ao estudo metódico e sequencial do
livro Transtornos Psiquiátricos e Obsessivos,
obra de autoria de Manoel Philomeno de Miranda,
psicografada por Divaldo Franco no ano de 2008.
Questões preliminares
A. De onde provém a prevenção ainda hoje mantida por
cientistas e pensadores com relação à imortalidade da
alma?
Consoante é dito na obra em estudo, a prevenção em
relação à imortalidade da alma é resultado do prolongado
ressentimento de cientistas e pensadores contra as
doutrinas religiosas do passado, que impunham a fé
distanciada do raciocínio e da lógica. Essa imposição
irracional, que tanto perturbou o processo de
desenvolvimento intelectual da sociedade, produziu mais
antagonistas do que simpatizantes com relação à proposta
espiritualista. (Transtornos
Psiquiátricos e Obsessivos. Capítulo 1: Morte e
imortalidade.)
B. John Locke teria sido o responsável por haver lançado
as bases do empirismo. Em que consiste essa doutrina?
Segundo os partidários do empirismo, todo conhecimento
provém unicamente da experiência, limitando-se ao que
pode ser captado do mundo externo, pelos sentidos, ou do
mundo subjetivo, pela introspecção, sendo geralmente
descartadas as verdades reveladas e transcendentes do
misticismo. Tal ideia influenciou fortemente o
pensamento francês e inglês, especialmente no período em
que o feudalismo se encerrava, no fim do século XVII e
logo depois, no século XVIII, quando essas ideias
exerceram ação demolidora com relação à fé cega. (Transtornos
Psiquiátricos e Obsessivos. Capítulo 1: Morte e
imortalidade.)
C. Quais são, em resumo, as ideias propostas pelo
Iluminismo e pelo Positivismo?
O Iluminismo, movimento intelectual surgido no século
XVIII, caracterizou-se pela centralidade da ciência e da
racionalidade crítica no questionamento filosófico, o
que implicava recusa a todas as formas de dogmatismo.
O Positivismo, sistema criado por Auguste Comte no
início do século XIX, propunha-se a ordenar as ciências
experimentais, considerando-as o modelo por excelência
do conhecimento humano, em detrimento das especulações
metafísicas ou teológicas. (Transtornos
Psiquiátricos e Obsessivos. Capítulo 1: Morte e
imortalidade.)
Texto para leitura
24. Morte e imortalidade – O zimbório celeste
encontrava-se recamado de estrelas como se fossem
diamantes luminosos encravados no veludo azul-escuro da
noite, faiscantes e belos, tornando-a menos sombria.
Perpassava no ambiente uma suave brisa perfumada,
enquanto se ouviam as onomatopeias da Natureza em festa
primaveril. Conta Manoel Philomeno: “Pulsavam-me as
emoções de compreensível ansiedade em relação ao evento
que logo mais se iniciaria no imenso anfiteatro da
comunidade espiritual que nos hospedava desde a véspera.
Ali me encontrava, a fim de participar de uma atividade
que fora desenhada por nobres mensageiros da luz,
objetivando os sofredores terrestres vitimados por
alienações mentais e obsessivas, recuperando-se de
clamorosos erros de existências pretéritas no eito de
aflições severas. Uma suave claridade que se derramava
de imensos projetores de luz dava ao recinto festivo uma
visão agradável em tonalidades azul-claro diáfanas,
mescladas com tênue alvura que invadia todos os recantos
e não projetava sombra ao enfrentar quaisquer tipos de
obstáculos. Doce melodia de harpa dedilhada com destreza
invadia o recinto do anfiteatro, confraternizando com os
sons delicados naturais que chegavam pelo ar como se
fossem um acompanhamento de quase inarticuladas vozes
angélicas. Uma verdadeira multidão acorrera ao imenso
recinto entre júbilos e esperanças, manifestando as
surpresas de encontros e reencontros agradáveis em
festiva comunhão de bênçãos”. (Transtornos
Psiquiátricos e Obsessivos. Capítulo 1: Morte e
imortalidade.)
25. Muitos espíritos reencarnados eram trazidos pelos
seus abnegados guias, alguns deles perfeitamente
lúcidos, enquanto outros, menos despertos,
movimentavam-se também com algum desembaraço e relativa
agilidade. Diversos amigos do nosso plano espiritual
haviam sido igualmente invitados, destacando-se o
querido benfeitor José Petitinga e o nobre Dr. Juliano
Moreira, ilustre psiquiatra baiano que contribuíra
destemidamente, no seu tempo, para que os pacientes
psiquiátricos recebessem tratamentos e cuidados
especiais, dignificadores, na condição de criaturas
humanas que eram com o merecido respeito pelas
psicopatologias de que se faziam portadores. Tratados,
naquela ocasião, como animais desprezíveis, viviam
amontoados, praticamente ao abandono nos hospícios, sem
receberem significativa ajuda, seja dos médicos, quase
em geral, ou da sociedade. O culto mestre deixara na
Terra expressivo número de tratados e artigos sobre a
psicogênese e as causas exógenas dos terríveis
transtornos psicóticos, época em que trabalhou no
Hospício São João de Deus [1], em Salvador, Bahia, e,
mais tarde, à frente da Academia Brasileira de Ciências. (Transtornos
Psiquiátricos e Obsessivos. Capítulo 1: Morte e
imortalidade.)
26. Naquela oportunidade, todos teriam a satisfação
imensa de reencontrar o respeitável psiquiatra
uberabense Dr. Inácio Ferreira, que fora convidado a
entretecer considerações em torno do intercâmbio de
consequências enfermiças entre os desencarnados e os
transeuntes no carro físico, tendo em vista a
imortalidade do espírito. A hora aprazada, o auditório,
para um público de aproximadamente mil convidados,
encontrava-se repleto, e o doce perfume das flores que
adornavam o estrado central, onde se encontrava a mesa
diretora, tomava todos os espaços. Iniciada a reunião, o
mestre de cerimônias, que fora na Terra ilustre
divulgador do Espiritismo Ivon Costa, convidou,
nominalmente, aqueles que iriam constituir a mesa de
honra. Presidida pelo caroável Espírito Dr. Adolfo
Bezerra de Menezes Cavalcanti, Ivon Costa referiu-se ao
significado especial do evento, informando que, de
início, haveria uma apresentação de canto coral em
homenagem a Jesus, o Sublime Psicoterapeuta da
Humanidade, o que, de imediato, teve lugar. (Transtornos
Psiquiátricos e Obsessivos. Capítulo 1: Morte e
imortalidade.)
27. Na sequência, após a prece inicial, o mestre de
cerimônias entreteceu algumas considerações sobre o
convidado especial, destacando-lhe os valores morais e
intelectuais, sem elogios supérfluos, com o objetivo de
torná-lo conhecido por grande parte do auditório que
ignorava as conquistas expressivas do eminente
batalhador, inscrito entre os pioneiros dos estudos
psicopatológicos dos distúrbios mentais, particularmente
aqueles de natureza obsessiva. Sereno e consciente da
responsabilidade, o respeitável psiquiatra assomou à
tribuna, transparecendo alegria e emoções superiores.
Após a saudação cristã, evocando os primeiros servidores
de Jesus, agradeceu sensibilizado, o convite, passando a
considerar: “Não fui orador enquanto na romagem carnal,
havendo-me dedicado mais ao estudo e à reflexão em torno
da Psiquiatria e do Espiritismo. Isto posto, conto com a
compreensão e bondade dos nobres espíritos presentes,
tendo em vista a minha incipiência, já que me considero
sem as condições mínimas necessárias para cometimento
de tal magnitude. Atendo ao convite dos benfeitores
espirituais que me facultam esta oportunidade, assim
preparando-me para futuros labores em nome da veneranda
Doutrina de Jesus. A prevenção ainda hoje mantida por
eminentes cientistas e pensadores em relação à
imortalidade do espírito é resultado do prolongado
ressentimento contra algumas doutrinas religiosas do
passado, que impunham a fé distanciada do raciocínio e
da lógica. Essa ditadura irracional, que tanto
perturbou o processo de desenvolvimento intelectual da
sociedade, produziu mais antagonistas do que
simpatizantes em relação à proposta espiritualista”. (Transtornos
Psiquiátricos e Obsessivos. Capítulo 1: Morte e
imortalidade.)
28. Segundo o palestrante, a revolução cultural e
científica iniciada por Sir Isaac Newton ensejou que
espíritos esclarecidos, como Pedro Gassendi,
sustentassem a necessidade dos estudos experimentais nas
ciências físicas, no século XVII. Ao mesmo tempo, Thomas
Hobbes declarou a sua convicção materialista e a sua
conduta utilitarista, que posteriormente muito
influenciaram Rousseau e Espinoza, culminando com as
propostas de John Locke, lançando as bases do empirismo
[2], que iria estimular fortemente o pensamento francês
e inglês a aceitá-lo de imediato, especialmente no
período em que o feudalismo se encerrava, no fim do
século XVII e logo depois, no século XVIII, quando essas
ideias exerceram ação demolidora em relação à fé cega.
Foram eles que, de alguma forma, restauraram o conceito
do atomismo grego, exposto por Leucipo, Lucrécio e
Demócrito, em oposição ao idealismo [3] de Sócrates e
Platão, que as futuras investigações integrariam de
maneira adequada e profunda quando por ocasião do
aparecimento da Física Quântica. Essa atitude dos
denominados materialistas era resultado de uma natural
aversão à predominância do dogma religioso sobre a
razão, da intolerância sobre o desenvolvimento das
ciências, fenômeno impossível de ser evitado, por fazer
parte da Lei de Progresso.(Transtornos
Psiquiátricos e Obsessivos. Capítulo 1: Morte e
imortalidade.)
29. Afirmou o palestrante que nada pode fazer estacionar
a marcha do conhecimento, mantendo as criaturas na
ignorância, no obscurantismo. Como consequência
imediata, os séculos seguintes caracterizaram-se pela
rebeldia dos investigadores positivistas diante das
religiões, do espiritualismo em geral, tentando reduzir
o ser humano a um amontoado de moléculas, a fenômenos
naturais e automatistas, no seu fatalismo biológico em
marcha inexorável para a consumpção. Logo depois, diante
das inabordáveis conquistas dos séculos XVIII e XIX, nos
diversos ramos da Ciência, graças às investigações que
alcançavam as causas naturais do que antes era
considerado miraculoso e sobrenatural, estabeleceu-se,
por definitivo, o preconceito contra a fé religiosa, em
face da sua incapacidade de oferecer respostas mais
seguras àquelas defendidas pelo Iluminismo [4], logo
seguido pelo Positivismo [5] e, por fim, pelo
materialismo mecanicista acadêmico. Um dos momentos
definidores dessas especulações teve lugar no dia 24 de
novembro de 1859, quando o eminente naturalista inglês
Charles Darwin publicou sua hoje célebre teoria sobre a
origem das espécies pelos processos da seleção natural,
que alcançou grande repercussão, em face do poder de
desmistificar a ancestral e mitológica informação a
respeito da criação da vida, particularmente dos seres
vegetais, animais e humanos.(Transtornos
Psiquiátricos e Obsessivos. Capítulo 1: Morte e
imortalidade.)
30. Um pouco antes, ele recebera do eminente Alfred
Russel Wallace, também admirável naturalista, que mais
tarde se tornou espírita, um manuscrito, no qual era
apresentado, coincidentemente, um resumo completo da sua
teoria, sem que ambos houvessem tido qualquer contato ou
discussão a esse respeito. Os fatos foram-se acumulando
nas diversas áreas do conhecimento, culminando com as
observações irônicas de Karl Vogt, o notável naturalista
alemão, partidário e divulgador da doutrina de Darwin,
assim como de outros eminentes estudiosos, cujos
conhecimentos não eram compatíveis com as doutrinas da
ortodoxia religiosa. Logo, os laboratórios de pesquisas
anatomopatológicas aprofundaram o bisturi das
investigações no organismo humano, zombeteiramente
procurando encontrar a alma, nos despojos carnais de
onde se afastara pelo fenômeno da morte biológica. O
resultado não poderia ser diferente, tendo-se em vista
os camartelos utilizados pelo pensamento filosófico
através de espíritos, iluminados ou não, que ora se
apoiavam na Ciência, em momentos outros nas próprias
reflexões, combatendo com certa ferocidade mesmo, os
dogmas e os frágeis postulados da fé irracional,
elaborando novos paradigmas em torno da vida, porém,
centrados na matéria.(Transtornos
Psiquiátricos e Obsessivos. Capítulo 1: Morte e
imortalidade.) (Continua
no próximo número.)
Notas:
[1] Posteriormente,
passou a ser chamado Hospital Juliano Moreira.
[2] Empirismo:
doutrina segundo a qual todo conhecimento provém
unicamente da experiência, limitando-se ao que pode ser
captado do mundo externo, pelos sentidos, ou do mundo
subjetivo, pela introspecção, sendo geralmente
descartadas as verdades reveladas e transcendentes do
misticismo.
[3] Idealismo:
qualquer teoria filosófica em que o mundo material,
objetivo, exterior só pode ser compreendido plenamente a
partir de sua verdade espiritual, mental ou subjetiva.
[4] Iluminismo:
movimento intelectual do sec. XVIII caracterizado pela
centralidade da ciência e da racionalidade crítica no
questionamento filosófico, o que implica recusa a todas
as formas de dogmatismo.
[5] Positivismo:
sistema criado por Auguste Comte (1798-1857) que se
propõe a ordenar as ciências experimentais, considerando-as
o modelo por excelência do conhecimento humano, em
detrimento das especulações metafísicas ou teológicas.