Em mensagem publicada na seção de Cartas desta edição, o
leitor Luis Bras dos Santos, de Itumbiara, GO, escreveu:
É exatamente esse o conceito aristotélico-tomista da
matéria. A "substância" só pode existir se Deus lhe
infundir um "alento vital". Kardec está fixado nessa
concepção medieval e não consegue dar conta da teoria
atômica. Na teoria atômica moderna, os átomos são todos
constituídos por partículas elementares e têm a sua
própria energia.
Trata-se, na menção feita a Kardec, de um equívoco que
mostra que o leitor critica algo que não conhece.
Uma leitura, ainda que parcial, da obra que deu início à
codificação da doutrina espírita – O Livro dos
Espíritos – lhe mostraria que nem Kardec nem os
Espíritos afirmaram que a “substância” só pode
existir se Deus lhe infundir um “alento vital”.
Embora a codificação do Espiritismo tenha ocorrido no
século XIX, numa época bem anterior à chamada teoria
atômica moderna mencionada pelo leitor, há na doutrina
espírita perfeita distinção entre seres orgânicos e
seres inorgânicos. Em todos eles, a constituição íntima
segue a mesma norma. Átomos e moléculas são seus
elementos constituintes, com a única diferença de que
nos seres orgânicos, porque dotados de vitalidade,
existe algo que não existe nos inorgânicos.
Entre um homem vivo e esse mesmo homem, minutos após sua
morte, qual a diferença? Nenhuma em sua constituição
material; átomos e moléculas ali se encontram; contudo,
inexiste vida no cadáver, o que evidencia com clareza
que a vida lhe vem de outra fonte e não dos seus átomos
e moléculas.
Reproduzimos em seguida as questões d´O Livro dos
Espíritos, de Kardec, em que o tema é apresentado
com clareza pela doutrina espírita, deixando ao leitor a
liberdade de tirar suas conclusões a respeito da infeliz
crítica feita por alguém que pode entender de Química ou
de Física, mas, em matéria de Espiritismo, não passa de
um neófito:
- “Os seres orgânicos são os que têm em si uma fonte de
atividade íntima que lhes dá a vida. Nascem, crescem,
reproduzem-se por si mesmos e morrem. São providos de
órgãos especiais para a execução dos diferentes atos da
vida, órgãos esses apropriados às necessidades que a
conservação própria lhes impõe. Nessa classe estão
compreendidos os homens, os animais e as plantas. Seres
inorgânicos são todos os que carecem de vitalidade, de
movimentos próprios e que se formam apenas pela
agregação da matéria. Tais são os minerais, a água, o ar
etc. (O Livro dos Espíritos, cap. IV, Introdução)
- É a mesma a força que une os elementos da matéria nos
corpos orgânicos e nos inorgânicos? “Sim, a lei de
atração é a mesma para todos.” (L.E., questão 60)
- Há diferença entre a matéria dos corpos orgânicos e a
dos inorgânicos? “A matéria é sempre a mesma, porém nos
corpos orgânicos está animalizada.” (L.E., questão 61)
- Qual a causa da animalização da matéria? “Sua união
com o princípio vital.” (L.E., questão 62)
- O princípio vital reside nalgum agente particular, ou
é simplesmente uma propriedade da matéria organizada?
Numa palavra, é efeito, ou causa? “Uma e outra coisa. A
vida é um efeito devido à ação de um agente sobre a
matéria. Esse agente, sem a matéria, não é a vida, do
mesmo modo que a matéria não pode viver sem esse agente.
Ele dá a vida a todos os seres que o absorvem e
assimilam.” (L.E., questão 63)
- O princípio vital é um só para todos os seres
orgânicos? “Sim, modificado segundo as espécies. É ele
que lhes dá movimento e atividade e os distingue da
matéria inerte, porquanto o movimento da matéria não é a
vida. Esse movimento ela o recebe, não o dá.” (L.E.,
questão 66)
- A vitalidade é atributo permanente do agente vital, ou
se desenvolve tão-só pelo funcionamento dos órgãos?
“Ela não se desenvolve senão com o corpo. Não dissemos
que esse agente sem a matéria não é a vida? A união dos
dois é necessária para produzir a vida.” (L.E., questão
67)