Cesariana em Adão
“Adão foi um extra na Criação. E Eva o produto de uma
cesariana masculina, a primeira realizada na História,
porque as da Mitologia não contam.” – Professor
Herculano Pires.
A inteligência apurada do eminente professor e filósofo
Herculano Pires satiriza a absurda explicação bíblica
para o surgimento de Eva retirada de uma costela de Adão
mergulhado em sono profundo, através de uma espécie de
cesariana da época. Se tivesse sido a primeira, com
certeza teria sido a única, pelo menos por enquanto.
Quem sabe com a evolução da medicina as coisas possam
mudar...
O título do artigo atende ao propósito de comentarmos
uma notícia da revista VEJA, edição 2362 de 26 de
fevereiro de 2014, páginas 76 e 77, em que um
congressista norte-americano do Estado de Missouri, Rick
Brattin, propôs um projeto de lei autorizando os pais de
alunos do ensino médio a tirar seus filhos das aulas de
biologia caso lhes sejam ensinados os princípios da
teoria da evolução, postulada pelo naturalista inglês no
século XIX, Charles Darwin. Brattin é defensor animado
do criacionismo, tese segundo a qual Deus criou o homem
– Adão, a partir do barro, e Eva, da costela de Adão. Os
seguidores dessa doutrina negam a teoria darwiniana
segundo a qual evoluímos de seres mais simples para
seres mais complexos.
Convém lembrar que Darwin não disse que viemos dos
macacos, mas, sim, que teríamos ancestrais em comum,
tanto que 99,4% do DNA humano é igual ao do chimpanzé.
Tudo isso em pleno século XXI!
Continuando a análise dos absurdos da gênese bíblica,
veremos que Adão e Eva, após serem expulsos do paraíso
por comerem do fruto proibido, tiveram dois filhos: Caim
e Abel. Mais tarde nasceria Sete, o terceiro filho do
casal. Enciumado de Abel, Caim o matou e fugiu após o
crime praticado. O professor Herculano Pires continua a
nos ensinar que, desesperado, Caim foi ter a uma
localidade denominada Nod. Lá encontrou o amor de sua
vida na pessoa de Liriad, jovem filha de um ferreiro
abastado, cuja forja funcionava dia e noite para atender
às encomendas de peças de ferro para a lavoura e de
armas para a guerra. Liriad logo percebeu, continua o
professor, que Caim era um foragido, certamente por
algum grave crime que praticara. Não obstante,
apaixonou-se por ele e se casaram. Desse casamento
nasceu um filho que recebeu o nome de Enoc. Só por essas
poucas citações que constam na Bíblia, já vemos a
impossibilidade de Adão e Eva terem povoado o mundo a
partir somente deles. Como Caim encontrou Liriad se
apenas existiam Adão e Eva? E os pais da jovem tomada
por esposa, de onde teriam vindo? Teria a mãe de Liriad
sido retirada da costela do marido também? Estaria aí a
segunda cesariana da história humana? Aliás, o termo cesarianavem
da expressão latina caedere, ou seja, cortar.
Alguns se confundem achando que o general Julio Cesar
tivesse nascido de uma cesariana e daí a origem do
termo. Não nasceu. O militar nasceu de parto normal.
Outras informações revelam que a primeira cesariana
teria sido feita por Jacob Nufer, um cidadão suíço que,
ao ver o sofrimento da esposa, e acostumado a “cesariar”
porcas, teria realizado a primeira cesariana da história
– com a permissão de Adão – com o intuito de aliviar o
sofrimento de sua mulher, isso lá pelo ano de 1500.
Se o que foi citado ainda não foi suficiente, façamos o
seguinte raciocínio: Adão e Eva tiveram três filhos do
sexo masculino. Caim, Abel e Sete. Com quem eles teriam
se relacionado para povoar o planeta se não existia o
elemento feminino? Como de Adão e Eva teria surgido,
então, toda a população mundial?
Em relação a suposta “cesariana” de Eva retirada da
costela de Adão, contrapomos a opinião lúcida e coerente
de Allan Kardec contida em A Gênese, capítulo
XII, item 11, na Gênese Moisaica: “A mulher, formada de
uma costela de Adão é uma alegoria, pueril na aparência,
se for tomada ao pé da letra, porém profunda no sentido.
Tem por finalidade mostrar que a mulher é da mesma
natureza do homem, sua igual, por conseguinte, diante de
Deus, e não criatura à parte, feita para ser usada como
escrava e tratada como se fosse ilota.”
Destaque-se que o termo ilota, entre os
espartanos, referia-se aos prisioneiros escravizados,
reduzidos a servos do Estado. Ou seja, a mulher não é
escrava do homem, mas sua igual, porque nela habita um
Espírito imortal criado por Deus com todos os direitos
inerentes a qualquer ser da Criação, independente do
sexo pelo qual excursione em determinada jornada
evolutiva.
Fico exercitando a memória para entender como de uma
simples maçã pode ter surgido tanta confusão!
Ainda bem que Isaac Newton aproveitou a maçã de uma
forma mais útil!...
|