Brincar é aprender
As crianças não brincam de brincar. Brincam de verdade.
Mario Quintana
Décadas de investigação e estudos comprovam a
importância de brincar para o desenvolvimento integral
das crianças. Criança que brinca tem oportunidade de
explorar, estimular, todos os aspectos do seu
crescimento – cognitivo, afetivo, motor e social.
Infelizmente, cada vez mais escutamos relatos sobre
crianças que não brincam ou brincam pouco, a agenda da
semana tomada por atividades extracurriculares ou por
uma excessiva orientação para o estudo intelectual por
parte da escola, que tem arrancado da criança tempo para
brincar.
A criança brinca quando está em casa? Quanto tempo passa
o menino de seis anos diante das telas – TV, videogame,
tablet, o celular da mãe? Será que o pai sabe que
durante esta atividade hipnótica a criança absorve as
histórias e fantasias de outras pessoas? E essa criança
perde a chance de exteriorizar as próprias histórias,
resultando um dia um adulto criativamente empobrecido,
quiçá obeso, insatisfeito, incapaz de solucionar
problemas domésticos, uma escassa empatia no trabalho...
É certo que a criança nasce com uma enorme necessidade
de desenvolver-se e aprender. Mas o desejo de uma
criança por aprender se relaciona estreitamente com o
prazer de brincar.
Quando as crianças brincam embaixo da mesa da sala, no
quintal, no parque, no jardim de infância, uma profunda
sensação de bem-estar delas emana. Apenas isto é razão
suficiente para fomentar e proteger o brincar livre,
pois a investigação séria também aponta um importante
número de benefícios e habilidades cognitivas e
socioemocionais que resultam da atividade dedicada
simplesmente a este brincar espontâneo, criativo.
As crianças não são máquinas. São seres humanos e estão
governados por processos internos. Acelerar a infância,
exigindo da criança tarefas e ritmos inadequados, só
causará danos a vários aspectos de sua vida – físico,
emocional e mental, comprometendo tristemente sua
biografia futura.
Especialmente no Brasil, onde, de um modo medíocre,
estamos ocupados em criar nossos filhos de modo
“acelerado”, precisamos lembrar que é fundamental deixar
de apressar nossos filhos. Afinal, nossas crianças têm o
direito de crescer e amadurecer a um ritmo mais humano e
isso depende de tempo para brincar livre – mas tempo
cotidiano, pois é muito injusto ser criança
apenas no fim de semana.
Notinhas
Infelizmente, cada vez mais estão desenvolvendo
programas que situam as crianças pequenas apartadas das
brincadeiras, porque largamente a favor da alfabetização
precoce. No entanto, sem esquecer que brincar é
aprender, há aspectos relacionados ao desenvolvimento
global que as crianças desde pequenas necessitam:
adultos que tenham manejo e cuidado com a própria
linguagem; músicas e cantigas infantis, brincadeiras com
fantoches/marionetes; livros lidos em voz alta, à medida
que tudo isso estrutura a base de uma vida que aprecia a
linguagem e a leitura. |