Internacional
por Ênio Medeiros

Ano 12 - N° 571 - 10 de Junho de 2018

Divaldo Franco: “A coisa mais bela da vida é poder servir sem exigir”    


No seu périplo pela Europa, o conhecido orador falou aos espíritas de Bruxelas e Roma, a Cidade Eterna


Na manhã do dia 13 de maio, logo nas primeiras horas, Divaldo Franco e amigos rumaram para Bruxelas, na Bélgica, em um deslocamento de automóvel que durou cerca de três horas. Na aprazível capital, os amigos os aguardavam para uma conferência ao anoitecer. Cerca de trezentas pessoas, que já haviam reservado seus lugares, aguardavam o momento de ouvir o querido orador que anualmente visita o país, trazendo sua mensagem de alegria e paz.

Atendendo ao convite do Núcleo de Estudos Espíritas Camille Flammarion de Bruxelas – NEECAFLA -, Divaldo Franco apresentou o tema Fraternidade.

Como vem ocorrendo, o querido amigo Dr. Juan Danilo deu início as atividades da noite discorrendo sobre O Livro dos Espíritos e a Fraternidade, destacando a Mansão do Caminho, onde atualmente reside, como exemplo de fraternidade e solidariedade, afirmando que somente através da educação será possível formar melhores cidadãos para o futuro.

Ao iniciar o seu mister, Divaldo Franco citou Pierre Gaspard Chaumette (1763–1794), um dos revolucionários franceses que asseveravam haver expulsado Deus da França, passando, portanto, a ser o verdadeiro deus, a razão. Referindo-se à queda da Bastilha, afirmou que o século XIX havia-se iniciado entre sombras, quando a voz de um jovem corso começou a comandar os destinos da França, Napoleão Bonaparte. Nessa mesma época ocorreu o nascimento de Hippolyte Léon Denizard Rivail, que mais tarde estudaria no instituto dirigido por Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), o pai da pedagogia moderna. Mais tarde, o mundo passaria a conhecer Hippolyte como Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita.

O nobre conferencista aprofundou-se no século XIX, o século das doutrinas religiosas e o espiritualismo céptico. O conhecimento sobre Deus, a alma, a imortalidade, ou o nada, foram apresentados para reflexão. O nada passou a prevalecer, o objetivo era somente viver bem e gozar, porém a figura da morte prosseguia enigmática. Em 18 de Abril de 1857 Allan Kardec apresentou uma filosofia científica que asseverava que a vida prossegue além da vida orgânica. Foi uma espécie de revolução, cujas armas são o amor, a caridade e o perdão. Apresentando a figura incomparável de Jesus, o maior psicoterapeuta da humanidade, e citando também grandes vultos da humanidade como Francisco de Assis, Madre Tereza de Calcutá, Albert Schweitzer (1875-1965), entre outros, Divaldo discorreu sobre a excelência do amor. Schweitzer, a quem Divaldo teve oportunidade de conhecer pessoalmente, foi um homem extraordinário que, entendendo a mensagem do Homem de Nazaré, afirmava que é mais feliz aquele que dá.

Mergulhando nos dias atuais, Divaldo afirmou que o homem moderno está rico de tecnologia, de conquistas imediatas, da comunicação virtual, no entanto encontra-se cada vez mais solitário. A humanidade possui todas estas conquistas, mas, e o amor? Como está o amor na vida dos indivíduos? O amor é um sentido ético, que Sócrates nos ofereceu e Jesus nos exemplificou. Hoje o amor é psicoterapêutico, pois quem ama é feliz, porém quem deseja ser amado é ainda criança psicológica. Ciência sim, afirmou, tecnologia também, mas o amor é fundamental.

A maior lição aprendida em sua longa trajetória, afirmou Divaldo, é que a criatura humana é a mesma em todos os lugares do planeta. Dores, sofrimentos, aspirações e conflitos são idênticos em toda parte, porém a fraternidade é o laço que vai unir todas as criaturas. O Espiritismo chegou na hora certa para nos arrancar do pessimismo. A coisa mais bela da vida é poder servir sem exigir. Somos ricos de carências de amor, e aqueles que nos antecederam no caminho da morte voltam, e nos dizem, graças à mediunidade, que o sentido da vida é amar.

Encaminhando-se para o final, o orador afirmou que a Vida é o maior tesouro que a divindade nos proporciona. Ser feliz depende do nosso livre-arbítrio, pois a felicidade é a nossa fatalidade, alcançada nesta ou em outra encarnação. Nestes dias difíceis, destacou Divaldo, a voz daquele Homem de Nazaré, através dos Espíritos, vem-nos dizer: Fraternidade! Fraternidade! E que devemos amar aos que estão à nossa volta e não através dos meios eletrônicos.

O Espiritismo é a doutrina da imortalidade. Tudo na vida passa, e a esperança da plenitude permanece até hoje em nossas almas. Vale a pena amar!

Após recitar o Poema da Gratidão, de Amélia Rodrigues, foi exaustivamente aplaudido de pé. Todos se apresentavam visivelmente emocionados com a mensagem incomum de esperança e paz.

Tão logo encerrou a conferência, rapidamente Divaldo se recolheu, pois que na madrugada imediata, teria que se dirigir ao aeroporto de Bruxelas, rumando para Roma, próximo destino deste roteiro de luzes.

Divaldo Franco na Cidade Eterna

Ainda estava escuro; era madrugada do dia 14 de maio de 2018, o dia prenunciava alegrias e trabalho, e o semeador não se fez tardio. Divaldo Franco rumou ao aeroporto de Bruxelas, onde embarcou com destinado a Roma, em um voo de duas horas. Em lá chegando, no aeroporto Fiumicino, uma verdadeira festa aguardava o peregrino de Jesus, tamanha era euforia dos amigos do grupo espírita coordenado por Tina Paternó. Quanto regozijo, quanta alegria, mas também muitas malas pesadas, tudo encarado e vivido com simplicidade, celebrando o reencontro de corações afetuosos.

Ao anoitecer, o grupo de amigos, reunidos no hotel que hospedou Divaldo Franco, encontrou-se para realizar o Evangelho. Após refeição frugal, reuniram-se para orar, de forma inédita, em nove idiomas, com o objetivo de atender aos Espíritos de várias pátrias.

Inicialmente foi proferida a oração ensinada por Jesus, o Pai Nosso no idioma holandês. O Evangelho Segundo o Espiritismo, aberto ao acaso, brindou-nos com o capítulo seis, - O Cristo Consolador -, com o tema o jugo leve. Após Divaldo realizar a leitura desta belíssima página, foi a vez dos comentários, iniciados pelo amigo Xavier, da Espanha, no idioma catalão, seguido por Andreia Marshall, de Miami, em inglês. Na sequência, Tina, de Roma, em italiano, após Sandra Fasler, de Zurique, em suíço. Manolo, da Espanha, em espanhol, foi seguido nos comentários por Edith Burkhard, de Winterthur/Suíça, no idioma alemão, logo a seguir foi a vez do amigo querido Marcelo Netto, de Miami, comentar o trecho lido em português. A seguir, novamente Sandra comentou em francês, Rejane Planer, de Viena, em inglês, e por fim, Juan Danilo, em português.

Uma riqueza enorme de interpretações, cada um expressando-se ao sabor de suas emoções em torno do Evangelho, uma verdadeira reunião familiar. Divaldo Franco, magistral, conduziu o grupo, nas asas da história, a um retorno no tempo, desde há 800 anos, trazendo a doce figura do pobrezinho de Assis, narrando com incomparável riqueza de detalhes a vida desse ser que melhor imitou a figura de Jesus, Francisco de Assis.

Ali estávamos, procedentes de várias regiões do globo, reunidos novamente na velha Roma de outrora. Hoje na tentativa de seguir o Homem que não possuía sequer uma pedra para recostar a cabeça, na ânsia de servir mais e melhor. Finalizando o singelo encontro em torno da palavra de Jesus, afirmou Divaldo que todo o empenho que empreendermos para a vitória do bem em nós, valerá a pena, porque o amor do Pai é eterno por todos nós.

Encerrado o encontro, todos se recolheram enlevados pelas dúlcidas vibrações de amor e paz que se fizeram presentes em cada um, demandando para o repouso necessário, pois que as atividades prosseguem...

Como foi a conferência em Roma

Na noite do dia 15 de maio, nas dependências do hotel Oly, na região central da belíssima Roma, atendendo ao convite dos amigos do Grupo Allan Kardec de Roma - GRAK -, o Semeador de Estrelas, Divaldo Franco, proferiu conferência para aproximadamente duzentas pessoas, contando com o auxílio de Deborah Trinchi para verter ao idioma italiano.

A brilhante voz do cantor Maecio Gomes, interpretando algumas peças, enlevou o ambiente, sensibilizando os presentes.

Juan Danilo, iniciando as atividades, saudou os participantes em nome da Mansão do Caminho, chamando a atenção, uma vez mais, sobre o significado e a importância da educação na vida das crianças, fazendo referência à jovem educadora paquistanesa Malala Yousafzai (1997-), afirmando que somente a educação pode combater a violência e oferecer ao ser humano a dignidade necessária à evolução.

O nobre conferencista Divaldo Franco discorreu acerca da evolução do pensamento humano, abordando o período do pensamento instintivo e prosseguindo em direção ao período do pensamento arcaico ou Pré-Mágico, para avançar até o pensamento Mágico, sempre traçando um paralelo com o desenvolvimento da criança, desde as primeiras fases da vida.

Apresentando o pensamento de Emilio Mira y Lopes (1896-1964), psiquiatra, psicólogo e professor, Divaldo discorreu sobre as emoções da criatura humana, em que na fase do Pensamento Cósmico prevalecem os sentimentos nobres que culminam no desenvolvimento do sentimento sublime do amor. Amar, portanto, é uma meta que se deve perseguir na existência.

Estamos no momento do pensamento eletrônico, a tecnologia avança e tende a arrastar o ser humano para o individualismo, em que cada um se basta, isolando-se e rumando para a solidão. Segundo Rollo May (1909-1994), psicólogo e teólogo americano, estamos entrando num estado muito grave de Ansiedade, Enfermidade e Incapacidade, afinal hoje a sociedade exige que todos sejam felizes, que não tenhamos problemas nem conflitos.

Discorrendo sobre Buda e o mito de Narciso, Divaldo asseverou que tudo o que a cultura nos oferece tem um toque de beleza, porém nem sempre a estética é ética, os fenômenos narcisistas estão sempre em nossas vidas. Com relação a Sidarta Gautama, o Buda, o Embaixador da Paz no Mundo destacou que, tendo sempre tudo a sua volta, saturou-se, perdendo o sentido da vida, pois tudo lhe era monótono e sem sentido, até compreender que o sofrimento está em tudo e que o verdadeiro sentido da vida é amar, iluminando-se.

Reverenciando a figura do insigne codificador do Espiritismo, Allan Kardec, que, em uma óptica otimista, asseverou que a verdadeira felicidade é servir, é tornar o amor em um ato de beleza muito natural. Kardec apresentou a maior conquista da filosofia, a morte da morte, a vida que prossegue. A filosofia espírita liberta a criatura humana do Narcisismo.

O sentido da vida, afirmou Divaldo, é também ter um ideal, é fazer ao outro o que gostaria que o outro lhe fizesse. “O mundo da competitividade empurra o ser humana para o triunfo, mas para quê?” - indagou. Por uma bela casa? Por um automóvel? Existem muitas pessoas que possuem muito, e muito além das necessidades, e não são felizes. O amor não necessita de posse, apenas precisa de doação. Estamos diante das agressões do mundo, porque estamos sendo agredidos dentro de nós mesmos pelos nossos próprios conflitos, desta e de outras existências.

Encaminhando a conferência para o encerramento, ainda acrescentou: o Espiritismo faz o nosso pensamento sonhar na direção da plenitude e do reino do amor. Vale a pena amar.

O querido orador, sempre dando um toque divertido a suas interpretações, deixou todos totalmente à vontade, apresentando, ainda, várias de suas vivências, ilustrando perfeitamente a temática abordada, fazendo com todos se sentissem estimulados a prosseguir renovados. 

Assim é Divaldo Franco, uma vez saindo para semear, colocando as mãos no arado Divino, nunca mais parou, sequer para olhar para trás. O jovem agricultor de Jesus prossegue firme no ideal de servir e amar, semeando no solo ainda árido dos corações que sofrem.

Encontro com trabalhadores de Roma 

No entardecer da quinta-feira, 17 de maio de 2018, na pequena sede do Grupo di Roma Allan Kardec – GRAK -, Divaldo Franco, encerrando sua passagem pela bela cidade, e pela Itália, promoveu um encontro com os trabalhadores do dedicado grupo, deixando aos cuidados do querido amigo Dr. Juan Danilo a exposição do tema: a mediunidade.

O lúcido expositor, Juan, iniciou abordando a faculdade mediúnica no seu aspecto orgânico, nos diferentes tipos e graus desta abençoada faculdade, especialmente quando tratada com respeito, com consciência, dedicação e disciplina. Asseverou o Dr. Juan que, se o médium não possuir uma ética de comportamento, não logrará viver em harmonia na sociedade. Os Espíritos veem, e diretamente informam que  o caminho é o do Evangelho, reafirmando, relembrando o que Jesus já o tinha dito, que era, e Ele é o caminho, a verdade e a vida. O cativante palestrante expôs com muita propriedade a sua vivência mediúnica, apresentando diversos exemplos que são, a mais das vezes, dúvidas que todos possuem, esclarecendo, de uma forma simples e objetiva, não deixando margens a interpretações equivocadas.

Discorreu sobre a sintonia mental, o momento dos estudos espíritas, promotores de uma higienização mental, pois a mente adentra-se nos conceitos do passado que o indivíduo trás ínsito e, absorvendo estes conceitos novos, leva-o a uma faixa mental diferente, a qual ainda não está acostumado, reiterando a importância do estudo sistemático da Doutrina Espírita.

Como é importante, e ao mesmo tempo difícil, falar com simplicidade e acima de tudo, expor os conceitos contidos no Espiritismo, fixando-se e aprofundando-se nas obras básicas da codificação, como bem fez Juan Danilo em sua exposição. Com este tema tão significativo o nobre expositor conquistou o público, pois soube envolvê-lo no pensamento lógico e fiel a Allan Kardec.

Encerrando a sua participação, Juan Danilo passou a palavra ao experiente amigo Divaldo Franco que deixou uma mensagem de bom ânimo, esclarecendo que os benfeitores estão atentos para auxiliar os dedicados trabalhadores do bem e que compete a cada um manter-se empenhado com a causa do Cristo, vigiando os pensamentos e os atos nesta hora de graves responsabilidades. Acima de tudo Jesus prossegue amparando a criatura humana com seu inefável amor. As vibrações de amor e paz saturaram a pequenina sala em Roma, fazendo lembrar os cristãos da primeira hora, reunidos nas catacumbas, em razão das perseguições terríveis, sem, no entanto, olvidarem de que Jesus conta com todos e com cada um.

As despedidas se fizeram em clima de saudades, pela ausência física, e o Arauto do Evangelho, Divaldo Franco, juntamente com alguns amigos retornaram ao hotel. A madrugada do dia 18 de maio os irá encontrar no aeroporto de Roma, rumando para a Suíça. Mas isto não é nada para um “jovem” de noventa e um anos de idade, pois que um servidor do Cristo, verdadeiramente amoroso, retira forças e energia do bem que faz e propaga.

 

Texto e fotos: Ênio Medeiros. 


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita