A. Como
explicar
a vida
de um
rouxinol,
seus
cuidados
com a
prole,
os atos
do
nascituro
e tudo o
mais que
compõe a
vida de
uma ave?
Depois
de
descrever
o que
pôde ver
na vida
de um
casal de
rouxinóis
e seus
filhotes,
Flammarion
não tem
dúvida
em
afirmar
que
aquele
que
criou o
rouxinol,
e quis
nos
alegrasse
ele com
o seu
canto
vespertino,
é o
mesmo
que
criou o
mundo e
houve
por bem
dar-lhe
as leis
da
própria
conservação.
Não há
ideia
mais
simples
e
majestosa,
nem que
mais
satisfaça
a nossa
necessidade
de
conhecimento.
Para
negá-lo
é
preciso
ser
estólido
ou
vítima
de
aberração
espiritual. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
B. O
belo é o
esplendor
da
verdade?
Segundo
Platão,
sim. E a
Natureza,
diz
Flammarion,
é
verdadeiramente
bela.
Longe de
desviar
os olhos
sempre
que
encontramos
uma
forma
expressiva
da
beleza
eterna,
admiramo-la
e
reconhecemo-la
tão
sinceramente
quanto o
fazemos
a uma
verdade
matemática. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
C. Qual
é a mais
vigilante
das
mães?
Para
Flammarion
não
existe
dúvida:
a
Natureza
é a mais
vigilante
das
mães.
Qual a
afeição
mais
tenra, o
amor
mais
carinhoso,
o
devotamento
mais
extremado
de mãe,
qual a
inteligência
mais
lúcida,
a
previdência
mais
sábia de
um pai,
que
poderiam
rivalizar
com os
cuidados
incessantes
e
universais
da
Natureza,
tão
profusa,
infatigável
e
prodigamente
despendidos
na
proteção
individual,
ativa, a
cada um
de seus
filhos? (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
Texto
para
leitura
980.
Aludindo
aos
rouxinóis
cujo
ninho se
lhe
deparava
bem
próximo,
Flammarion
escreveu:
“Que
família
encantadora!
E como
prezam a
vida
todos os
seis! Os
raios
solares
coam-se
através
dos
ramos,
do vale
evolam-se
perfumes,
é a vida
a
espanejar-se
em luz
nesta
temperatura
tépida
de Maio.
Por
vezes, o
minúsculo
casal
suspende
a tarefa
e
contempla
os
filhotes
com ar
de
contentamento
e
movimentos
de
cabeça
significativos.
Também
se fitam
silenciosos,
colam-se
as
cabeças
e
confundem-se
os
bicos,
como num
beijo de
amor..
Depois,
ei-los
como a
se
consultarem.
Uma
nuvem
refrescou
a
atmosfera.
O pai
voou, a
mãe
aninhou-se,
abrindo
as asas
de
maneira
a cobrir
todo o
ninho e,
todavia,
mantendo
alto a
cabeça,
por ver
o
horizonte
e sondar
as
redondezas.
Mas,
agora,
eis que
regressa
o
rouxinol
e se
coloca,
tal como
antes,
na beira
do
ninho, a
procurar
o bico
da
companheira.
É que
chegou a
hora do
jantar
da
família
e o
chefe
solícito
lhe traz
o cibo
preferido.
Quanto a
ela,
parece
não lhe
desprazer
o
regime,
de vez
que
aspira,
como
inebriada,
o manjar
que lhe
trazem.
Tremem-lhe
as asas,
todo o
corpo
lhe
palpita,
enquanto
o marido
vai e
volta
num afã
constante,
carreando-lhe
no bico
um
repasto
completo.
Muito
lhes
cabe
fazer
pela
prole.
Agora.
ei-los
sérios.
Há 15
dias,
passavam
o tempo
a
cantar,
a
saltitar
de galho
em
galho, a
brincar,
a
amar...
Agora,
nada
fazem
assim,
estão
casados,
chefes
de
família,
responsáveis
por uma
nova
geração.
Até que
os
filhotes
emplumem,
precisam
levar-lhes
à boca o
que mais
convém
na sua
idade e
preocupam-se
já com o
seu
destino.
Amam-nos
e talvez
eles não
compreendam
aquela
afeição
maternal.
É
possível
que
voem,
tão logo
a mãe
lhes
ensine a
voar; é
possível
que
subitamente
a
releguem
a uma
solidão
definitiva,
sem
jamais
se
lembrarem
da
infância.
A
afeição
é como
os rios;
desce e
não
sobe.” (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
981. Em
que
pensam,
hoje,
esse
rouxinol
e a sua
companheira?
Sem
dúvida,
ao
cogitarem
do
futuro
dos
filhos,
não têm
em mente
as
profissões
sociais
e os
princípios
de
honorabilidade
que
devem
nortear
todas as
carreiras.
Sem
dúvida
que não
serão
atormentados
por
cálculos
econômicos,
tantas
vezes
falaciosos
para o
homem.
Mas aos
que
negam o
instinto,
perguntaremos:
em que
escola
essa
esposa,
antes de
ser mãe,
aprendeu
a
construir
o ninho
que lhe
haja de
receber
os ovos?
Ela
tinha
apenas
um ano e
ainda
não
havia
chocado:
quem lhe
ensinou
a fazer
esse
ninho,
precisamente
assim e
não de
outro
modo?
Quem lhe
teria
falado
de
temperatura
necessária
à
incubação
e
eclosão
do ovo
fecundado?
Quem lhe
diria
que
chocando,
aquecendo
por 15
dias
aqueles
ovos,
facultaria
a sua
geração?
Posição
de
constrangimento,
apesar
do
alívio
que
experimenta,
tornar-se-ia
insuportável
à sua
vivacidade,
se um
determinismo
instintivo
não a
amparasse.
E quando
os ovos
vingaram,
quem lhe
disse
que
precisava
sair do
ninho e
que,
vivos e
precisando
subsistir
os
pequeninos
seres,
importava
granjear-lhes
alimentação
adequada?
Quem a
forçou a
passar
mais
quinze
noites
de asa
aberta
sobre o
ninho,
na mais
fatigante
das
posições
para uma
ave que
deve
dormir
sobre as
patas? (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
982. A
estas,
poderíamos
juntar
mil
outras
advertências.
Hão de
responder-nos
que a
primeira
espécie
aprendeu
tudo
isso
pelo
hábito,
e que as
tendências
se
transmitem
por
hereditariedade;
mas é
recair
no
mistério
das
gerações,
é não
mais que
recuar o
problema
à
primeira
espécie,
ou
melhor
ainda,
se o
quiserem
– aos
primeiros
tipos,
supostos
geradores
de todas
as
variedades.
Ora,
admitindo-se
mesmo,
contra
toda a
probabilidade,
que a
construção
dos
ninhos,
a
incubação
e os
primeiros
cuidados
com a
prole
sejam
mostras
de
inteligência,
não do
instinto,
e que as
espécies
tenham,
sucessivamente,
aprendido
a
proceder
dessa
maneira
– o que,
digamo-lo
ainda
uma vez,
nos
parece
inadmissível
– como
resolver
as
questões
atinentes
à
formação
do ser
dentro
do ovo? (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
983.
Quem
construiu
o ovo,
berço de
uma
geração
futura?
Quem
criou e
colocou
o germe
no
centro
desse
ovo?
Mediante
um poder
misterioso,
um ser
da mesma
natureza
dos pais
vai
mover-se
neste
fluido,
o ovo
incipiente
vai
sofrer a
mais
maravilhosa
das
metamorfoses,
vai
viver!
Completada
a
transformação,
surge
uma ave!
Assaz
débil
para
expor-se
fora,
não se
exterioriza
e,
enquanto
aguarda,
ei-la
cercada
pela
clara do
ovo, que
é
precisamente
o
alimento
que lhe
convém
até o
nascimento. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
984.
Assim,
pouco a
pouco,
se forma
inteiramente,
asas e
patas se
desligam,
a cabeça
sobreleva
o peito,
só lhe
resta
deixar a
prisão e
para
isso o
bico se
reveste
de um
esmalte,
que cai
logo
depois
do
nascimento.
Com o
bico
assim
aparelhado,
ele se
põe a
quebrar
a casca
do ovo,
até que
consegue
pôr de
fora a
cabeça.
Utiliza,
então,
as asas
e acaba
por
libertar-se
inteiramente. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
985.
Pois
bem: –
que os
adversários,
em tudo
isto se
esfalfem
por
formular
as mais
vastas e
intermináveis
teorias,
que
acumulem
hipóteses
sobre
hipóteses,
que
recusem
chamar
instinto
aos atos
do
nascituro,
como da
ave que
o
engendrou;
que
embrulhem
o
assunto
com
explicações
tortuosas,
confusas,
e nem
por isso
deixamos
de aí
ter um
fato
natural,
eloquente
na sua
simplicidade
e que
eles, os
adversários,
não
poderão
derrocar.(Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte.Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
986.
Aquele
que
criou o
rouxinol
e quis
nos
alegrasse
ele com
o seu
canto
vespertino
criou o
mundo e
houve
por bem
dar-lhe
as leis
da
própria
conservação.
Não há
ideia
mais
simples
e
majestosa,
nem que
mais
satisfaça
a nossa
necessidade
de
conhecimento.
Negar as
leis
conservadoras
da vida
é negar
toda a
Natureza.
A nós
nos
parece
que para
ir a
tais
extremos
é
preciso
ser
estólido
ou
vítima
de
aberração
espiritual. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
987. A
verdadeira
Ciência
está
muito
longe de
tais
negações!
Seria,
na
verdade,
uma
desgraça
se o
fruto da
sabedoria
redundasse
em
aniquilamento
das leis
que
regem o
Universo
e
constituem
a sua
unidade
viva.
Por que,
pois, em
face de
fatos
tão
irresistíveis
quanto
os do
instinto
animal,
não
confessar
uma
verdade
bela e
tocante
ao mesmo
tempo?
Será
precisamente
por bela
e
tocante
que a
recusam? (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
988.
Seríamos
quase
levados
a
supô-lo,
pois
nestas
teorias
materialistas,
basta
seja uma
coisa
agradável
ao
espírito
para
logo ser
repelida.
Esta,
contudo,
não é
uma
razão
assaz
suficiente.
Para
nós, ao
contrário,
contemplamos
a
Natureza
em todos
os seus
aspectos.
A
verdade
não pode
deixar
de ser
bela e
não é só
Platão a
pensar
que o
belo é o
esplendor
da
verdade.
A
Natureza
é
verdadeiramente
bela.
Longe de
desviar
os olhos
sempre
que
encontramos
uma
forma
expressiva
da
beleza
eterna,
admiramo-la
e
reconhecemo-la
tão
sinceramente
quanto o
fazemos
a uma
verdade
matemática.
Não é a
Natureza
a nossa
mãe?
Onde já
passamos
horas
mais
deliciosas
e
instrutivas
do que
as
vividas
intimamente
com ela,
no seio
das
matas
silenciosas? (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
989.
Contemplemos,
na sua
maravilhosa
harmonia,
a lei de
continuidade
da
espécie
humana,
procuremos
aprofundar
a ordem
misteriosa
que
preside
à nossa
geração
e
crescimento.
Que
maior
prova de
habilidade
pudera
dar a
Natureza
ao
envolver
cada
sexo
nessa
atração
indefinível,
que o
escraviza
suavemente
aos seus
desígnios
soberanos?
Que
sabedoria
não nos
testemunha
ela,
organizando,
em bases
rígidas,
a vida
oculta
do ser
em
formação,
que até
o dia do
nascimento
se
beneficia
de uma
existência
inteiramente
diversa
da de
todos os
outros
seres
vivos?
Que
previdência
não
demonstra
ao
criar,
para
nutrição
do
tesouro
oculto,
órgãos
diferentes
dos que
lhe
haverão
de
servir
na vida
atmosférica
e ao
preparar
para os
primeiros
dias a
mais
pura das
ambrosias? (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
990.
Perguntemos
às
jovens
mães
quantos
cuidados
requerem
esses
recém-nascidos
fragílimos
e
trêmulos.
E,
contudo,
a
Natureza
ainda
será a
mais
vigilante
das
mães.
Qual a
afeição
mais
tenra, o
amor
mais
carinhoso,
o
devotamento
mais
extremado
de mãe;
qual a
inteligência
mais
lúcida,
a
previdência
mais
sábia de
um pai,
que
poderiam
rivalizar
com os
cuidados
incessantes
e
universais
da
Natureza,
tão
profusa,
infatigável
e
prodigamente
despendidos
na
proteção
individual,
ativa, a
cada um
de seus
filhos? (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
991.
Sobre a
previdência
da
Natureza,
poderíamos
escrever
grossos
“in-fólios”.
Poderíamos
perguntar
se é por
acaso e
sem
objetivo
que as
espécies
mais
fracas e
expostas
à morte
são
precisamente
as mais
fecundas,
como
sejam
galináceos,
perdizes
etc.,
pondo
dezenas
de ovos
fecundados
e
deixando,
ao fim
de um
ano,
centenas
de
rebentos,
enquanto
as aves
de
rapina,
condores,
águias
etc. se
apresentam,
comparativamente,
quase
estéreis. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
992.
Poderíamos,
também,
perguntar
se é às
cegas
que a
Natureza
decora
de
encantos
particulares
os
pequeninos
seres
sem
força e
sem
amparo,
despertando-nos
interesse
e
atenção
para
essas
cabecitas
louras
que,
privadas
de
assistência,
acabariam
dormindo
em seu
berço um
sono
eterno.
Poderíamos,
ainda,
invocar
aqui o
espetáculo
integral
da
Criação
vivente,
mas,
intimamente
convencido
da
adesão
dos
leitores,
neste
particular,
não
insistiremos
inutilmente. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
993.
Parece-nos
que
esses
eminentes
trabalhadores
fizeram
entusiasmados
o maior
trecho
do
caminho
e que,
não
possuindo
vista
telescópica
capaz de
distinguir
o fim,
esquecem
que o
progresso
das
ciências
tem
verdadeiramente
um fim e
estacam,
inertes,
depois
de
provarem
uma
capacidade
ativa
incontestável.
Nossos
opugnadores
pretendem
fazer
ciência
quando
declaram
que a
organização
dos
seres
não
justifica
o
ascendente
de um
desígnio
na
Natureza.
Em lugar
de
ciência,
o que
eles
fazem é
puro
sistematismo,
arbitrário,
nisto
como em
tudo o
mais. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.) (Continua
no
próximo
número.)