A. Os
fatos
revelam
a
existência
de um
plano e
de uma
finalidade
na obra
da
Natureza?
Sim. Os
organismos
vivos
são
construídos
como se
a causa
que os
condicionou
teria
tido em
vista
uma
destinação
dos
órgãos
em
relação
à vida
peculiar
de cada
ser,
tanto
quanto à
existência
global
de todos
os seres
em
conjunto.
Tal
conclusão
é
resultado
da
observação
científica.(Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte.Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
B.
Admitir
que
exista
um
plano,
tanto
quanto
uma
finalidade
na obra
da
Natureza,
significa
que o
Universo
é
governado
por uma
Inteligência?
Evidentemente.
A ordem
verificada
nos
fatos
não
produzidos
pelo
homem
mostra-nos
que as
correlações
apresentadas
pelo
mundo
material
resultam
de ações
e
reações
que,
combinadas,
regem-se
por
leis.
Pela
experiência
contínua
da vida,
sabemos
que
sempre
as
correlações,
as
harmonias,
as leis
são obra
de uma
inteligência
cujo
poder é
proporcionado
à
extensão
dos
fatos e
das
harmonias
coordenadas.
Temos
assim,
por
evidente,
que o
Universo
é
governado
por uma
Inteligência.(Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte.Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
C. Os
materialistas
pensam
de forma
diferente.
Por que
a
verdade
não
estaria
do seu
lado?
As
pessoas
podem
pensar
como
quiserem,
mas o
bom
senso
decreta,
imperiosamente,
que não
podemos
atribuir
a uma
circunstância
molecular
e
fortuita
a
atração,
a
eletricidade,
o calor,
a
composição
do ar,
fatos
cósmicos
perfeitamente
apropriados
à
vegetação
das
plantas
e à vida
animal,
pela
mesma
razão
que
ninguém
admitiria
pudessem
milhares
de tipos
de
impressão,
espalhados
ao
acaso,
produzir
a Ilíada ou
a Jerusalém
Libertada.
Se, para
fugir a
conclusões
lógicas,
nos
dissessem
que
essas
qualidades
são
efeitos
inerentes,
nem por
isso
elidiriam
a
necessidade
lógica
de uma
intervenção
suprema
e
inteligente. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
Texto
para
leitura
994. Em
que
consiste
o método
científico?
Que será
uma
teoria
em
Astronomia,
em
Física,
em
Química?
Observamos
os fatos
e quando
possuímos
um
conjunto
de
observações
suficientes
procuramos
religá-los
mutuamente
entre
si,
mediante
uma lei.
Vemos
essa
lei?
Nunca,
jamais.
Adivinhamo-la
pela
discussão
dos
fatos e
talvez a
denominação
que lhe
damos
não seja
a que
melhor
convenha. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
995.
Esta
teoria,
pela
qual
nosso
espírito
insaciável
sente a
necessidade
de
explicar
todas as
coisas,
não é,
antes de
tudo,
senão
uma
hipótese
cujo
valor
consiste,
principalmente,
na
satisfação
que nos
proporciona
a
explicação
natural
dos
fatos
estudados.
Por
muito
tempo
ela não
passa de
hipótese,
inconsistente
e
frágil,
que o
mais
leve
sopro
pode
derrubar,
para só
elevar-se
à
verdadeira
teoria
quando
suficientemente
examinada,
experimentada
e
sancionada
pelo
estudo.
De outra
forma,
resvala
para o
campo
das
erronias
imaginárias. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte.Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
996.
Vejamos,
por
exemplo,
os
movimentos
dos
corpos
celestes.
Notamos
que eles
descrevem
elipses
de que o
Sol se
constitui
um dos
focos;
notamos
que as
superfícies
percorridas
são
proporcionais
aos
tempos,
e
notamos
que
estes
tempos
de
revolução,
multiplicados
por si
mesmos,
estão
entre si
como os
grandes
eixos
multiplicados
três
vezes
por si
mesmos.
Para
explicar
os
movimentos
da
mecânica
celeste,
emite-se
a
hipótese
de que
os
corpos
se
atraem
na razão
direta
das
massas e
inversa
do
quadrado
das
distâncias. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
997.
Enunciar
esta
hipótese
vale
simplesmente
por
dizer
que as
coisas
se
passam
como se
os
astros
se
atraíssem.
Depois,
explicando
essa
hipótese,
perfeitamente,
todos os
fatos
observados
e dando
conta de
todas as
circunstâncias
do
problema,
torna-se
ela uma
teoria.
Enfim,
achando-se
esta lei
universalmente
demonstrada,
tanto
pelo
balanço
das
estrelas
gêmeas,
na
profundeza
dos
céus,
como
pela
queda de
uma maçã
na
superfície
da
Terra,
afirma-se
que a
lei
chamada
gravitação
representa,
de fato,
a força
reguladora
dos
mundos. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
998.
Idêntico
é o
processo
que
empregamos
ao
declarar
que os
organismos
vivos
são
construídos
como se
a causa
que os
condicionou
teria
tido em
vista
uma
destinação
dos
órgãos
em
relação
à vida
peculiar
de cada
ser,
tanto
quanto à
existência
global
de todos
os seres
em
conjunto.
As
verdadeiras
causas
finais
são,
portanto,
um
resultado
da
observação
científica.
O método
é o
mesmo e,
como bem
o disse
Flourens,
é
preciso
partir
não das
causas
finais
para os
fatos,
mas
destes
para
aquelas. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
999.
Induzir
do
conhecido
para o
desconhecido,
eis o
único
método
positivo.
Ora, o
resultado
deste
método,
seja ele
qual
for,
merece
ser
proclamado
como
científico.
Pode
suceder
que a
revelação
de um
plano e
de uma
finalidade
na
Natureza
não
agrade a
Fulano
ou
Beltrano,
mas isso
pouco
importa. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte.Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
1000.
Fulano e
Beltrano
estão no
mais
falso
dos
erros
quando
nos
acusam
de não
proceder
de
acordo
com a
Ciência
experimental
e
incidem
na mais
fatal
das
ilusões
quando
imaginam
proceder
de
acordo
com essa
ciência.
A
verdade,
porém,
despreza-lhes
as
tendências
e fica
inalteravelmente
idêntica,
sem se
preocupar
com os
prismas
através
dos
quais a
encaram
olhos
interessados
em vê-la
abaixo
da sua
posição
real. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
1001.
Esquisitice
inexplicável
em
homens
judiciosos
pretenderem
que,
admitindo
a
existência
de Deus,
sejamos
obrigados
a
admitir
o
arbítrio
na
Natureza,
como se
a
vontade
suprema
não
fosse
necessária,
infinitamente
sábia e,
por
consequência,
universalmente
regular.
“Os que
só veem
em todos
os
movimentos
da
Natureza
os meios
de
atingir
um fim –
diz
Moleschott
– chegam
mui
logicamente
à noção
de uma
personalidade
que, num
tal
propósito,
confere
à
matéria
as suas
propriedades.
Esta
personalidade
também
designará
o fim.
Se assim
é, se
uma
personalidade
designa
os fins
e
escolhe
os
meios, a
lei de
necessidade
desaparece
da
Natureza.
Cada
fenômeno
se torna
partilha
de um
jogo do
acaso e
de um
arbítrio
sem
finalidade.” (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
1002. J.
B. Biot
afigura-se-nos
mais bem
inspirado
quando
assim
conclui
o exame
da
Natureza:[i]
“Por
mim,
quanto
mais
considero
a
harmonia,
a
imensidade
do
Universo
e as
maravilhas
da
Criação,
tanto
mais
admiro
esse
concerto
maravilhoso
e menos
apto me
julgo
para
explicá-lo.
Ousarei
dizer,
mesmo
por
havê-lo
experimentado,
que
essas
explicações
imperfeitas,
esses
vagos ou
falsos
relatórios,
que
alguns
modernos
escritores
querem
inculcar
como
harmonias
sublimes,
nunca
nos
pareceram
mais
temerários
e fúteis
do que
quando
defrontamos
a
Natureza.
Quando
se há
tido a
ventura
de
conhecer
e sentir
as
verdadeiras
belezas
que ela
ostenta,
somos
tentados
a
conceituar,
como
profanadores
e
ímpios,
quantos
a
desfiguram
com
indignos
disfarces.
Assim é
que
todos os
seres
organizados
tiveram
seus
meios
próprios
de vida,
tão
numerosos
e tão
multiplicados
na
variação
do
mecanismo,
quanto
as
estrelas
do céu.
“E
note-se
que isto
é o que
percebemos
exteriormente,
pois o
mais
maravilhoso
nos fica
oculto.
Quem,
jamais,
pôde
compreender
a ação
química
das
membranas
vivas, a
causa
dos
movimentos
voluntários
e
involuntários
– que
digo eu?
– o voo
da
mosca,
os
torneios
da
borboleta?
Quando
nossa
inteligência
mal pode
atingir
o
conhecimento
das
disposições
exteriores
do
organismo
e mal
pode
apreender
as
relações
entre si
de
alguma
das
peças
que o
compõem,
seria,
parece-nos,
ilógico
não ver
no âmago
desse
conjunto
o
princípio
inteligente,
como o
ordenador
e
regulador
de tudo.
Por mim
quero,
ao
menos,
possuir
a
filosofia
da minha
ignorância.” (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
1003. A
ordem
verificada
nos
fatos
não
produzidos
pelo
homem –
advertiremos
ainda
com
ilustre
escritor[ii] –
mostra-nos
que as
correlações
apresentadas
pelo
mundo
material
resultam
de ações
e
reações
que,
combinadas,
regem-se
por
leis.
Pela
experiência
contínua
da vida,
sabemos
que
sempre
as
correlações,
as
harmonias,
as leis,
são obra
de uma
inteligência
cujo
poder é
proporcionado
à
extensão
dos
fatos e
das
harmonias
coordenadas.
Temos
assim,
por
evidente,
que o
Universo
é
governado
por uma
Inteligência. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte.Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
1004.
Estas
correlações
e estas
harmonias
estão em
correspondência
com as
propriedades
intrínsecas
da
matéria
e a elas
se ligam
de tal
sorte
que
deixariam
de
existir
se essas
propriedades
substanciais
fossem
outras.
Daí
concluímos
que a
matéria
com as
suas
propriedades
intrínsecas
é também
obra da
Inteligência,
que lhe
estabeleceu
as leis. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
1005. O
bom
senso
decreta,
imperiosamente,
em que
pesem as
alegações
contrárias,
que não
podemos
atribuir
a uma
circunstância
molecular,
fortuita,
a
atração,
a
eletricidade,
o calor,
a
composição
do ar,
fatos
cósmicos
perfeitamente
apropriados
à
vegetação
das
plantas,
à vida
animal,
pela
mesma
razão
que
ninguém
admitiria
pudessem
milhares
de tipos
de
impressão,
espalhados
ao
acaso,
produzir
a Ilíada ou
a Jerusalém
Libertada.
Se, para
fugir a
conclusões
lógicas,
nos
dissessem
que
essas
qualidades
são
efeitos
inerentes,
nem por
isso
elidiriam
a
necessidade
lógica
de uma
intervenção
suprema
e
inteligente. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
1006.
Juntemos
a esta
imagem
um
aforismo
pouco
discutível:
todo fim
supõe
uma
intenção,
toda
intenção
uma
consciência
e toda
consciência
uma
personalidade. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
1007. O
problema
das
causas
finais,
repitamo-lo,
é de
solução
mais
difícil
e
complicada
do que
se
prefigura
a muitos
imaginativos
apressados.
Ele se
traduz,
como
diriam
os
antepassados,
antes em
potencial
do que
em ato.
Os fatos
gerais o
decidem
e os
particulares
o
dificultam.
Para bem
o
apreender,
importa
ao
espírito
adstringir-se
a um
exame
severo
e, de um
golpe de
vista,
abranger,
senão a
totalidade,
pelo
menos a
maioria
das
coisas
conhecidas,
sob o
duplo
aspecto
do tempo
e do
espaço. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
1008. O
primeiro
efeito
desse
rigoroso
estudo
crítico
é,
precisamente,
afastá-lo
de toda
crença e
resguardá-lo
dessas
mesquinhas
interpretações
humanas,
que
levam a
criatura
a
referir
tudo a
si
mesma,
como
eixo
central
da
Criação.
Assim
procedendo,
poderemos,
então,
rir das
ilusões,
vaidades
e
tentativas
insensatas
do
orgulho
humano.
Esse, o
primeiro
resultado
do
estudo
geral
dos
seres. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
1009.
Contudo,
quando
prosseguimos
investigando,
até
perceber
as
forças
íntimas
que
sustentam
cada ser
criado,
até
descobrirmos
as leis
universais
que
regem
simultaneamente
o
edifício
total e
cada uma
das
partes
desse
imenso
edifício,
então
distinguiremos
as
linhas
de um
plano
geral,
perceberemos,
aqui e
ali, os
elos de
solidariedade
que
entrosam
num só
desígnio
os
corpos
mais
distantes,
reconheceremos
a
unidade
do
pensamento
que
presidiu
– ou
melhor –
que
preside
eternamente
o
condicionado
universal
e
governa,
na rota
do
infinito,
o carro
imensurável
da
Criação. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
1010.
Enfim,
acostumando-nos
a essas
contemplações
essenciais,
também
chegaremos
a
concluir
que esta
noção da
divindade
ainda é
muito
humana
para que
seja
verdadeira
e que
essa
força
que
sustenta
o mundo,
essa
potência
que lhe
dá vida,
essa
sabedoria
que o
dirige,
essa
vontade
que o
impele
eternamente
para uma
perfeição
inacessível,
essa
unidade
de
pensamento
que se
revela
sob as
formas
transitórias
da
matéria,
não são
uma
força,
um
poder,
uma
sabedoria
e uma
vontade
humanas,
mas
atributos
inerentes
a um ser
inominável,
incompreensível,
incognoscível,
de cuja
natureza
nada
podemos
razoar e
cujo
conhecimento
é para
nós
cientificamente
inabordável. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte. Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
1011.
Este
resultado
final
das
investigações
positivas
explica
por que
e como,
nesta
discussão,
se
afigura
que
estendemos
a mão
esquerda
a Berlim
e a
direita
a Roma.
A quem
no-lo
objete,
responderemos
que se
não
trata
aqui
senão de
um fato
geográfico,
resultante
do nosso
pendor
para
visualizar
sempre o
Oriente.
Sem
dúvida,
esta
atitude
nos
granjeia
o
qualificativo
de
herético,
conferido
pelos
doutores
que se
repoltreiam
em sua
cátedra
secular,
mesmo
porque
seus
olhos
modorrentos
vêm de
há muito
preferindo
a
suavidade
das
meias
tintas
crepusculares
aos
flamíneos
raios
aurorescentes. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte.Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.)
1012. A
lealdade,
porém,
obriga-nos
a
proclamar
que o
exagero
dogmático
é tão
falso
como o
cepticismo
e que a
trilha
do
pensador
oscila
equidistante
desses
extremos.
Sim,
oscila.
Os que
se
presumem
mais
firmes
nesse
terreno
são os
que mais
próximo
estão da
queda.
Para o
homem
que
estuda,
nada há
definitivo
neste
mundo.
Quanto
mais
progride
a
Ciência,
mais o
homem
percebe
a sua
ignorância.
Todavia,
parar é
morrer.
Caminhar,
mesmo
contramarchando
às
vezes, é
realizar
o fim
mais
nobre da
existência.
Em
Filosofia,
como em
Mecânica,
o
equilíbrio
não
passa,
jamais,
de um
equilíbrio
instável. (Deus
na
Natureza
– Quarta
Parte.Plano
da
Natureza
–
Instinto
e
Inteligência.) (Continua
no
próximo
número.)
[i] Mélanges Scientifiques et Litteraires, t. 2º.
[ii] J. M. de la Codre – Les Dessems de Dieu. Este ensaio de filosofia religiosa e prática caracteriza uma das felizes tendências contemporâneas contra a invasão do ateísmo. Os argumentos, aí desenvolvidos, resumem-se no seguinte: Não existe o impossível; no Universo há ordem e a ordem só pode emanar de uma inteligência. O Universo é, portanto, obra de uma inteligência. Essa ordem resulta da execução de uma lei, ou do concerto de várias leis, e as leis são sempre, e necessariamente, obra de uma vontade inteligente. O autor do Universo, Deus, sendo uma Inteligência, teve indubitavelmente um fim, criando o Universo. Esse fim seria fazer-nos felizes, como no-lo atestam as nossas aspirações e faculdades, no que possuem de mais elevado. Todos os seres dotados de sensibilidade são, por conseguinte, convocados à felicidade. E nós vemos, de fato, que eles são até certo ponto felizes, por isso que todos vivem e amam a vida, assegurando-a e defendendo-a até os limites extremos. A felicidade, porém, não é igual para todos os seres: Há, notadamente, uma diferença marcante entre a felicidade dos animais e a presumida felicidade humana. Aquela se adstringe a estreitos limites, é uma felicidade simplesmente “dada”, enquanto que esta toma vastas proporções e reveste outro caráter; é uma felicidade merecida”.
Compreender-se-á facilmente esta distinção – diz o Autor – observando os fatos e comparando os raros e incompletos prazeres de que compartilham os seres puramente sensitivos, com os gozos serenos, infinitos, que a alma humana encontra no cumprimento do dever, na piedade, nos doces afetos da família. A mor parte dos sofrimentos nos sobrevêm quando, por ignorância ou rebeldia, contravimos às leis do criador.
Da perpetuidade dessa aspiração a uma felicidade completa e indefinida, e da faculdade de aperfeiçoamento moral, bem como de conhecimento progressivo; – uma vez que essa felicidade não pode existir na Terra – devemos concluir que o homem não perecerá neste mundo com o seu invólucro corporal. A esta hermenêutica podemos ajuntar o seguinte, que o autor nos expôs em carta particular:
“A Natureza é ao mesmo tempo o laboratório e o operário de Deus, assim como a oficina provida de um preparador é o laboratório do físico ou do químico. Tanto mais superiores são os produtos brotados da Natureza, em relação aos de nossas oficinas, quanto mais exaltam e atestam o poder e a inteligência divinos, em relação aos de nossos sábios. Estes, com os materiais que lhes oferece a Natureza, não conseguem fazer o que faz “o operário de Deus” sob a sua direção.
D:H::N:O
“Deus está para o homem como os produtos da Natureza estão para os da oficina.”
D:N::H:B
Deus “atua” sobre a Natureza como a vontade do homem, guiada pela sua inteligência, “atua” sobre os seus olhos e braços.
Num capítulo de Os Desígnios de Deus, consagrado à Pluralidade dos Mundos habitados, o Autor contradita a nossa opinião sobre a variedade dos organismos no Universo e a ideia de uma semelhança entre todas as humanidades. Baseia-se ele no seguinte raciocínio: se os habitantes doutros mundos não têm a forma terrestre e se estamos destinados a viver também nesses mundos, não poderemos lá reconhecer os amigos caros... A objeção é mais sentimental que científica e não cabe discuti-la aqui. Podemos, nada obstante, repetir que, em virtude da diversidade de ação das forças naturais, noutros planetas, é quase certo que a série zoológica lá se tenha construído sobre um tipo análogo ao da série terrestre.