O espírita e a política
É interessante observar o comportamento da humanidade
como um todo, revisitando regularmente antigas questões
de interesse para mais uma vez rediscuti-las. Tudo
indica ser este o processo de evolução.
Neste particular texto, a nossa atenção se volta para a
parcela da humanidade espírita, embora ainda pequena,
também não foge à regra. Como dito, de tempos em tempos,
temas importantes, não há qualquer dúvida, ressurgem e
mais uma vez iniciam debates e troca de argumentações no
âmago dos seguidores de Allan Kardec.
Referimo-nos especificamente à posição do espírita em
relação à sua possível atuação na sociedade como
integrante nas estruturas político-partidárias. O
renascimento do assunto, não há sombra de dúvida, se
deve ao quadro pretensamente caótico enfrentado
atualmente pela nação. Pela observação da experiência de
cada um, parece ser um dos momentos mais agudos
enfrentados não só pelos espíritas, bem como por todos
nós brasileiros.
Aparentemente ninguém se entende e o suposto caos se
apresenta insinuante: um prende daqui, outro solta dali;
os escândalos se sucedem em todas as áreas – saúde,
educação, segurança...; noticiário espetacular aponta
diariamente corrupção nos três níveis da administração -
municipal, estadual e federal, e mais, nas três esferas
de poder - Judiciário, Executivo e Legislativo;
personalidades insuspeitas do meio público acabam por
aparecer nas manchetes dos principais meios de
divulgação arroladas em situações indecorosas e imorais;
parentes destas “figuras notórias” também insistem em
surgir, aqui e acolá, envolvidos em desvios de toda a
ordem; casos dos mais escabrosos estouram a todo o
momento envolvendo desvios inimagináveis de recursos
públicos, desta forma, nesta aparente desordem,
como acontecerá a tão desejada e esperada Ordem e
Progresso, inscrição luminosa a tremular em nosso
Pavilhão Nacional?
O momento é convidativo ao reinício dos debates sobre a
ausência quase absoluta de políticos espíritas eleitos
pelo povo, os quais, segundo alguns, deveriam ocupar
variadas posições-chave nos diversos setores da
sociedade brasileira, como já fazem muitos seguidores de
outras correntes religiosas. Estes últimos já formando
bancadas e grupos, verdadeiras sociedades, decidindo
sobre questões de interesse nacional, coletivo,
entretanto, sob ponto de vista particularíssimo de suas
próprias crenças.
É surpreendente o retorno de tal discussão no seio
espírita.
Alguns, mais afoitos, relembram com insistência três
personagens ímpares da história espírita: Bezerra de
Menezes, Eurípedes Barsanulfo e Cairbar Schutel, entre
outros, como exemplos de que o espírita pode e,
principalmente, tem o dever de se alinhar de mãos dadas
e lançar candidaturas políticas, antes do esgotamento
das datas para registro dos candidatos, todos em
uníssono prometendo de “pés juntos” usar as tribunas e
cargos obtidos para acertar os rumos do país.
Quanta ilusão!
Para relembrar, ou mesmo informar aos mais atirados, os
três espíritas anteriormente citados, antes de
reencarnarem, já haviam construído uma fortaleza moral e
ética, em vidas passadas, diminuindo sobremaneira a
chance de se corromperem nos cargos ocupados
provisoriamente. Acreditamos mesmo, poderem estes três
baluartes ocupar qualquer posto sem se deixarem levar
pelos apelos mundanos e indecorosos, teimando em surgir
no meio político brasileiro. Adicionalmente, os dois
primeiros deixaram os cargos políticos ao se tornarem
espíritas, e, no caso de Cairbar, já não era mais
Intendente de Matão há bom tempo (cargo equivalente ao
de Prefeito) quando abandonou o catolicismo para adotar
o Espiritismo, no ano de 1904.
Assim sendo, os três gigantes já mencionados não devem
ser citados de modo algum, porquanto eles não servem
como exemplos, considerando terem percebido
conscientemente ou instintivamente não ser possível
conciliar uma vida integralmente dedicada ao
Espiritismo, consequentemente ao próximo, com
atribuições político-partidárias.
Para aquele desejoso em se inspirar em algum político
espírita para justificar a sua aspiração em servir nos
quadros administrativos nacionais ou regionais,
sugerimos destacar José de Freitas Nobre1,
espírita detentor de alguns postos políticos durante bom
tempo de sua existência, porém, sendo orientado sobre a
sua atuação política por nada mais nada menos do que
Emmanuel e Bezerra de Menezes.
Aliás, estamos usando impropriamente o vocábulo
política, pois o que fazem atualmente os mandatários da
nação, quase todos os detentores temporários do poder,
não representa de fato condutas políticas, mas atitudes
características da politicalha ou politicagem, tão bem
definida pelo inesquecível Águia de Haia, Rui Barbosa,
que deve estar também à frente dos Espíritos atentos ao
que sucede à nação.
Dificílimo é adentrar o lamaçal sem se sujar, mas somos
livres.
Antes de concluirmos, cabem algumas importantes
lembranças aos postulantes2: a data-limite
para filiação partidária e registro de partidos ocorreu
em 7 de abril e, em 15 de agosto, se dará a data-limite
para que partidos e coligações apresentem o requerimento
de registro de candidatos junto à Justiça Eleitoral.
Desta forma, só os espíritas hoje filiados a algum
partido poderão se lançar candidatos, caso evidentemente
convençam seus respectivos partidos de sua importância
para o futuro do país.
Sendo assim, todos aqueles, se sentindo à vontade,
convictos de poder navegar com segurança nos mares
tempestuosos da politicalha brasileira, bem
característica do momento, estão certamente convidados a
dar um passo à frente, pleiteando suas candidaturas,
pois a Doutrina nada proíbe, apenas esclarece. Além
disto, aqueles que se autoavaliaram e concluíram estar
no mesmo ou similar patamar moral e ético dos três
grandes gigantes mencionados estão também conclamados a
dar um passo à frente.
Ocorrendo esta decisão, seria de bom alvitre não
realizar campanha política dentro da Casa espírita;
tampouco preparar panfletos destacando suas opções de
vida pelo Espiritismo vinculando a obtenção de votos à
crença comum; muito menos solicitar votos dos espíritas
pelos meios midiáticos disponíveis; jamais desfilar
pelos salões da instituição espírita usando bótons e
adesivos colados às vestimentas indicando a sua
predileção partidária, isto tudo em respeito à própria
Doutrina e por Allan Kardec.
É oportuno igualmente esclarecer sobre as expressões em
itálico empregadas ao longo do texto, a saber: pretensamente
caótico, suposto caos, aparente desordem,
este emprego não se deveu ao acaso, porquanto foram
usadas para enfatizar que tudo está sob controle e foi
previsto por Allan Kardec. Para se convencer desta
afirmação, basta ler ou reler detidamente o último
capítulo de A Gênese – São chegados os tempos, e
parafraseando o nosso inolvidável Mestre dos mestres,
cuja vida impoluta jamais abrigou qualquer nuance de
partidarismo, propomos: os que detiverem entendimento de
entender, entenderão.
A cada qual pelas suas obras.
Referências:
1 Disponível
em: fepparana Acesso
em 06/07/2018.
2 Disponível
em: eleições Acesso
em 06/07/2018.
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