Centro Espírita Amalia Domingo Soler:
destino selado há décadas
Uma breve história de uma instituição espírita dinâmica
e atuante
Barcelona é a capital da região da Catalunha, situada
no Reino de Espanha, bem
como o segundo município mais populoso do país, com uma
população de 1,6 milhão dentro dos limites da cidade.
Foi fundada como uma cidade da Roma Antiga e que durante
a Idade Média tornou-se a capital do Condado de
Barcelona. A cidade possui uma rica herança cultural e é
hoje um importante polo cultural e um destino turístico
popular. Particularmente conhecidas são as obras
arquitetônicas de Antoni Gaudí e Lluís Domènech i
Montaner, que foram designadas Patrimônio Mundial da
UNESCO.
Retrocedendo um pouco nos acontecimentos que marcaram a
história do Espiritismo, Barcelona foi o palco do “Auto
de fé de Barcelona”, expressão usada por Allan Kardec
para se referir à queima de trezentos livros espíritas
no dia 9 de outubro de 1861, em praça pública.
Livros como Revue Spirite, A Revista
Espiritualista, O Livro dos Espíritos, O Livro dos
Médiuns, O que é o Espiritismo e tantos outros que,
ao chegaram ao país, foram apreendidos na alfândega por
ordem do Bispo de Barcelona, Antônio Palau Termes, sob a
alegação de que “a Igreja católica é universal e os
livros, sendo contrários à fé católica, o Governo não
poderia consentir esta perversão à moral e à religião de
outros países”.
Quando do fato ocorrido, Amalia Domingo Soler, com 26
anos de idade, já era conhecida como uma mulher dotada
de inteligência clara e sutil. Grande dama e paladina do
movimento espírita ibero-americano, Amalia se fez muito
admirada no Brasil, através da obra “Fragmentos das
Memórias do Padre Germano”.
As agruras enfrentadas por Amalia Soler
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Quase cega desde o berço, conseguiu, não
obstante, com o seu denodo e a sua pena, elevar
o nome do Espiritismo e da mulher espírita na
Espanha. |
Também se caracterizou
por sua força em suportar numerosas dificuldades pelos
preconceitos do tempo sobre as mulheres. Inteligência
essa que foi acompanhada por uma personalidade
extraordinária, grandeza espiritual incomparável,
dando-lhe no campo da literatura espírita um lugar
insubstituível, a exemplo de Anália Franco no Brasil e
de Emma Hardinge Britte na Inglaterra.
Amalia nasceu em 10 de novembro de 1835. Aos 10 anos já
escrevia poesia e, embora muito jovem, perdera o único
membro da família que lhe restava: sua própria mãe.
Entre “idas e vindas” na luta contra as normas que
regiam as vidas femininas e a não aceitação do
Espiritismo pelo governo espanhol e pela Igreja
Católica, seu
primeiro artigo espírita foi publicado na primeira
página do "El Critério" em 1872, intitulado "Fé
Espírita", mas foi em 4 abril de 1874 que passou a fazer
parte dos grandes propagandistas espíritas, publicando
um famoso poema: "In Memory of Allan Kardec".
O surgimento de La Luz del Porvenir
Amalia não tinha recursos para comprar livros e foi
Fernandez Colavida quem lhe enviou a coleção completa do
trabalho de Kardec. A partir de então, completamente
indiferente ao preço a pagar para a defesa de uma nova
ideia, lançou-se ao trabalho e manteve vivo o interesse
de uma ampla gama de leitores com seus artigos cheios de
beleza e humildade. Ela mesma fundou um jornal, "La Luz
del Porvenir" em 1879, e seu artigo de fundo, intitulado
"A ideia de Deus", causou tal agitação que a revista foi
condenada, por manobra de interesses religiosos
dominantes, a 42 semanas de suspensão. Em 4 de julho do
mesmo ano, ele deu origem, no entanto, com a ajuda de
seu amigo J. Torrents ao periódico "O Eco da Verdade",
dos quais 26 edições foram publicadas. Enquanto isso,
"La Luz del Porvenir" voltaria a recircular em 11 de
dezembro do mesmo ano.
Amalia teve a audácia de lutar e discutir com os
representantes da Igreja organizada. Em março de 1884 o
padre Sallars fez uma série de sermões na Catedral de
Barcelona, tratando do "falso sobrenaturalismo da
seita espírita". Amalia refutou seu argumento em 10
artigos magistrais. Em fevereiro de 1885, Padre Fita
retornou à acusação e Amalia respondeu-lhe
magistralmente nas páginas de "El Diluvio", em nove
artigos lúcidos e nobres. A causa defendida por Amalia
foi tão importante para o movimento espírita espanhol,
que ao longo dos anos de sua estada na Terra diversos
outros grupos de mulheres e homens buscaram nela
inspirações e força de vontade para lutar pelos mesmos
ideais. Exemplo disso foi a criação do Centro Espírita
Amalia Domingo Soler (CEADS), surgido com o objetivo de
compartilhar ensinamentos à luz da Doutrina Espirita,
tema tão desconhecido e temido na época. Mas sua
história se iniciou de fato nos tempos em que o
Espiritismo ainda era considerado um pesadelo para a
sociedade, que não compartilhava os mesmos ideais da
família Tendero.
Como Matías e Catalina conheceram o Espiritismo
Foi em 1921 que Catalina Mira Garcia e Matías Tendero
comprometeram suas vidas num laço de amor e respeito.
Naquela época, a cultura e as dificuldades dificultavam
a união entre diferentes classes sociais.
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Catalina
deixou uma família da burguesia catalã e Matias era
filho de operários da classe trabalhadora. Com isso,
foram para Sevilha, ele trabalhando com pinturas de
carro e Catalina produzindo alpargatas, e foi com essa
vida e essa postura humildes que recebiam amigos e
vizinhos em sua casa, todos compartilhando os mesmos
ideais. Foi quando nasceram seus dois filhos, Marcia e
Anna Maria. A situação política ainda era, por essa
ocasião, muito difícil no país, dificuldade que os fez
mudar-se para Barcelona. Alguns anos depois, após a
guerra civil espanhola, Marcia faleceu devido a
complicações de saúde. Dois anos depois, Anna Maria, a
segunda filha, também faleceu em virtude de uma
enfermidade. O desespero de Catalina em face da morte de
suas filhas levou alguns amigos a lhe falarem sobre uma
sensitiva de nome María Mellado, que tinha a mediunidade
de psicofonia e talvez pudesse trazer-lhe algum conforto
para sua perda.
Foi devido a esse contato que Matías e Catalina
conheceram os princípios do Espiritismo, inicialmente
ensinados por María Mellado, o que lhe ofereceu uma
explicação racional para o fenômeno da desencarnação das
duas crianças. O casal firmou-se então em definitivo em
Barcelona, onde nasceu, algum tempo depois, sua terceira
filha, Isabel Tendero. Quando a jovem tinha 16 anos, seu
pai abriu em sua garagem uma oficina de pintura
automotiva, sendo nesse local realizadas as primeiras
reuniões espíritas, ainda de forma clandestina, nas
quais Isabel educou sua mediunidade, sob o conselho de
María Mellado, baseando-se sempre nas obras de Allan
Kardec.
Como Paco entrou na vida de Isabel Tendero
O tempo passou e seus familiares e amigos foram
aumentando o interesse pelo estudo da Doutrina, passando
a realizar reuniões mediúnicas em que eram recebidos
espíritos em busca de consolo e também benfeitores, que
os animavam para perseverar no trabalho. Isabel estudou
contabilidade e comércio e trabalhou como costureira.
Entre os estudos, o trabalho e os encontros espíritas,
Isabel teve sonhos premonitórios. Um deles mostrou-lhe
um homem bonito. Alguns dias depois, em um baile de
bairro onde as meninas e os meninos se encontravam com
seus namorados, Isabel conheceu o rapaz dos seus sonhos.
Seu nome era Francisco Vázquez, Paco para amigos. Eles
se casaram em 7 de maio de 1960 e tiveram duas filhas,
Ana e Teresa.
Paco era um homem educado, um carpinteiro de profissão,
embora trabalhasse na oficina de ferro e pintura de seu
sogro. Ele era apaixonado pela leitura e tinha uma
extensa biblioteca onde se encontrava de tudo, exceto
temas espirituais, que nunca lhe interessavam. Mas,
apesar disso, Paco direcionou suas filhas para a
Doutrina dos Espíritos, porque era a melhor educação que
podia oferecer, a exemplo de sua esposa Isabel, que teve
o cuidado de instruir e educar Ana e Teresa nos
mistérios da vida e da morte sob a sabedoria da
filosofia espírita.
Quando Paco desencarnou, aos quarenta e oito anos,
Isabel decidiu falar abertamente sobre a Doutrina
Espírita. Junto com alguns parentes, começaram a
realizar periodicamente sessões, de que Ana e Teresa
participaram ainda adolescentes, com 13 e 12 anos,
respectivamente. Poucos anos depois, Isabel e suas
filhas sentiram a necessidade de procurar outros grupos
espiritualistas na cidade, onde pudessem compartilhar
experiências e estudos. Naquela época (início dos anos
1990), tiveram a oportunidade de conhecer Santiago Gené,
de Reus, que participou esporadicamente do grupo de
Sanchís. Oriundo de uma família espírita, a de Pruvi e
Manel, que estavam entre os primeiros espíritas que
permaneceram ativos durante a ditadura de Franco, lhes
oferecera a oportunidade de participar do II
Minicongresso Espírita Nacional, que se realizou em
Málaga em 1994. “Foi a primeira vez que vimos tantos
espiritualistas juntos”, disseram elas, quando cerca de
120 pessoas de toda a Espanha, unidas pelo mesmo ideal
de amor e fraternidade, ali se fizeram presentes. Também
foi quando se surpreenderam com as belas palavras de
Divaldo Franco, apoiando o movimento espírita.
Sementes do CEADS
A partir dessa injeção de coragem e fraternidade,
criaram-se laços que pertenciam à alma e que seriam para
sempre parte da história do CEADS – Centro Espírita
Amalia Domingo Soler.
Por conhecerem inúmeros grupos, foram impulsionadas
pelos conselhos de Fernando Lora, além de seguir as
sugestões do mestre Allan Kardec em relação à divulgação
da doutrina, criando-se então um novo grupo espírita, o
Grupo Espírita da Sagrada Família, em homenagem ao
bairro onde Isabel e suas filhas moravam, que foi a
verdadeira origem do atual CEADS. “Éramos um grupo
popular de poucas pessoas, cheias de esperança e
alegria, animadas por uma experiência espiritualista que
nos dera um verdadeiro sentido à vida e à morte, uma
visão ampliada do significado do ser.”
As primeiras aulas de estudo doutrinário e as primeiras
ações espirituais sociais em colaboração com a
Fraternidade Espírita Cristiana foram organizadas. Foram
anos de intenso aprendizado e dedicação. Os trabalhos
foram crescendo e diferentes tarefas foram surgindo,
dependendo das necessidades do dia, como na cozinha para
lavar pratos e ajudar a preparar a comida, outros para
acompanhar homens, mulheres e crianças de diferentes.
Como é e como atua o CEADS
O Centro Espírita Amalia Domingo Soler é uma organização
sem fins lucrativos que tem por finalidade levar ao
conhecimento do povo catalão um ensinamento mais
profundo acerca do ser humano como ser individual e
espiritual. Membro da Federação Espírita Espanhola (FEE)
desde dezembro de 1999, seu principal objetivo é
promover o estudo e divulgação da Doutrina Espírita,
incentivando a reforma íntima para a evolução do ser,
oferecendo esperança e conforto, em fim, a convivência
fraterna. O CEADS desenvolve todo o trabalho alicerçado
sobre os valores do amor, respeito, disciplina, serviço,
fé fundamental, humildade, integridade, alegria e
transparência. Sua missão é “ser um espaço para aprender
sobre o amor e os ensinamentos do Espiritismo a fim de
alcançar harmonia e equilíbrio” e sua visão, “crescer
como centro espírita para colaborar no progresso
integral do ser humano”.
Na área social, o CEADS possui algumas ações como: 1º -
Fornecer ajuda mensal na forma de alimentos não
perecíveis para famílias que se encontram em uma
situação financeira difícil. A comida é coletada através
de doações dos participantes da Instituição. Os
beneficiários do projeto recebem apoio material
(alimentação) e espiritual através do estudo do
Evangelho segundo o Espiritismo no centro ou outras
atividades desenvolvidas pela casa. 2º - A prevenção do
suicídio com uma campanha de prevenção, bem como de
solidariedade com os sobreviventes, além de promover
palestras, manifestações expressadas através da arte.
3º
- Amigo CEADS é um programa onde um voluntário em nome
do CEADS oferece apoio emocional àqueles que solicitam
colaboração, oriundos de diversos locais como hospitais,
presídios, residências, seja por e-mails, cartas ou um
simples telefonema. 4º - Os grupos de estudos
sistematizados e palestras públicas são sempre pautados
nas orientações contidas nas obras básicas de Allan
Kardec.
No website do CEADS -https://www.ceads.es/ -
os interessados poderão obter mais informações relativas
ao funcionamento da instituição.