A corte do orgulho
Meu orgulho mora na torre mais alta do castelo de minha
vida.
Particularmente, tenho muita dificuldade em administrar
e compreender o orgulho dos outros, pois o meu não
permite.
Meu orgulho, em mirante espetacular, só olha de cima
para baixo e vê coisas e seres pequenos,
insignificantes.
Meu orgulho possui um irmão gêmeo – chamado egoísmo –
que mora com ele em seu prazeroso castelo.
Meu orgulho está sempre acompanhado da donzela vaidade
que, caprichosa, sempre influi em suas atitudes.
Meu orgulho possui também outras companhias: a
arrogância é uma balzaquiana que não se dobra; a soberba
é quase sua irmã ou, ao menos, em muito se lhe parece.
Há ainda outras jovens ou, nem tanto, que compõem o seu
séquito, como a presunção que lhe toma conta da agenda,
o controlador na ‘pasta’ da hipocrisia e o
perfeccionista, ‘quase’ pudico.
Nas cercanias do castelo de meu orgulho – num ‘ladeirão’
– há um vilarejo onde moram personagens humildes e
fraternos: meu orgulho não se relaciona muito bem com
essa ‘estranha’ vizinhança.
Meu orgulho dita normas de bom proceder que, na verdade,
só não conseguem normatizar a sua vida.
Meu orgulho tem carro bom e quase que intocável: não é
desses utilitários que carregam pessoas necessitadas por
ruas esburacadas a qualquer hora da noite; ‘ambulância’,
nem pensar!
Meu orgulho, doutor em regras de trânsito, é, na maioria
das vezes, inflexível, não admitindo exceções, tão pouco
falhas ‘alheias’.
Meu orgulho, quando confronta guardadores, catadores/recicladores,
frentistas, lavadores… os considera todos subempregados
e servis acomodados. Moedas para eles só as pequeninas;
a que possui a ‘República na cara’, nem pensar! Uma
palavra boa é perda de tempo com esses ‘desocupados’.
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Perguntamo-nos, então, como encaixar
a humildade em a corte do orgulho?
Todos nós sabemos que o mais salutar e razoável será
depormos o monarca!...
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