Na Mediunidade
“Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o
que for útil.”
(1 Paulo, Cor. 12:7)
O apóstolo Paulo contempla-nos com várias Epístolas, e
entre elas as Epístolas aos Coríntios, que abordam
vários temas, como por exemplo o uso e abuso dos poderes
mediúnicos.
Com a revivência do Cristianismo puro nos agrupamentos
do Espiritismo com Jesus, verificamos idêntica
preocupação àquelas que torturavam os aprendizes dos
tempos apostólicos, no que se refere à mediunidade.
Revelando o cuidado e o extraordinário poder de síntese,
Kardec externa a definição de que médium é aquele que
pode servir de intermediário entre os Espíritos e os
encarnados. Vemos, assim, que o médium é um ser
encarnado, sujeito às imperfeições e mazelas e,
portanto, tão propenso a queda quanto qualquer um, ou
talvez mais, ainda porque a capacidade de sintonia com
os desencarnados os expõe a um grau mais elevado de
influenciação.
Poderemos entender, portanto, que a mediunidade não é um
privilégio, mas uma tarefa que deve ser desempenhada com
humildade e resignação e, acima de tudo, isenta de
glórias pessoais que possam estimular a vaidade. “São
almas que fracassaram desastradamente, que contrariaram
o curso da Lei Divina e que resgatam o passado obscuro e
delituoso. Tendo muitas vezes o pretérito enodoado de
graves deslizes, procurando reorganizar com sacrifícios
tudo aquilo que foi esfacelado nos instantes de
criminosas arbitrariedades e insânia”, assevera o
benfeitor espiritual Emmanuel, capítulo 11 do livro Emmanuel,
psicografado por Francisco C. Xavier.
No livro Evolução para o Terceiro Milênio, Parte
2, capítulo 4, o autor Carlos Toledo Rizzini lembra o
conceito, bastante oportuno, que Herculano Pires confere
ao que devemos entender por bom médium: “(...) é
aquele que mantém o equilíbrio psicofísico e procede na
vida de maneira a criar para si mesmo um ambiente
espiritual de moralidade, amor e respeito ao próximo”.
Em O Livro dos Médiuns, questão 226, item 1, o
Codificador esclarece que “a manifestação da
mediunidade não está relacionada à condição moral do
médium, mas guarda relação direta com o seu organismo”.
O mesmo, porém, não se dá com seu uso, que pode ser bom
ou mal, conforme as qualidades do médium. Assim sendo,
Kardec aclara: “A mediunidade é conferida sem
distinção a fim de que os Espíritos possam trazer luz a
todas as camadas, a todas as classes sociais, ao pobre
como ao rico, aos retos para os fortificar no bem, aos
viciosos para os corrigir”, conforme aparece em O
Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 24, item
12.
Compreendemos, desta maneira, que a ponte mental que se
estende aos bons Espíritos também é utilizada pelos
maus. É uma questão de vigilância! Por isso, aconselha
João: “Caríssimos, não acrediteis em todos os
Espíritos, mas provai se os Espíritos são de Deus,
porque são muitos os falsos profetas que se levantaram
no mundo” (João, 4:1).
É necessário prestar atenção à resposta dada pelos
Espíritos, na questão 123, de O Livro dosEspíritos,
à pergunta feita por Kardec: Por que há Deus
permitido que os Espíritos possam tomar o caminho
do mal? Eles respondem: “Como ousais pedir a Deus
contas de seus atos? Supondes poder penetrar-lhe os
desígnios? Podeis, todavia, dizer o seguinte: asabedoria
de Deus está na liberdade de escolha que Ele deixa a
cada um, porquanto, assim, cada um tem o mérito de suas
obras”. Fica claro, então, que a causa geral dos
desastres mediúnicos é a ausência da noção de
responsabilidade e da recordação do dever a cumprir. Não
olvidemos o calvário de nosso Senhor, convictos de que
toda saída dos planos mais baixos deve ser uma subida
para a esfera superior. Portanto, não esperemos subir
espiritualmente sem esforço e sem lágrimas.
Notamos, assim, a importância de sustentarmos o
equilíbrio, o entendimento e a bondade em nossas
manifestações, para que a autoridade moral e espiritual
nos favoreça o trabalho. Mas, sobretudo, saibamos que
são inimagináveis as possibilidades de socorro, como
encarnados confiantes no Alto e conscientes de nossos
recursos íntimos, quando ligados aos bons Espíritos,
exigindo-nos trabalho e sacrifício do coração. E com Ele
recolheremos o necessário estudo moral para definir
responsabilidades e objetivos. Quando finalmente nos
identificamos com o Seu ideal, é natural buscar como
alicerce, para nossa existência, o ensinamento
evangélico em sua divina pureza, certos de que a
eficácia de nossa ação dependerá da caridade que
executarmos. Desta forma, compreenderemos em toda
amplitude a verdade contida na afirmação do Mestre: “Dai
de graça o que de graça recebestes”.(Mateus,
10:8)
Em seus estudos, observações e pesquisas, Kardec recebeu
a colaboração dos mais diferentes tipos de médiuns, o
que lhe facultou dirigir aos Espíritos Superiores, na
questão 226, item 9, a seguinte pergunta: Qual o
médium que se poderia qualificar de perfeito?“Perfeito,
ah! Bem sabes que a perfeição não existe na Terra, sem o
que não estaríeis nela. Dize, portanto, bom médium, e já
é muito, por isso que eles são raros. Médium perfeito
seria aquele contra o qual muitos Espíritos jamais
ousassem uma tentativa de enganá-lo. O melhor é aquele
que simpatizando somente com os bons Espíritos tem sido
menos enganado.”
Observemos, então, que os médiuns, por serem mais
sensíveis, com muito mais razão devem se precaver:
vigiar pensamentos e atitudes, estudar as sutilezas da
mediunidade, renunciar a locais, situações e
circunstâncias moralmente desfavoráveis, afastar-se dos
vícios que são portas abertas às influências e,
sobretudo, pôr em prática as lições do Evangelho, para
se prevenir contra os ataques do mal. Por isso, a
primeira necessidade do médium é evangelizar-se, antes
de entregar-se às grandes tarefas doutrinárias, pois, de
outro modo, poderá esbarrar sempre com o fantasma do
personalismo, em detrimento da missão.
O Espírito André Luiz, no livro Os mensageiros,
psicografado pelo médium Francisco C. Xavier, no
capítulo 41, relata experiências vividas por entidades
espirituais que, após serem recolhidas na colônia
espiritual Nosso Lar, assumiram compromissos para
retornarem ao corpo físico como médiuns, cada qual com
sua missão específica, mas acabaram falhando, cedendo às
tendências pessoais e caindo nas armadilhas dos vícios.
Vejamos o que André Luiz elucida:“Desde as primeiras
tarefas do Espiritismo renovador, Nosso Lar tem enviado
diversas turmas ao trabalho de disseminação de valores
educativos. Centenas de companheiros partem daqui
anualmente aliando necessidades de resgate ao serviço
redentor; mas ainda não conseguimos os resultados
desejáveis. Alguns alcançaram resultados parciais nas
tarefas a desenvolver, mas a maioria tem fracassado
ruidosamente.... Raríssimos conquistam algum êxito nos
delicados misteres da mediunidade e da doutrinação”.
Por isso, Allan Kardec asseverou com imensa coragem, em O
Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 26,
item 10: “A mediunidade é coisa santa, que deve ser
praticada santamente, religiosamente. Sem estudo sério
de O Livro dos Médiuns, quaisquer empreendimentos na
área da fenomenologia mediúnica não passam de uma
aventura irresponsável que exige revisão de conteúdo
filosófico e moral, a fim de que a decepção e os
conflitos não se apresentem a posteriori com gravidade
naqueles que desse modo se comportem”.
Sabemos que a missão mediúnica tem seus percalços e
lutas dolorosas, no entanto, é uma das mais belas
oportunidades de progresso e de redenção concedidas por
Deus aos Seus filhos. Sendo luz que brilha na carne, a
mediunidade é atributo do espírito, patrimônio da alma
imortal, elemento renovador da posição moral da criatura
terrena, enriquecendo todos os seus valores no capítulo
da virtude e da inteligência, sempre que se encontre
ligada aos princípios evangélicos na sua trajetória,
pela face do mundo.
Se a mediunidade evidente é tarefa que nos assinala o
roteiro, não nos afastemos dos compromissos que a
existência nos impõe, sobretudo, lembrando-nos sempre de
que o talento mediúnico encerrado em nossas mãos deve
ser a tela digna em que os mensageiros da
Espiritualidade maior possam criar as obras-primas da
caridade e da educação, pois a esfera carnal é a grande
oficina de trabalho redentor.
Preparemo-nos para a cooperação eficiente e
indispensável. Esqueçamos os equívocos do passado,
lembrando de nossas obrigações fundamentais, trabalhando
cada um com o material que lhe foi confiado, convictos
de que o supremo Senhor não atende ao problema de
manifestações espirituais conforme o capricho humano,
mas, sim, de acordo com a utilidade geral.
Assim, o mestre lionês resume, concordando com o
apóstolo Paulo, sobre a necessidade de cada vez mais
aprendermos para melhor servirmos, distanciados do
orgulho, da presunção ou de qualquer sentimento inferior
que nos afaste do objetivo pleno de sermos úteis em
qualquer tarefa a realizar.
Bibliografia:
XAVIER, C. Francisco – O Consolador – ditado pelo
Espírito Emmanuel – 29ª edição – Brasília/ DF/ Editora
FEB – 2013 – perguntas 382 e 387.
Idem – Seara dos Médiuns – ditado pelo Espírito
Emmanuel – 20ª edição – Brasília/ DF/ Editora FEB – 2015
– lição 12.
Ibidem – Religião dos Espíritos – ditado pelo
Espírito Emmanuel – 22ª edição – Brasília/DF/ Editora
FEB – 2013 – capítulos 11 e 16. |