Malabaristas do imediatismo
A consequência a que todo suicida não pode escapar é o
desapontamento
"Nada deve justificar o autocídio, porquanto a
sucessão das
ocorrências muda a cada instante o quadro em que se
vive." -
Manoel Philomeno de Miranda
Teóricos das filosofias pessimistas, sofrendo
apoucamento mental propiciado pelo materialismo, têm
indicado o suicídio como “solução” para os
dissabores e sofrimentos defrontados pelo homem...
Existe até literatura especializada explicando -
pormenorizadamente - vários métodos incruentos e
indolores de autocídio, induzindo as criaturas
desnorteadas para o mergulho da consciência no grande
sono. Tal comportamento, pelo insólito de que se
reveste, demonstra a utopia em que foi transformada a
vida e a ausência da finalidade a que foi reduzida.
Tecendo comentários sobre
este tema, Allan Kardec,
com sua habitual eloquência e tirocínio, afirma: "a
religião, a moral, todas as filosofias condenam o
suicídio como contrário às Leis da Natureza. Todas nos
dizem, em princípio, que ninguém tem o direito de
abreviar voluntariamente a vida. Entretanto, por que não
se tem esse direito? Por que não é livre o homem de
pôr termo aos seus sofrimentos?!
Ao Espiritismo estava reservado demonstrar, pelo exemplo
dos que sucumbiram por essa porta enganosa, que o
suicídio não é uma falta somente por constituir infração
de uma lei moral, consideração de pouco peso para certos
indivíduos, mas, também, um ato estúpido, pois que nada
ganha quem o pratica, antes, o contrário é o que se dá,
como no-lo ensinam, não a teoria, porém os fatos que
ele nos põe sob as vistas”.
"Donde nasce o desgosto da vida, que, sem motivos
plausíveis, se apodera de certos indivíduos?"
- "Efeito da ociosidade, da falta de fé, e, também, da
saciedade. Para aquele que usa de suas faculdades com
fim útil e de acordo com as suas aptidões naturais, o
trabalho nada tem de árido e a vida escoa mais
rapidamente. Ele lhe suporta as vicissitudes com tanto
mais paciência e resignação, quanto obra com o fito da
felicidade mais sólida e mais durável que o espera”.
"Quais, em geral, com relação ao estado de Espírito, as
consequências do suicídio?" 2
"Muito diversas são as consequências do suicídio. Não há
penas determinadas e, em todos os casos, correspondem
sempre às causas que o produziram. Há, porém, uma
consequência a que o suicida não pode escapar: é o desapontamento. Mas,
a sorte não é a mesma para todos; depende das
circunstâncias. Alguns expiam a falta imediatamente,
outros em nova existência, que será pior do que aquela
cujo curso interromperam”.
"O suicídio1 é
remanescente do primitivismo humano, que permanece
arrebanhando as vítimas indefesas, que lhe tombam nas
intricadas urdiduras. Decorrência da revolta espiritual
do ser ante as circunstâncias, os acontecimentos e
estados da Alma que lhe parecem adversos, é a solução
enganosa a que se deixam conduzir todos aqueles que
preservam os seus conflitos e os fixam na área mental da
insatisfação e do desespero sistemático.
A ignorância propositada ou a reação consciente aos
Estatutos Divinos, que pessoa alguma, na chamada
civilização hodierna pode ignorar, produzem a
indiferença pelos valores sublimes da vida, liberando o
homem da responsabilidade e do dever de lutar,
obstando-lhe a perseverança nos objetivos relevantes a
que se deve entregar.
Os instintos agressivos, não disciplinados,
explodem-lhe em indômita rebelião, em face do menor
desgosto real ou imaginário, diante de qualquer
insucesso natural em todos os empreendimentos, fazendo
que seja estabelecida uma neurose depressiva de culpa ou
de transferência, acusando-se e punindo-se, ou
responsabilizando os outros, a sociedade, assim se
arrojando no poço sem fundo da autodestruição, que
apenas atinge o corpo.
Os comportamentos materialistas em modernas escolas da
psicologia pretendem relacionar o suicídio com baixas
cargas de serotonina no cérebro, facilitando a
compreensão do episódio autocida graças a um
neurotransmissor da natureza química. Ignoram, porém,
esses especialistas, que embora os distúrbios
serotônicos respondam pelo ato alucinado, eles, por sua
vez, são o efeito e não causa, pois são provocados por
agentes psicológicos mais sutis e graves, como a
angústia, a insegurança, os conturbadores fenômenos
psicossociais e econômicos, as enfermidades
crucificadoras, o sentimento de desamparo e de perda,
todos com sede na Alma imatura e ingrata, fraca de
recursos morais para sobrepô-los às contingências
transitórias desses propelentes ao ato extremo.
"(...) Uma análise mais íntima do fenômeno
autodestruidor leva também a sutis ou violentas
obsessões que o amor enlouquecido e o ódio devastador
fomentam, além da cortina carnal. (...) O suicídio, mais
grosseiro vestígio da fragilidade humana, que ata o
homem ao primarismo de que deve libertar-se, será banido
da face da Terra quando o imediatismo ceder lugar às
perspectivas do futuro espiritual lecionado por Jesus.
O homem é, na verdade, a mais alta realização do
Pensamento Divino na Terra, caminhando para a glória
total, mediante as lutas e sacrifícios do dia a dia”.
Esclarece Joanna de Angelis que: "semelhante à loucura -
loucura que é o suicídio - pode-se, entre outros
conhecidos fatores, encontrar a sua causa nas
perturbações de ordem espiritual, por vinganças do
além-túmulo, daqueles que saíram do corpo através da
morte, sem que hajam fugido da vida.
Loucura e suicídio, portanto,
são termos da mesma equação humana, desafiando os
estudiosos e esperando a coragem para vencê-los, por
parte daqueles que tombam nas intrincadas malhas da sua
rede infeliz. É de todos nós o trabalho de erradicar da
Terra esses dois terríveis inimigos do homem.
Vigia as nascentes do teu coração e da tua mente,
evitando a queda nas sutilezas cruéis de tais
tormentosos inimigos do homem. Diante das dificuldades,
reflexiona a fim de agires com acerto. Sob injunções
perigosas, medita antes da precipitada reação que
consome a esperança da paz. Ao encontro do infortúnio,
considera a bênção do tempo como grande solucionador de
todas as vicissitudes; submetido a testemunhos
violentos, que te façam temer, levando-te quase à queda
ou ao desencanto, renova-te com a certeza de melhores
dias que virão, sem dúvida.
Seja qual for a estrada que percorras, defrontarás o
sofrimento como ocorrência inevitável da existência
humana. Nesse sentido, ninguém que se apresente em
critério de exceção. Cada criatura conduz, com maior ou
menor dignidade, a sua carga de dores. É certo que
pessoas há que experimentam mais angustiantes aflições,
todavia, essas estão em processo de reparação inevitável
das conjunturas antigas procedentes de existências
anteriores.
Nos passos de Jesus em cada circunstância e diante de
todas as pessoas, o otimismo e a confiança irrestrita em
Deus constituíram a tônica dos Seus ensinos, ratificados
na Sua vivência cotidiana. Assim, assume o amor
fraternal e a tranquilidade no Pai Criador renovando-te
e servindo o teu próximo como sendo uma profilaxia
liberativa para a loucura e o suicídio, ou na condição
de terapia curadora, caso as síndromes desses flagelos
já estejam a manifestar-se no teu dia a dia, levando-te
à rampa do desequilíbrio”.
-
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 88.
ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, q. 957.
|