Cantiga
da esperança
Nunca perder um instante sequer das oportunidades que a
existência nos oferece é uma bênção que deve ser
exercitada a todo instante.
Um sorriso e um semblante sereno e jovial pode ser
estampado no rosto de qualquer um, desde que o coração
esteja leve e aberto para a paz.
Os benfeitores insistem: “Sem
amor no coração, não teremos olhos para a luz”; “As
lágrimas são também uma chuva benéfica que refrigera o
coração”. Ainda sobre os valores do sentimento, eles
lembram: “Os
anjos choram de júbilo nas regiões celestes, quando um
coração sofredor se levanta do abismo...”.
Através da psicografia, Chico Xavier recebeu da poetisa
Maria Dolores este belo poema que fala dos dissabores e
alegrias da vida. 'Cantiga da esperança':
Alma querida,// Por mais que o mundo te atormente// A fé
simples e boa,// Por mais te lance gelo na alma
crente,// Na sombra que atraiçoa,
Alma sincera,// Escuta!...// Sofre, tolera, aprende,
aperfeiçoa,// porque de esfera a esfera,// Ninguém
consegue a palma da vitória,// Sem apoio na luta.
Espera, que a esperança é a luz do mundo// – Oculta
maravilha –// Que, em toda a parte, se revela e brilha//
Para a glória do amor.
A noite espera o dia, a flor o fruto,// O espinho a
rosa, o mármore o buril,// O próprio solo bruto// Espera
o lavrador// Armado de atenção, arado e zelo...
O verme espera o sol para aquecê-lo.// A fonte amiga que
se desentranha// Do coração de pedra da montanha,//
Enquanto serve, passa e se incorpora// Aos encargos do
rio que a devora,// E espera descansar,// Quando chegue
escondida// A paz da grande vida// Que há no seio do
mar.
Seja o que for// Que venhas a sofrer,// Abraça o lema
regenerador// Do perdão por dever.
Leva pacientemente o fardo que te leva,// Entre o rugir
do vento e o praguejar da treva...
Abençoa em caminho// Os açoites da angústia em torvo
redemoinho// Onde não passas, coração// E segue sem
parar,// Amando, restaurando, redimindo...// Edificando,
em suma,// Não te revoltes contra coisa alguma!...
Ao vir a tarde mansa,// Na doce quietação crepuscular,//
Quando a graça do corpo tomba e finda,// Verás como foi
alta, nobre e linda// A ventura de esperar.
E, enquanto a noite avança// Para dar-te as visões de
uma alvorada nova,// Nas asas da esperança,// Bendirás a
amargura, a dor e a prova,// Agradecendo à Terra a
bênção de entendê-las.
Subirás, subirás// Para o ninho da luz nas estâncias da
paz,// Que te aguarda, tecido em radiações de estrelas!...
Então, compreenderás// Que, além do mais Além –// No
Coração da Altura –// Deus trabalha, Deus sonha, Deus
procura,// Deus espera também!... |