A infância não é virtual
A moral não é produto do meio social, mas da consciência.
Herculano Pires
Nos encontros nas escolas sou taxativa: celulares não
cabem na infância. Nenhuma meninazinha de seis anos ou
nenhum menino de nove anos necessita de smartphonepara
crescer ou interagir com seus pares. Na realidade,
celulares (e tablets) prejudicam o
desenvolvimento da criança, à medida que privam os
pequenos de criar, imaginar, movimentar-se e
relacionar-se.
Quando os pais questionam a urgência da tecnologia,
pondero a importância da paciência, porque o filho
precisa crescer e adquirir discernimento para usar com
menos risco um smartphone, por exemplo. E explico
sem medo aos pais: na infância, o sol interessa mais que
o joguinho do celular. Porque a paisagem real está na
pracinha, no quintal, e toda criança precisa de espaço e
movimento para se desenvolver com qualidade, com saúde –
e de qualquer ponto de vista: físico, motor, criativo,
socioafetivo…
Quem nunca deu o celular para a filha pequena para que
ela pudesse se distrair e ficar em silêncio por alguns
minutos? Mas esse tipo de escolha é um equívoco, pois o
tempo despendido com o celular poderia ser usado para a
criança ser criança: explorar, interagir diretamente
com o seu entorno para aprender brincando – e até mesmo
aprender a não fazer nada para, em razão do tédio, dar
asas à imaginação.
A vida precisa ser vivida sem pressa. E se queremos
crianças saudáveis, enquanto pais e educadores, devemos
postergar a tecnologia para idades mais avançadas,
garantindo à criança desfrutar de tempo e espaço para
crescer brincando tal qual nós mesmos fizemos em nossa
infância.
Notinhas
Já sabemos hoje que o contato abusivo com os AETs
(Aparelhos eletrônicos de tela) – celulares, tablets,
videogames, notebooks e televisão – na infância
aumenta as chances de crianças e adolescentes
desenvolverem problemas crônicos na idade adulta, como
miopia, depressão, obesidade.
Qual é a idade correta para iniciar o uso do celular? Um
adolescente de 13 anos poderá ter um celular. No
entanto, nada justifica uma criança ter um celular.
Por respeito à infância, os pais podem, por exemplo,
incentivar a criança a brincar de pular corda, jogos e
amarelinha, futebol, andar de bicicleta, subir em
árvore, mas resistir a lhe entregar eletrônicos para que
se divirta sozinha. Mas isso é uma questão de
conscientização...
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