Companheiros difíceis
Companheiros difíceis não são as criaturas que ainda não
nos atingiram a intimidade e sim aquelas outras que se
fizeram amar por nós e que, de um momento para outro,
modificaram pensamento e conduta, impondo-nos estranheza
e inquietação.
Erigiam-se-nos por esteios à fé, soçobrando em pesada
corrente de tentações…
Brilhavam por balizas de luz, à frente da marcha, e
apagaram-se na noite das conveniências humanas,
impelindo-nos à sombra e à desorientação…
Examinado, porém, o assunto com discernimento e
serenidade, seria justo albergarmos pessimismo ou
desencanto, simplesmente porque esse ou aquele
companheiro haja evidenciado fraquezas humanas,
peculiares também a nós?
Atentos às realidades do campo evolutivo, em que nos
achamos carregando fardos de culpas e débitos,
deficiências e necessidades que se nos encravaram nos
ombros, em existências passadas, como exigir dos entes
amados, que respiram conosco o mesmo nível, a posição
dos heróis ou o comportamento dos anjos?
Com isso, não queremos dizer que omissão ou deserção nas
criaturas a quem empenhamos confiança e ternura sejam
condições naturais para a ação espiritual que nos
compete desenvolver, e sim que, em lhes lastimando as
resoluções menos felizes, é imperioso orar por elas na
pauta da tolerância fraternal com que devemos abraçar
todos aqueles que se nos associam às tarefas da jornada
terrestre.
Se Jesus nos recomendou amar os inimigos, que diretriz
adotar ante os companheiros que se fizeram difíceis,
senão abençoá-los em mais alto grau de entendimento,
carecedores como se encontram de mais ampla dedicação?
Sem dúvida, eles não podem, em muitas ocasiões,
compartilhar conosco, de imediato, as atividades
cotidianas, à vista dos compromissos diferentes a que se
entregam; entretanto, ser-nos-á possível, no clima do
espírito, agradecer-lhes o bem que nos fizeram e o bem
que nos possam fazer, endereçando-lhes a mensagem
silenciosa de nosso respeito e afeto, encorajamento e
gratidão.
Cumprindo semelhante dever, disporemos de suficiente paz
interior para seguir adiante, na desincumbência dos
encargos que a vida nos confiou. Compreenderemos que, se
o próprio Senhor nos aceita como somos, suportando-nos
as imperfeições e aproveitando-nos em serviço, segundo a
nossa capacidade de sermos úteis, é nossa obrigação
aceitar os companheiros difíceis como são, esperando por
eles, em matéria de elevação ou reajuste, tanto quanto o
Senhor tem esperado por nós.
Do livro Alma e coração, obra psicografada pelo
médium Francisco Cândido Xavier.
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