Tecnologia e infância não combinam
Sufoca-se o espírito da criança com conhecimentos
inúteis.
Voltaire
Não tem graça facilitar o acesso à tecnologia para uma
criança que não tem nenhum tipo de maturidade ou
discernimento.
Nunca, jamais, devemos permitir o contato de uma criança
com qualquer tipo de tecnologia antes dos dois anos de
idade. Já se sabe, por exemplo, que quanto mais cedo uma
criança utilizar a tecnologia, piores serão suas funções
cognitivas como a memória e o desenvolvimento da
atenção.
A Academia Americana de Pediatria e a Sociedade
Canadense de Pediatria avisam que bebês na idade de 0 a
2 anos não devem ter qualquer exposição à tecnologia;
crianças de 3-5 anos devem ter acesso restrito a uma
hora por dia; e crianças de 6-18 anos devem ter acesso
restrito a duas horas por dia.
É exagero? Ora. Entre 0 e 2 anos, o cérebro da criança
triplica de tamanho e continua em estado de rápido
desenvolvimento até os 21 anos de idade. O
desenvolvimento inicial do cérebro é determinado por
estímulos ambientais ou pela falta dele. O estímulo
causado por exposição excessiva a tecnologias
(celulares, internet, iPads, TV) afeta negativamente o
funcionamento cerebral, gerando atrasos cognitivos,
aprendizagem deficiente, aumento da impulsividade e
diminuição da capacidade de autorregulação (birras, por
exemplo).
Ademais, o uso precoce de tecnologia está implicado como
a principal causa das taxas crescentes de depressão
infantil, ansiedade, transtorno de apego, déficit de
atenção, transtorno bipolar, psicose e comportamento
infantil problemático.
O ideal, sobretudo no primeiro setênio, é que os pais
priorizem atividades e brincadeiras longe dos
eletrônicos. As crianças pequenas simplesmente possuem
um instinto de curiosidade notável e surpreendente
diante das coisas, dos detalhes e do mundo. Os pais,
então, apenas precisam acompanhar com carinho e respeito
a criança, proporcionando-lhe um ambiente favorável para
o descobrimento – e que nada tem a ver com celulares,
internet, tablets, TV...
Notinhas
O cérebro aprende com base na realidade e não com o
bombardeio de estímulos tecnológicos. Além disso, quando
uma criança está diante de um dispositivo tecnológico,
ela não mantém uma atenção sustentada, mas sim uma
atenção artificial (atitude passiva).
Sucesso na Espanha, autora do livro endereçado aos pais
e professores “Educar na Curiosidade: a criança como
protagonista da sua educação”(Edições Fons
Sapientiae), a canadense Catherine L'Ecuyer defende a
volta ao simples e menos estímulos eletrônicos para as
crianças. Ela alerta: “a realidade cotidiana deve ser
encarada como um lugar privilegiado para a aprendizagem.
É tocar a terra úmida, morder uma fruta, observar gotas
de água caindo. É preciso resgatar atividades e
brincadeiras que requerem paciência – em contraposição
ao ritmo frenético dos desenhos animados e jogos
eletrônicos”.
|