Chico aproveitava cada minuto livre para escrever. E, no
início, quando a eletricidade nem tinha chegado a Pedro
Leopoldo, era surpreendido por acidentes estranhos.
Enquanto prestava atenção aos ditados do além ou sentia
as mãos guiadas à revelia, ventos súbitos lançavam velas
acesas sobre as mensagens e derrubavam o tinteiro sobre
o papel. O rapaz encarava os obstáculos como provação e
seguia adiante.
A notícia de suas estripulias literoespirituais começou a
correr. Por essa época, Chico estava no enterro de um amigo
quando um jovem padre se aproximou e perguntou se era verdade
que ele recebia mensagens do outro mundo. Chico confirmou. O
padre aconselhou cautela:
- Os espíritos das trevas têm muita astúcia para seduzir para o
mal.
- Mas os espíritos que se comunicam através de mim só ensinam o
bem.
Diante da resposta, o padre lançou o desafio. Puxou um papel em
branco do bolso e perguntou se ali, naquele momento, no
cemitério, haveria um espírito disposto a se manifestar. Chico,
sem hesitar, pegou o papel, se concentrou e, minutos depois,
escreveu um soneto intitulado "Adeus". A primeira das quatro
estrofes:
"O sino plange em terna suavidade
no ambiente balsâmico da igreja
entre as naves, no altar, em tudo adeja
o perfume dos goivos da saudade".
Assinado: Auta de Souza.
Do livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior.
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