Um minuto
com Chico Xavier

por Regina Stella Spagnuolo

  

Sobre como, em sua vida de médium, tudo começou, Chico Xavier deu a Elias Barbosa o seguinte depoimento:

- Desde muito cedo, na atual reencarnação, achei-me diante dos amigos desencarnados. Muitas vezes em aula, quando criança, ouvia vozes dos Espíritos ou sentia mãos sobre as minhas, mãos que eu sentia vivas, guiando meus movimentos de escrita, sem que os outros as vissem. Isso me criava muitos constrangimentos.

Lembrarei um episódio curioso.

Em 1922 eu contava doze anos de idade e frequentava o quarto ano do Grupo Escolar São José, em Pedro Leopoldo. Era o ano de muitas comemorações do primeiro centenário da independência do nosso País. O Governo do Estado de Minas Gerais instituiu prêmios para os alunos de todas as classes de quarto ano das escolas primárias que apresentassem as melhores páginas sobre a História do Brasil.

Era um concurso a que todos nós, as crianças de quarto ano em Minas, devíamos comparecer. Nossa professora, D. Rosária Laranjeira, abnegada educadora mineira, profundamente respeitada nos círculos do magistério em nosso Estado, desencarnada há alguns anos em Belo Horizonte e que lecionava, nesse tempo, em Pedro Leopoldo, marcou data para a referida prova.

Abertos os trabalhos no dia indicado, quando começamos os preparativos para a escrita, vi um homem, ao meu lado, ditando como eu deveria escrever. Assustei-me porque perguntei ao meu companheiro de banco, Alencar de Assis, se ele estava vendo essa pessoa. Ele me disse não ver ninguém e acrescentou que eu estava com medo da prova e que era preciso sossegar-me. O homem, contudo, me disse o primeiro trecho que eu deveria escrever. Tendo ouvido claramente, pedi licença para levantar-me e fui ao estrado sobre o qual a professora estava sentada.

Então, disse a ela, em voz baixa: “Dona Rosária, perto de mim, na carteira, eu vejo um homem ditando o que devo escrever”.

Apesar de ser ainda muito jovem, naquele tempo, era ela uma criatura de imensa bondade e de profunda compreensão que sempre me ouvia com grande paciência. Depois de escutar-me, perguntou igualmente, em voz baixa: “O que é que esse homem está mandando você escrever?” Eu repeti o que ouvira do Espírito, explicando: “Ele me disse que eu devo começar a prova, contando assim: - O Brasil, descoberto por Pedro Alvares Cabral, pode ser comparado ao mais precioso diamante do mundo que logo passou a ser engastado na Coroa Portuguesa...

Ela mostrou admiração no semblante, mas me falou em voz mais baixa ainda: “Volte, meu filho, para a sua carteira e escreva a sua prova. A sala está repleta de pessoas que nos observam e agora não é o momento de você ver pessoas que ninguém vê. Não acredite que esteja escutando estranhos. Você está ouvindo é você mesmo. Dê atenção ao seu pensamento. Cuide de sua obrigação e não fale mais nisso”.

Voltei e escrevi o que o Espírito ditava, porque ou eu escrevia ou desobedecia a ela, a quem respeitava e amava muito.

 

Do livro No mundo de Chico Xavier, de Elias Barbosa.



 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita