Tema: Laços de Família
O amor maior
Paulo estava descontente. Seus pais eram muito
exigentes, queriam tudo certinho, tinha hora para sair,
hora pra chegar, hora pra trabalhar, hora para ir à
escola. Além disso, tinha que ensinar as lições para os
irmãos mais novos e entregar as roupas que a mãe lavava,
e dinheiro que é bom nunca sobrava naquela casa.
Até que um dia não aguentou mais aquela situação.
Conversou com o pai e disse que iria cuidar da sua vida.
Ele já era bastante crescido, estava com 13 anos. Sabia
muito bem viver sozinho. Seu pai procurou mostrar-lhe as
dificuldades que encontraria, mas ele não desistiu da
ideia. Pegou algumas roupas, alguns trocados que o pai
conseguiu juntar e lá se foi feliz da vida.
Era cedo, um lindo dia de sol. Andou, andou, andou e
quando a fome chegou, ele parou em uma lanchonete e
comeu um belo lanche.
- Isto sim que é bom, vou pra onde eu quiser! - pensou
ele. E continuou andando.
Ao anoitecer, estava em uma praça muito bonita. Contou
seu dinheiro, comprou um pãozinho, encostou-se em um
banco e adormeceu. Acordou cedo, um pouco gelado, tinha
dormido sem nenhuma coberta, mas pensou:
- Tudo vai dar certo.
Tinha andado tanto que mal conhecia o lugar que estava.
Entrou em uma venda e pediu ao dono que lhe desse um
café. Contou que o seu dinheiro tinha acabado e que não
tinha como arranjar mais.
- Saia daqui, menino vadio, se quer comer vá trabalhar -
gritou o homem.
Paulo nunca tinha sido tratado daquele jeito. Pensava
que seria mais fácil conseguir comida. Vendo que os
olhos de Paulo se encheram de lágrimas, o Sr. Manoel
ficou com pena e disse:
- Venha cá, menino, vou lhe dar de comer, mas antes tem
que me lavar o armazém.
Já era quase hora do almoço quando terminou. Exausto,
quase morrendo de fome, nunca tinha visto um armazém tão
grande... e um homem tão bravo. Estava com muito medo.
Mas ganhou um bom almoço.
Saiu novamente caminhando por lugares de muito
movimento. As pessoas, todas apressadas, nem notavam sua
presença. Quando anoiteceu estava perto de uma ponte e
pensou:
- Lá é um bom lugar para dormir e amanhã arranjarei um
emprego.
Correu para baixo da ponte, mas o lugar já estava
ocupado. Uma família inteira estava morando lá. As ruas
foram ficando desertas, o movimento diminuindo e Paulo
caminhando sem saber para onde ir; sentou-se na calçada
e ficou pensando, até que alguém colocou a mão em sua
cabeça e o chamou de filho.
Era um guarda noturno, que tinha mesmo cara de pai. O
coração de Paulo começou a bater mais forte. Que iria
acontecer?
- Menino, como você se chama? - perguntou o guarda.
- Paulo - o menino respondeu.
- Que está fazendo na rua a esta hora? Por que não vai
pra casa?
- Eu não tenha casa ainda.
- Como não? De onde você veio?
- Da casa que era minha, eu resolvi sair de lá para
viver sozinho.
- Mas isso não está certo. É perto de seus pais que você
vai viver melhor. Logo você será um homem feito e poderá
ajudar mais a sua família.
- Eu tenho que cuidar é de mim, cada um deve pensar em
si.
O guarda olhou para Paulo com muita tristeza e lhe
disse:
- A vida vai lhe ensinar muita coisa, rapaz. - e saiu
andando.
Paulo passou a noite toda ali com muito frio. Quando
começou a amanhecer, uma chuva fina molhava toda a rua.
Ele levantou-se e seguiu seu caminho.
Até que, finalmente, avistou uma placa que dizia
“Precisa-se de rapaz menor de idade, para trabalho
fácil”. Era para ele. Tinha resolvido o seu problema.
Trabalharia, ganharia o seu dinheiro e não iria precisar
de ninguém. Entrou. Era uma fábrica de alimentos e o
dono explicou:
- Temos lugar pra você dormir, trabalhar e comer.
Estavam resolvidos todos os problemas. Seu trabalho
seria simples.
Teria que cuidar de uma criação de porcos que o dono da
fábrica possuía. Para dormir havia um cantinho no
chiqueiro, a comida era retirada daquela que seria
servida aos porcos. Não tinha outra saída e aceitou. A
chuva continuou, o frio aumentou. À noite, Paulo começou
a se lembrar de seus irmãos. Em seu barraco tinha uma
goteira, os irmãos e os pais também deveriam estar com
frio àquela hora. Em seus pensamentos surgiu, então, uma
figura simpática. Ouviu novamente uma voz:
- Perto de seus é que você vai viver melhor, procurando
colaborar com eles a vida será mais fácil para todos.
Teve uma ideia. Àquela hora, o guarda deveria estar
trabalhando. Saiu correndo para procurá-lo; ouviu um
apito muito longe e seguiu em sua direção, cada vez
estava ouvindo mais alto o apito, até que avistou a
figura do guarda. Chegou até ele e mal podia respirar.
- Sr. Guarda, o senhor pode me ajudar?
- Em quê?
- Pensei muito no que o senhor me falou. Sei que meus
pais são muito pobres, mas eles me amam e eu também
gosto muito deles e de meus irmãos, e sei que meu lugar
é junto deles. Só que não posso voltar.
- Por quê?
- Não tenho dinheiro!
- Ora rapaz, isso não é problema. Eu lhe arranjo uns
trocados.
Paulo voltou e junto com ele a alegria em seu barraco.
Foi uma festa. Seus irmãos correram para arranjar-lhe
roupas limpas, seus pais choraram de emoção, era como se
ele tivesse nascido de novo.
Texto de Cândida Chirello.