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O Sermão da Montanha ensina o que é necessário
para mudarmos o mundo
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A frase acima é de autoria da doutora Maria Paula Silva (foto),
médica, com atuação numa Unidade
de Cuidados Paliativos Oncológicos, muito conhecida por
sua atuação no meio espírita, especialmente em Portugal.
Nas lides espíritas, além de conferencista, participa
nas atividades da Associação Espírita Fernando Lacerda,
na região do Porto, bem como na Associação Médico
Espírita do Norte, Portugal.
Na presente entrevista, ela nos fala, entre outros
assuntos, sobre suicídio, aborto, divulgação espírita e
sua iniciação no Espiritismo.
Como é que o Espiritismo entrou na sua vida?
O Espiritismo entrou na minha vida há quase 21 anos. Sei
com precisão a data porque cheguei pela dor, dor de mãe
que conseguiu vencer barreiras e mover montanhas.
Olhando para trás vejo claramente que muitos já tinham
sido os chamados, mas só essa dor quebrou o meu orgulho
pseudocientífico permitindo-me encontrar “O Caminho”.
O Espiritismo mudou a sua vida?
Muito. Até conhecer o Espiritismo guiava-me pelo
paradigma materialista e exigia provas a quem dissesse
que acreditava na vida para além da morte,
contra-argumentando pela sua não comprovação científica.
Quando aceitei, por insistência de meu pai, ir a um
centro espírita em busca de ajuda para a minha filha,
fui porque faria tudo por ela e não tive coragem de
fechar essa porta. Mas, depois de ter sido atendida por
um senhor já de idade avançada e muito humilde, senti-me
envolvida por uma emoção nunca antes experimentada e foi
como se, de repente, tudo ficasse iluminado por uma luz
intensa que me permitiu ver o que sempre estivera
presente na minha vida, mas encoberto pela noite escura
do orgulho. A partir desse dia não mais parei de ler e
estudar as obras espíritas e de frequentar e colaborar
em diferentes atividades.
Antes desse atendimento que marcou o início da mudança
da minha vida, era dominada pela ansiedade que tocava o
pânico e pelo medo da morte, o que tinha um importante
reflexo negativo na minha vida quer pessoal quer
profissional. Com o conhecimento progressivo da Doutrina
Espírita fui serenando interiormente e vencendo esse
medo, acabando por me dedicar aos cuidados paliativos.
A dedicação a essa área da Medicina faz com que conviva
bem de perto com a morte, mas agora com a certeza que
esta se limita ao corpo físico e não ao espírito, que
lhe sobrevive e que mantém a sua identidade.
Hoje, embora ainda no início do meu processo de reforma
íntima, reconheço que sou uma pessoa diferente. Os
problemas continuam a surgir porque fazem parte da vida,
mas o olhar sobre eles adquiriu uma dimensão mais ampla
e sempre envolvido em esperança, o que os relativiza,
suavizando todas as dores.
Agradeço a Jesus todos os dias da minha vida por esta
bênção que tive oportunidade de transmitir às minhas
filhas, sabendo que será o legado mais importante que
lhes posso deixar.
Como poderíamos divulgar mais e melhor a Doutrina
Espírita?
A Doutrina Espírita é, de há muito, largamente divulgada
e das mais variadas formas. Tendo essa cultura de
divulgação ficado bem exemplificada por Allan Kardec no
seu esforço colossal de não só ter publicado as obras
básicas, mas também ter mantido a publicação mensal da
revista espírita. Desde então muitas foram as
publicações de obras complementares de qualidade
inexcedível, de revistas e jornais. Com o
desenvolvimento da tecnologia aumentou a divulgação
pelos meios de comunicação, com palestras em vídeo, com
programas televisivos, tendo estes tido como marco
inicial o inesquecível Pinga-fogo. A divulgação chegou
ao cinema com a produção de filmes com grande impacto e
mesmo telenovelas.
A ligação da Doutrina Espírita à ciência atual começa a
ser uma realidade cada vez mais patente com estudos
publicados em revistas científicas. Então, surge a
questão – será que é por falta de divulgação que a
Doutrina Espírita não se difunde mais? A questão central
não parece ter o foco no mais, mas no melhor. Encontrar
um equilíbrio entre quantidade e qualidade é ainda um
exercício difícil para o ser humano. No entanto, sabemos
que irá inevitavelmente melhorar em face da lei da
evolução, começando pelo esforço constante de cada um.
Este olhar de dentro para fora ajuda a não corrermos o
risco de nos centrarmos nas dificuldades externas, sejam
elas quais forem, que nos colocam no caminho confortável
da não mudança.
No local onde vive, como se poderia diminuir o suicídio
e aborto, concretamente, com a ajuda do Espiritismo?
Pela divulgação do Espiritismo em si! A consciência da
imortalidade da alma, o conhecimento da lei de causa e
efeito e da reencarnação, permite perceber a inutilidade
do suicídio como forma de deixar de existir para deixar
de sofrer e permite também perceber a responsabilidade
da não permissão de um espírito reencarnar. A forma de
divulgação pode mudar de acordo com a necessidade e o
momento, mas o conteúdo da mensagem manter-se-á
constante e assente nos postulados espíritas.
Particularizando à nossa atividade, enquanto Associação
Médico Espírita, reconhecemos a responsabilidade de
trabalhar essas questões e assumir uma postura pública e
clara enquanto profissionais da área da saúde.
Um aspecto que frequentemente se esquece quando se
aborda a questão do aborto e do suicídio é que muitos já
passaram pela experiência do aborto ou do suicídio de um
ente querido nesta reencarnação. Que o nosso discurso
não aumente nunca a dor do remorso ou da angústia, mas
que leve a mensagem consoladora de Jesus quando afirmou
que o amor cobre a multidão de pecados e recorde as
palavras de Chico Xavier quando afirmou que embora
ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo
qualquer um pode recomeçar e fazer um novo fim.
Existe algum caso que tenha vivenciado que lhe tenha
comprovado a imortalidade do Espírito?
Sim, muitos. Mas opto por destacar as vivências mais
presentes no meu dia a dia, pois no contacto com doentes
terminais é frequente o relato de visões que ficaram
conhecidas pela denominação de “visões no leito da
morte”. Relato uma que foi especialmente marcante – o de
uma jovem com pouco mais de 20 anos que estava internada
para cuidados terminais na sequência de um tumor
cerebral. Encontrava-se em coma profundo há mais de 3
semanas, quando, numa manhã de domingo, depois de a
enfermeira e da auxiliar de enfermagem lhe terem dado
banho no leito e prestado todos os restantes cuidados,
ela inesperadamente saiu do coma, abriu os olhos,
procurou com o olhar a sua mãe que estava também no
quarto e lhe disse: “Mãe, chegou o meu irmão para me vir
buscar. Vou partir!” Fechou os olhos e deu o seu último
suspiro. Naquele domingo fazia 6 anos sobre a partida do
seu irmão, vítima de um acidente de trabalho.
Este é um dos inúmeros casos que preenchem o nosso
quotidiano e que constituem uma das evidências
comprovativas sobre a sobrevivência da alma.
No seu ponto de vista por que é que a Doutrina Espírita
e Allan Kardec são praticamente ignorados em França e na
Europa em geral?
Pelo orgulho do velho continente. Muito se tem explorado
essa questão, mas o mais importante é ter nascido no
sítio certo, pois aí, sim, não foi decisão do homem e
foi importante ter nascido no continente europeu pelo
seu papel histórico e cultural. A seguir, o ter caído na
ignorância, já teve a interferência do livre-arbítrio do
homem. Mas independentemente do local o Espiritismo
nasceu, cresceu e vai-se difundindo paulatinamente
levando a sua mensagem consoladora.
Como se poderia reverter essa situação?
O mundo sofre alterações constantes e o tempo é um
aliado fundamental. Na Europa já não se vive o paradigma
materialista. Hoje, aliás, está “na moda” o ser
espiritualista, mas ainda se faz sentir um forte estigma
em relação ao Espiritismo.
A porta de (re)entrada do Espiritismo na Europa está
muito relacionada com vertente científica e é isso que
já está a acontecer. O trabalho iniciado pela Dr.ª
Marlene Nobre na Europa teve e tem um papel importante
nesse percurso. Anualmente médicos e psicólogos a
convite da Associação Médico Espírita Internacional vêm
para a Europa, percorrendo vários países, num processo
de divulgação do Espiritismo aliado à ciência. Desse
movimento têm nascido Associações Médico Espíritas já em
vários países europeus, contribuindo assim para o
crescimento deste movimento. Na verdade, o caminho
faz-se caminhando, e vamos caminhando mesmo que devagar,
mas sempre.
O que diria aos governantes mundiais se lhes pudesse
falar de Espiritismo?
Utilizando os esclarecimentos trazidos pelo Espiritismo,
“apenas” lhes falaria sobre o Sermão da Montanha, pois
nele está contido tudo que precisamos saber para
mudarmos e mudarmos o mundo.