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por Bruno Abreu

 

É causado ou despontado?! 


Choco de frente com o meu colega de trabalho, temos opiniões diferentes sobre uma tarefa e ele impõe seu ponto de vista com toda a arrogância de quem é detentor da verdade. Rapidamente nasce em mim a raiva, demonstra-se fisicamente através da sensação que me envolve o tórax, faz o estômago rodar, o maxilar cerra e o impulso mental crescente de o atacar verbalmente fica cada vez mais forte e difícil de suster.

Minha boca mal se contém, é tão profundo este impulso que parece que nasce da zona estomacal, deixando sensações de uma energia em turbilhão que me envolve toda aquela área.

Minha paz desaparece completamente.

Esta é uma situação típica onde nos sentimos atacados e desperta em nós um impulso de defesa. Neste caso, a defesa de minha personalidade como bom trabalhador. O que serve de estímulo para despertar esta situação em mim é a arrogância do colega, mas poderiam ser muitas outras situações, o carro que se coloca à minha frente no trânsito, a pessoa que me atende e está maldisposta, resumindo, todas as situações que me possam fazer sentir atacado ou impedido do usufruto, do que penso ser os meus direitos.

Nós temos uma tendência enorme em ver a situação como uma só, mas na verdade é composta como uma sucessão de atos, tal como o teatro é composto por várias cenas e elas são diferentes umas das outras, embora os personagens sejam os mesmos.

Vamos dividir em “cenas” o “teatro” acima apresentado no local de trabalho.

Meu colega, que chamarei de Paulo, tem uma ideia diferente da minha. Quando se dá conta que não estou de acordo, permite que seu Ego cresça em orgulho, achando que é detentor da melhor ideia, faltando-lhe a paciência indispensável a uma serena discussão. A ideia que é medida ou julgada pela forma de raciocínio lógico que a criou, neste caso ele, não poderá parecer errada, quem analisa foi quem a construiu. É um jogo viciado. Seu orgulho, que comprova a qualidade da ideia, é o primeiro inimigo da paciência e ataca-me por ser de uma opinião diferente.

Na verdade, não me ataca a mim pessoalmente mas por ser eu a figura que se detém à sua frente nesta situação, sendo de opinião contrária à dele. Se em vez de mim fosse outra pessoa, seria de forma diferente?

Esta demonstração de falta de paciência e orgulho dá-se pela forma mental que ele construiu, ou seja, tem a ver unicamente com ele, por isso despontar seja com quem for e nas mais diversas situações onde se sinta atacado.

Os seres calmos como Gandhi, um grande exemplo de amor, iriam se perder em sentimentos negativos por se sentirem atacados? Ou será que estes irmãos nem se sentiriam atacados? Através destes exemplos percebemos claramente que a resposta que damos às diversas situações é um culminar de nosso estado mental.

Nesta cena é o Paulo o principal e único Ator, os outros são aleatórios, e assim podemos concluir a 1ª. Cena.

Na 2ª. Cena, a minha reação.

A minha reação acontece porque meu orgulho desperta em força pelo ataque que me foi investido. Meu Ego, que defende a sua imagem a todo o custo, grita pela sobrevivência desse orgulho “por que que a tua ideia é melhor que a minha? É fácil ver que a minha é melhor”. “Quem és tu para me falares arrogantemente”, estas são apenas algumas das expressões que nos podem nascer na mente.

Neste ato mudo de mente, passo a ser eu, como tal o raciocínio lógico é feito com base em um conhecimento diferente do Paulo, o resultado é a minha ideia, que logicamente estará certa. Como poderia estar errada? Quem a analisa foi quem a construiu. Meu orgulho não permite a análise de mais ninguém que seja de ideia diferente e une-se hipocritamente a quem a aceita. As famosas palmadinhas nas costas levando-nos a cair nas obsessões do orgulho.

Também nesta cena existe um único Ator, Eu, os outros são aleatórios. Neste caso foi o Paulo e sua arrogância que serviram de estímulo externo ao despontar do que sou e da forma que me defendo, mas se fosse outra pessoa a reação certamente seria a mesma. Defendo-me de tudo e todos que atacam a imagem que tive tanto trabalho a construir, apego-me a ela de forma intensa.

Por vezes necessitamos de estímulos externos, como o Paulo teve o desacordo de minha parte, e eu, a arrogância do Paulo, mas o que nasce em nós, como a indignação em ambos os casos, dando origem à impaciência e ao orgulho, é muito nosso. A nós parece-nos a mesma coisa, ou uma situação única, mas na verdade é como o comboio e as carruagens. O comboio arranca e as carruagens vão atrás, parecendo ser o mesmo veículo, mas, se olharmos bem, existe uma ligação entre as duas coisas que pode ser retirada e nos mostra que são veículos independentes. Amanhã aquela carruagem pode ser puxada por outro comboio.

Os estímulos externos são o comboio que puxa as nossas reações como carruagens. Normalmente a indignação nas experiências negativas que geram todo um conjunto desagradável de emoções em nós, mas estas são nossas, embora o orgulho nos faça culpar o outro.

Será possível desatracarmos o comboio da carruagem?

“…Felizes os puros de coração…” porque não serão “puxados” pela ofensa.
 


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita