"Nós,
como seres humanos,
perdemos a nossa bússola
moral?”
Determinada colega,
respeitada docente
australiana dedicada ao
estudo e ensino da ética
empresarial, postou a
pergunta acima - que
abarca, por sinal, o
título do presente
artigo – no ResearchGate,
website de origem
internacional no qual
pesquisadores de várias
áreas do conhecimento
humano trocam ideias,
apresentam seus projetos
e exibem os seus papers acadêmicos.
A pergunta é altamente
pertinente, já que o
fator moral não é um
assunto devidamente
assimilado pela
humanidade terrena.
Afinal de contas, a
nossa raça ainda
claudica – às vezes,
vergonhosamente – na
vivência dessa virtude.
Assim sendo, entre
outras observações, a
referida colega
expressou: “De
fato, não há nada
perfeito sob o sol, mas
precisamos tentar
melhorar nosso
comportamento não só
para nós, mas para as
futuras gerações”.
Outro pesquisador
brasileiro ponderou –
com propriedade – quanto
à necessidade da
educação e do ensino da
ética desde os primeiros
anos escolares.
Entretanto, foi
surpreendente constatar
que a esmagadora maioria
dos opinantes destilava
um pessimismo
generalizado. Nesse
sentido, um colega
europeu afirmou:“Em
essência: ser honesto,
altruísta, se preocupar
com os outros e toda a
sociedade, não é um
comportamento
gratificante”. Por
sua vez, outro do mesmo
continente considerou
que “Nunca tivemos
uma ´bússola moral’ -
mas, como o nosso mundo
está ‘infectado’ pelo
capitalismo, perdemos
até o mais ínfimo sinal
de moral”. Na mesma
linha de raciocínio, um
pesquisador inglês
argumentou que não era
justo reivindicar a
perda da moral agora
porque esta já havia
sido perdida.
Um cientista da área de
energia nuclear
declarou: “Claro que
perdemos em meio a esse
mundo caótico, os seres
humanos estão se
tornando menos humanos
dia a dia [...]”.
Por fim, outro colega
chamou atenção para os
eventos sangrentos que
ocorrem no mundo,
especialmente no Oriente
Médio, como “a maior
evidência de nossa perda
de humanidade e
sentimentos humanos".
De minha parte, ponderei
que as evidências
demonstram, sim, a falta
de bússola moral. Mas
também argumentei que
esta vincula-se
fortemente à necessidade
de autorreflexão e
desenvolvimento
espiritual.
Posto isto, o tema é
assaz relevante e, como
tal, merece ser avaliado
sob a luz dos
conhecimentos espíritas,
já que moral é assunto
fulcral na doutrina.
Desse modo, começamos
por resgatar o que Allan
Kardec apurou junto aos
Espíritos. Na obra O
Livro dos Espíritos, o
codificador indagou-lhes
várias questões a
respeito, conforme
segue:
“629. Que
definição se pode dar da
moral?
A moral é a regra de bem
proceder, isto é, de
distinguir o bem do mal.
Funda-se na observância
da Lei de Deus. O homem
procede bem quando tudo
faz pelo bem de todos,
porque então cumpre a
Lei de Deus.
630. Como se pode
distinguir o bem do mal?
O bem é tudo o que é
conforme a Lei de Deus;
o mal, tudo o que lhe é
contrário. Assim, fazer
o bem é proceder de
acordo com a Lei de
Deus. Fazer o mal é
infringi-la.
631. Tem meios o
homem de distinguir por
si mesmo o que é bem do
que é mal?
Sim, quando crê em Deus
e o quer saber. Deus lhe
deu a inteligência para
distinguir um do outro”.
Portanto, a revelação
dos Espíritos
permite-nos identificar
que a prática do bem ocupa
posição central na
questão moral. São, por
assim dizer, termos
indissociáveis. Por não
termos ainda adotado
completamente o
imperativo do bem,
vivemos num mundo
constituído de elevada
deficiência moral.
Reforçando esse
entendimento, o Espírito
Joanna de Ângelis
afirma, no livro Estudos
Espíritas (psicografia
de Divaldo P. Franco),
que a moral cristã ainda
não atingiu os seus
sublimes objetivos,
apesar de decorridos já
vinte e um séculos da
passagem inesquecível de
Jesus pela Terra.
Mas partindo-se da
premissa de que não se
reduz a capacidade moral
de ninguém, já que
aqueles que a possuem
não abdicam dela em
hipótese alguma, então a
escassez ora observada
decorre, essencialmente,
de indivíduos que a não
desenvolveram de maneira
plena. Como bem explicou
o Espírito André Luiz,
na obra Agenda Cristã(psicografia
de Francisco Cândido
Xavier), “A fortaleza
moral não é produto de
rogos alheios. Provém do
nosso esforço na
resistência para o bem”.
Em outras palavras, é
preciso desejar e,
sobretudo, trabalhar com
afinco e determinação
para que a prática do
bem seja um padrão de
conduta diária. Como
sugerido acima, o tópico
da moral deve ser
ensinado e ressaltado ao
longo da nossa vida
escolar para que as
nossas atitudes ecoem
sempre o bem.
Há no mundo
significativo progresso
intelectual, mas o mesmo
não se pode dizer com
relação ao progresso
moral. Por conseguinte,
as nossas criações
carecem de
sensibilidade, empatia e
respeito ao próximo.
“Todavia, é
imprescindível crescer
para a vida maior”, como
alerta o Espírito
Emmanuel, no livro Fonte
Viva (psicografia de
Francisco Cândido
Xavier). Entretanto, só
alcançaremos esse
resultado se nos
devotarmos ao nosso
progresso moral.
Explorando ainda mais o
tema em outra obra de
sua lavra, O
Consolador (também
psicografada pelo médium
Francisco Cândido
Xavier), Emmanuel
esclareceu o seguinte:
“204 – A alma
humana poder-se-á elevar
para Deus, tão somente
com o progresso moral,
sem os valores
intelectivos?
O sentimento e a
sabedoria são as duas
asas com que a alma se
elevará para a perfeição
infinita.
No círculo acanhado do
orbe terrestre, ambos
são classificados como
adiantamento moral e
adiantamento intelectual,
mas, como estamos
examinando os valores
propriamente do mundo,
em particular, devemos
reconhecer que ambos são
imprescindíveis ao
progresso, sendo justo,
porém, considerar a
superioridade do
primeiro sobre o segundo,
porquanto a parte
intelectual sem a moral
pode oferecer numerosas
perspectivas de queda,
na repetição das
experiências, enquanto
que o avanço moral
jamais será excessivo,
representando o núcleo
mais importante das
energias evolutivas”.
Portanto, sem a absorção
do fator moral não
conseguiremos promover
os avanços tão
necessários ao bem-estar
humano, sem o
aperfeiçoamento moral
não alcançaremos a
elevação espiritual.
|