Equilíbrio, um objetivo a perseguir
Adolfo fora convidado para proferir palestra na casa
espírita em bairro da região metropolitana de sua
cidade, e, ao chegar lá, foi informado de que a dinâmica
consistia em, após a preleção, abrir a palavra para a
assistência, para perguntas. Após a sua fala, sobre tema
um tanto controverso, uma das pessoas do público dispara
perguntas desafiadoras, em uma nítida postura
provocadora. Adolfo, diante da insistência, se irrita e
se nega a responder, caindo no reino da grosseria.
Mariana, como esclarecedora na reunião de desobsessão,
se vê diante de um irmão menos esclarecido, que
apresenta um discurso misógino e que começa a provocar a
dirigente. O diálogo se estende, e o Espírito, sem
ofensas, começa a questionar aspectos igualitários da
relação homens e mulheres e isso começa a indignar
Mariana, que “cai na pilha”. Por fim, ela perde a
paciência e manda o Espírito embora de forma curta e
grossa.
Abelardo coleciona vinte anos no trabalho com os
assistidos, e controla o processo de concessão de cestas
básicas e roupas oriundas da doação. Diante dos
petitórios, tenta, pelo diálogo, entender as demandas de
cada irmão, na busca de, com a palavra amiga, gerenciar
as possibilidades e oportunidades. Mas nem todo dia é
dia santo, e naquele fatídico de noite maldormida, uma
irmã insiste quanto ao acréscimo de um benefício e
começa, revoltada, a xingar Abelardo e as outras pessoas
da casa, quando Abelardo se levanta e arremessa sobre
ela o caderno de anotações, expulsando-a da casa
espírita.
No cotidiano, diante das situações inusitadas, que
“pisam no nosso calo”, catalisadas pela soma de outras
questões pregressas, por vezes, perdemos a paciência e
explodimos, causando consequências indesejáveis, da
palavra dita e que não retorna, das relações que se
quebram, de pessoas que abandonam o trabalho, pela
decepção ou pela própria contenda.
É claro, somos humanos, e precisamos entender essa
dimensão para não exigirmos de nós mesmos mais do que
podemos dar. Mas essa mesma humanidade nos enseja que
tenhamos mecanismos de alerta, para indicar quando a
“temperatura está subindo”. Um autoconhecimento que nos
isente dessa armadilha de ultrapassar limites, e
proceder para além da racionalidade, com prejuízos de
difícil reversão.
Contar até dez, fazer uma prece, tomar a água da paz. Os
artifícios são muitos, mas o que se traz na presente
reflexão é que estamos sujeitos, em diversas situações,
inclusive na casa espírita, a estar diante de um
impasse, e aquilo pode tomar proporções maiores, às
vezes iniciada por questões frívolas, e a coisa pode
desandar para explosões de cólera que podem prejudicar
coisas mais relevantes, como o próprio trabalho, e, às
vezes, a nossa própria integridade física. É a mesma
lógica de brigas de trânsito e de vizinhos.
Assim, vale o tema do presente artigo. Equilíbrio, um
objetivo a perseguir. Em qualquer situação, precisamos
ter em mente a necessidade imperiosa de manter o
equilíbrio. Se ele começa a se esvair, é a hora de dar
uma freada na sequência de acontecimentos, parar e
respirar, pois o que virá em diante, provavelmente,
pouco contribuirá para a resolução da questão,
demandando, no futuro, desculpas e reparações.
Na casa espírita, mais especificamente, lidamos com o
público, encarnado e desencarnado, e cada um traz sua
carga de frustrações e mágoas, e, por vezes, diante do
hospital que é aquele local religioso, derrama sobre ele
e seus colaboradores todo esse peso, e que por vezes
rompe os limites dos interlocutores. O equilíbrio é
sempre dinâmico e nessa corda bamba andamos, atentos,
para evitar a queda, dentro e fora da casa espírita.
De forma conclusiva, deixamos então essa reflexão para o
leitor, humano e trabalhador da casa espírita. Atenção
aos sinais! Pequenas bactérias causam doenças graves. No
cotidiano, lidando com aqueles que se abeiram da casa
espírita, o equilíbrio é um princípio a ser perseguido e
nos resguarda de contendas que podem trazer prejuízos
aos trabalhos, e, consequentemente, a encarnações, onde
encontrariam auxílio fundamental para o seu progresso.
|