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por Rogério Miguez

 
A importância da indulgência


Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus
? “Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.”1


Quando Allan Kardec, já quase ao final da parte terceira de O Livro dos Espíritos, abordou temas referentes à Justiça, Amor e Caridade, de modo a melhor compreender esta tríade de destacados assuntos, elaborou uma pergunta bem direta, todavia, talvez, muitos não tenham se dado conta da sua importância. Trata-se da questão anteriormente transcrita.

O primeiro destaque em relação à pergunta é o fato de Allan Kardec ter perguntado aos Espíritos a opinião de Jesus sobre o tema caridade. Por qual razão não perguntou genericamente: Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade? Como devemos praticar a caridade? Como Deus entende a caridade? O que é caridade segundo as leis de Deus? São muitas opções, mas o Educador de Lion se interessou particularmente pela visão específica de Jesus, como se esta representasse uma orientação de destaque sobre o tema.

A surpresa da resposta, não sabemos se também teria sido para Kardec, foi quando os Espíritos, quem sabe o próprio Jesus, desconhecemos quem ditou a resposta, citou apenas modalidades da caridade moral ou imaterial, para bem expressá-la, àquela não dependendo de bens objetivos, mas apenas de tesouros subjetivos, plenamente se realizando pelo exercício das conhecidas virtudes.

É fato ter o dileto discípulo de Pestalozzi, mais à frente, por outras indagações, explorado especificamente a posição da famosa esmola, tão bem conhecida de todos, a mais direta, talvez a mais fácil forma de se praticar a caridade. Em sentido mais abrangente podendo representar qualquer doação material a necessitados, seja o que for: cobertor, moeda, sopa, remédio...

Contudo, naquele momento, quando se construía a pedra fundamental do pensamento kardeciano, O Livro dos Espíritos, a caridade moral, tudo indica, aparentemente foi designada como a mais relevante, importante e meritória. Afinal, é o entendimento de Jesus, embora tenhamos plena consciência da temática caridade ter sido explorada de mil formas pela espiritualidade, descrevendo incontáveis facetas da mesma, ao longo dos compêndios espíritas.

Destaca-se também da resposta o fato dos Espíritos terem apontado exatamente estas três, entre tantas possibilidades: Benevolência, Indulgência e Perdão, como virtudes mais representativas da prática da caridade, especificamente moral.

Da percepção comum, benevolência expressa a qualidade de alguém que é benevolente, quer dizer, é afetuoso, age com estima em relação ao próximo. Pode significar também demonstrar bondade, ou mesmo boa vontade. Ou seja, se expressa caridade por esta virtude, apenas através de atitudes simples, no trato com os outros, sendo igualmente compreensivo e tolerante.

A propósito, quando perguntaram a Chico Xavier em que matéria Emmanuel era mais exigente, o médium mineiro disse categórico: No trato com os outros2.

Reflitamos agora um tanto sobre a indulgência. Característica de quem é indulgente, isto significa ter facilidade em perdoar faltas alheias. Intimamente vinculada à clemência, tolerância e perdão, que são atitudes ligadas à absolvição de outrem sobre castigos e punições. Interessante notar que do latim indulgentia, que provém de indulgeo, tem o significado de para ser gentil ou perdão de uma pena. Desta forma, indulgência está intimamente ligada à benevolência e mesmo ao perdão.

A terceira indicação de Jesus seria perdoar. Liberar alguém de uma culpa, ofensa, dívida, sendo fundamental não guardar ressentimentos, rancor, raiva. É de se notar que pode ser aplicada a si mesmo, da mesma forma que a indulgência, visto que podemos também ser indulgentes conosco mesmos.

Desta ligeira análise das três sugestões do Cristo, ou da interpretação do pensamento de Jesus, pelos Espíritos superiores responsáveis pela resposta, observa-se que a segunda recomendação possui uma fronteira com a primeira quando se imagina o ser gentil como uma atitude indulgente, de igual modo, também possui uma interface com a terceira, no que tange ao ato de perdoar, é a essência da indulgência.

Sendo assim, poderíamos destacar entre as três, a indulgência, pois se exercitada na sua plenitude, poderia abranger as outras duas.

Entretanto, como nos é difícil viver a indulgência!

Eis aí um desafio, para todos os aprendizes das leis eternas do Pai, valendo a pena lembrar que ser indulgente não significa ser conivente, entendimento obtuso desta prática que comumente alcança os espíritas, acreditando que por conta de serem indulgentes devem: tudo tolerar, tudo aceitar, tudo permitir, principalmente nas atividades dentro das casas espíritas, por conta deste equivocado entendimento, vemos comumente desvios doutrinários, na prática e na teoria, sendo exercitados nas agremiações espíritas.

Não somos juízes da conduta alheia, tampouco censores do entendimento do próximo, contudo, há que existir bom senso, equilíbrio, não permitindo que o movimento espírita, através de suas unidades praticantes, os centros, deem exemplos lamentáveis aos que nos procuram em busca de orientação de fato espírita, desorientando-os baseados em entendimentos pessoais de seus dirigentes.

 

Referências:

1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 69. ed. São Paulo: Edição Calvário, 1968. Parte terceira – Da lei de justiça, de amor e de caridade - Capítulo XI. Perg. 886.

BARBOSA, Elias. No mundo de Chico Xavier. Encontro com Chico Xavier. cap.5. Perg. 14.


 


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita