Envolver a família como
participante ativa do cuidado é uma forma de humanização
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Eduardo Tavares Gomes diz-nos qual é a proposta
de seu livro Cuidado e Espiritualidade |
A crescente busca pela porção espiritual nos cuidados em
saúde trazem dúvidas e necessitam de respostas bem
embasadas para a transmissão de confiabilidade e
exatidão na aplicação por profissionais de saúde. Com
este intuito, o enfermeiro e doutorando em ciências pela
Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP)
Eduardo Tavares Gomes (foto) nos conta sobre a
elaboração do livro Cuidado e Espiritualidade,
lançado há alguns meses.
O que te inspirou a escrever o livro Cuidado e
Espiritualidade?
Foram quase dez anos estudando o tema, participando de
eventos, grupos de estudo e pesquisando na área até
aquiescer às sugestões de colegas e alunos para escrever
o livro. Durante esse tempo, trabalhando em hospitais e
fazendo uma formação acadêmica voltada para a pesquisa
em Saúde e Espiritualidade, fui registrando vários casos
que exemplificavam bem a importância da espiritualidade
para o cuidado e, sem notar, grande parte do livro já
estava bem encaminhada! Em algumas oportunidades,
contando e discutindo esses casos, as pessoas
questionavam se havia algum registro e sugeriam que eu
fizesse algo como um blog ou página na
internet, mas eu relutava a essa forma de divulgação.
Colegas na academia, em sala de aula na graduação e na
pós-graduação, questionavam que não havia muitas
referências sobre o tema na literatura nacional e, por
fim, achei que escrever o livro poderia ser uma forma de
contribuição na divulgação do tema.
Por que é importante inserir o componente espiritual nos
cuidados em saúde?
No campo da saúde, os cuidados prestados na assistência
ao paciente passaram por formas de cuidar bem
delimitadas, como o cuidado centrado na técnica, em que
as evidências e técnicas para os procedimentos
prevalecem, o cuidado centrado no profissional, em que a
figura daquele que presta o cuidado é primordial, e o
cuidado centrado no paciente, quando, na década de 1970,
nos EUA, iniciou-se o movimento pela Segurança do
Paciente. Um último movimento, de resgate a práticas e
conceitos antigos em que se desenvolveram as profissões
na área da saúde, vem buscando um cuidado centrado no
ser no mundo, no paciente como pessoa, inserida em um
contexto de tempo e espaço, pautado no paradigma da
integralidade. Ao se reconhecer o outro como ser
integral, nas dimensões de mente, corpo e espírito, as
relações de cuidado se tornam mais reais e profundas,
mais sinceras e significativas. O profissional é
requisitado a desenvolver maiores recursos na observação
do outro, na comunicação, na empatia. Além disso, nesse
paradigma holístico, são consideradas a espiritualidade
e as crenças e práticas religiosas. Espiritualidade
impacta na forma de ver o mundo, de enfrentar a doença
como uma prova da vida, de compreender sua própria
finitude.
Na tua experiência, qual a importância do suporte social
e familiar ao cuidar do próximo?
As primeiras pesquisas evidenciando essa relevância
datam da década de 1950. Envolver a família como
participante ativa do cuidado é uma forma de
humanização, mas também deve ser encarada como uma
estratégia para promoção de saúde e bem-estar. Além dos
benefícios diretos ao paciente, a atenção dada a
familiares é uma forma de cuidado integral, pois já há
evidências suficientes que dentre os acompanhantes e
cuidadores familiares há elevados índices de ansiedade,
depressão, estresse. E muitas vezes, para nós
profissionais, a família é uma via certa para se chegar
ao paciente e favorecer sua adesão à proposta
terapêutica.
Quais os principais pontos abordados no livro? Há um
público alvo?
O livro reúne casos que são apresentados com um conteúdo
teórico que dá embasamento a compreensão dos relatos.
São trazidas reflexões desde a nossa formação à prática,
com temas importantes como o enfrentamento
religioso-espiritual da doença, a finitude, a abertura
ao milagre e experiência de quase-morte. Tentamos fazer
um livro que fosse útil aos profissionais de saúde que
desejem entender mais sobre as relações entre cuidado e
espiritualidade, mas também o público em geral tem-nos
dado uma resposta positiva de aproveitamento das
reflexões proporcionadas.