Brasil
por Giovana Campos

Ano 12 - N° 596 - 2 de Dezembro de 2018

Envolver a família como participante ativa do cuidado é uma forma de humanização


 

Eduardo Tavares Gomes diz-nos qual é a proposta de seu livro Cuidado e Espiritualidade


A crescente busca pela porção espiritual nos cuidados em saúde trazem dúvidas e necessitam de respostas bem embasadas para a transmissão de confiabilidade e exatidão na aplicação por profissionais de saúde. Com este intuito, o enfermeiro e doutorando em ciências pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP) Eduardo Tavares Gomes (foto) nos conta sobre a elaboração do livro Cuidado e Espiritualidade, lançado há alguns meses.

O que te inspirou a escrever o livro Cuidado e Espiritualidade?

Foram quase dez anos estudando o tema, participando de eventos, grupos de estudo e pesquisando na área até aquiescer às sugestões de colegas e alunos para escrever o livro. Durante esse tempo, trabalhando em hospitais e fazendo uma formação acadêmica voltada para a pesquisa em Saúde e Espiritualidade, fui registrando vários casos que exemplificavam bem a importância da espiritualidade para o cuidado e, sem notar, grande parte do livro já estava bem encaminhada! Em algumas oportunidades, contando e discutindo esses casos, as pessoas questionavam se havia algum registro e sugeriam que eu fizesse algo como um blog ou página na internet, mas eu relutava a essa forma de divulgação. Colegas na academia, em sala de aula na graduação e na pós-graduação, questionavam que não havia muitas referências sobre o tema na literatura nacional e, por fim, achei que escrever o livro poderia ser uma forma de contribuição na divulgação do tema.

Por que é importante inserir o componente espiritual nos cuidados em saúde?

No campo da saúde, os cuidados prestados na assistência ao paciente passaram por formas de cuidar bem delimitadas, como o cuidado centrado na técnica, em que as evidências e técnicas para os procedimentos prevalecem, o cuidado centrado no profissional, em que a figura daquele que presta o cuidado é primordial, e o cuidado centrado no paciente, quando, na década de 1970, nos EUA, iniciou-se o movimento pela Segurança do Paciente. Um último movimento, de resgate a práticas e conceitos antigos em que se desenvolveram as profissões na área da saúde, vem buscando um cuidado centrado no ser no mundo, no paciente como pessoa, inserida em um contexto de tempo e espaço, pautado no paradigma da integralidade. Ao se reconhecer o outro como ser integral, nas dimensões de mente, corpo e espírito, as relações de cuidado se tornam mais reais e profundas, mais sinceras e significativas. O profissional é requisitado a desenvolver maiores recursos na observação do outro, na comunicação, na empatia. Além disso, nesse paradigma holístico, são consideradas a espiritualidade e as crenças e práticas religiosas. Espiritualidade impacta na forma de ver o mundo, de enfrentar a doença como uma prova da vida, de compreender sua própria finitude.

Na tua experiência, qual a importância do suporte social e familiar ao cuidar do próximo?

As primeiras pesquisas evidenciando essa relevância datam da década de 1950. Envolver a família como participante ativa do cuidado é uma forma de humanização, mas também deve ser encarada como uma estratégia para promoção de saúde e bem-estar. Além dos benefícios diretos ao paciente, a atenção dada a familiares é uma forma de cuidado integral, pois já há evidências suficientes que dentre os acompanhantes e cuidadores familiares há elevados índices de ansiedade, depressão, estresse. E muitas vezes, para nós profissionais, a família é uma via certa para se chegar ao paciente e favorecer sua adesão à proposta terapêutica.

Quais os principais pontos abordados no livro? Há um público alvo?

O livro reúne casos que são apresentados com um conteúdo teórico que dá embasamento a compreensão dos relatos. São trazidas reflexões desde a nossa formação à prática, com temas importantes como o enfrentamento religioso-espiritual da doença, a finitude, a abertura ao milagre e experiência de quase-morte. Tentamos fazer um livro que fosse útil aos profissionais de saúde que desejem entender mais sobre as relações entre cuidado e espiritualidade, mas também o público em geral tem-nos dado uma resposta positiva de aproveitamento das reflexões proporcionadas.


 

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita