Numa noite de 1931, quando escrevia mais um dos poemas
de seu livro de estreia, Chico sentiu o olho esquerdo
invadido por fragmentos de areia. Esfregou os grãos
imaginários, mas a coceira continuou.
Experimentou fixar a lâmpada com a pupila incomodada, mas em vez
da luz acesa viu um foco difuso. Mal conseguia enxergar os
versos recém-escritos e assinados por Casimiro de Abreu. O rapaz
ficou assustado e rezou mais uma vez. O Dr. Bezerra apareceu
para ele, tateou o olho e diagnosticou:
– Sua vista amoleceu por razões que não podemos saber agora.
Prepare-se para ir a tratamento em Belo Horizonte, para que sua
família não diga que você ficou sem se tratar por nossa causa.
Dois dias depois, um amigo o levou à capital mineira e um
oftalmologista diagnosticou:
– Isso é um tipo de catarata obscura e inoperável.
Chico nunca mais se livrou dos grãos de areia e ficou
desconfiado de ter sido atacado por "falanges das trevas"
interessadas em prejudicar sua tarefa mediúnica. Desde então,
todos os dias, ele medicaria o olho doente com colírios à base
de cortisona e cloranfenicol.
Do livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior.
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