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por Bruno Abreu

 

Fé ou Esperança


Nesta altura do ano, com a época natalícia à porta e o início de um ano novo, crescem em nós sentimentos de Fé e de Esperança. As imagens de mudança aparecem sistematicamente, as promessas são imaginadas e o futuro idealizado com as alterações que pensamos serem necessárias. Acabamos por misturar a Fé com a Esperança, parecendo-nos o complemento uma da outra ou até aparentando o mesmo.

A Fé em maioria das pessoas está associada à Esperança, à confiança, à saúde e a muitas outras coisas que nos parecem boas.

A meu ver, a verdadeira Fé é Viver, viver sem escolha.

Nós temos dificuldade em ver o que é Fé, então, eu sugiro que possamos colocar de lado o que não é.

A palavra Esperança, tal como indica, é esperar algo, “tenho esperança que corra desta maneira” ou “tenho esperança que corra bem”. Se eu espero algo, então eu espero algo que possa imaginar, que possa ser projetado pela minha mente. A vida é muito rica e muitas vezes traz-nos o que não imaginamos, situações novas imprevistas, e, como tal, não se deu o que se esperava. Esperar algo, muitas das vezes é o início da frustração, quando temos Esperança e as coisas não ocorrem como imaginamos, a carruagem seguinte desse comboio é a frustração.

Será que na Fé poderá existir Frustração?

Quem cria a Esperança somos nós, imaginando a forma como a vida irá correr, quem a torna em frustração também somos nós, porque não correu como queríamos. Imaginamos o futuro e frustramo-nos quando já é um passado diferente do imaginado.

Estes são dois movimentos em que nós vivemos e temos dificuldades em nos libertarmos deles. Na verdade, a vida decorre em um tempo diferente, o presente, e a Fé acontece neste tempo, porque o passado é uma memória e o futuro é uma imaginação, ambos sustentados pelo pensamento, tal como a Esperança e a Frustração.

Poderemos ter Fé e sentirmo-nos indignados?

Também penso que não, a indignação é a não aceitação do que se sucedeu, o choque do que queremos com o que nos deparamos. Das duas uma, ou nós temos a certeza que “Alguém” comanda o Universo, tornando-o harmonioso e de forma Justa e poderemos ter Fé no seu funcionamento, ou pensamos que tudo é obra do acaso, e esta perfeição, que poderemos chamar de harmonia perfeita, que se dá no cosmos, é também obra do acaso. Aí seria uma sequência de número inimaginável de acasos felizes que formaram o nosso Universo, o que é impossível de se imaginar.

Então, se temos consciência da harmonia do Universo, e que tudo o que acontece é perfeito, ter Fé é passar em silêncio sem que nada nos indigne, porque sabemos da Justiça Universal e compreendemos o caminho que tomamos.

Poderemos ter Fé e Raiva ou Agressividade?

Também não me parece. A raiva e agressividade aparecem após a indignação; é uma forma de reação depois da não aceitação da situação onde nos sentimos injustiçados, fazendo desaparecer momentaneamente em nós qualquer virtude que possamos ter.

Parece-me a mim que qualquer tipo de reação negativa por nossa parte é falta de Fé, incluída a amargura que possamos sentir, seja temporária ou já em forma de carácter.

Então poderemos dizer que a Fé é aceitação?

Se é algo que aceitamos temos que ter a hipótese de não aceitar, mesmo que não o façamos. A aceitação também é criada pela nossa mente, por nós. Foi algo que aconteceu e eu afirmo, a mim próprio, “eu aceito o que me aconteceu”. Parece-me que a Fé ultrapassa a aceitação, porque para determos este sentimento em nós tem que se dar a plena consciência, sem qualquer dúvida, da perfeita movimentação da vida, então, não cabe a aceitação.

Nós apanhamos a estrada para um determinado destino onde queremos chegar, não existe a indignação, frustração, raiva, agressividade, injustiça, por irmos naquela estrada, nem sequer aceitação, é a estrada correta, ponto final, não há que questionar, e isto parece-me Fé, ter consciência de que o movimento da vida é o correto, incluindo os negativos trazidos pela própria vida ou pelos outros. Temos que entender estes cenários negativos com que nos deparamos, não em uma teoria, mas como uma realidade em que está a acontecer um aprendizado importante que nos modificará para melhor. Então, não existirá uma reação negativa, mas um aproveitamento de um aprendizado.

Por que não somos capazes de chegar a este nível de humildade e resignação?

Nós somos demasiadamente apegados ao nosso ser na Terra, então criamos o que nos dá jeito para nós, não permitimos que ele passe por “humilhações” ou maus-tratos, temos demasiado medo e queremos apenas coisas boas. Quando as “más” acontecem, ficamos indignados e frustrados pelo enorme apego que temos a nós próprios, não percebendo que nos aproximamos da matéria e nos afastamos da Fé.  

Pelo Natal, o meu pedido este ano para o sapatinho é a atenção para vigiar o meu ser e compreender o meu apego e, assim, sei que para o próximo ano diminuirei os impulsos dos vícios morais e físicos, abandonarei a exigência de que as coisas corram como eu quero, o que me fará reduzir a indignação e a frustração; conhecerei o caminho da Paz e a virtude da Fé.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita