Conforme relatado na edição 110 da Revue
Spirite (1o trimestre de 2018), pesquisas recentes de
vários pesquisadores latino-americanos permitiram estabelecer, com base em
documentos mantidos na Biblioteca Nacional da França (BNF) e Arquivos nacionais
(AN), a sequência das edições do 5o livro básico de Allan
Kardec:(1)
-
As primeiras quatro edições são estritamente idênticas, diferentemente dos
vários testemunhos (ver abaixo) e das biografias de Allan Kardec;
-
Foram impressos em outubro de 1867, em 3.000 exemplares, correspondendo às 3
primeiras edições, depois, em fevereiro de 1869, 2.000 exemplares,
correspondentes à quarta edição, durante a vida do autor;
-
A 5ª edição, revisada, corrigida e ampliada, foi publicada apenas em dezembro de
1872, mais de três anos após a desencarnação do autor.
Nós publicamos na Revista Espírita supra,
com a permissão do autor, Simoni Privato Goidanich, uma tradução do capítulo 23
de seu livro, El legado de Allan Kardec, dando os detalhes da pesquisa
que ela fez em Paris.(2)
A análise complementar que propomos neste artigo
refere-se essencialmente à parte tipográfica. Foi feito pelo nosso irmão Michel
Buffet, que conhece bem esse trabalho, tendo trabalhado na imprensa. Sua análise
foi realizada em cinco exemplares originais deste livro que conseguimos reunir:
a 1ª, a 2ª, a 3ª edição, todas datadas de 1868, bem como a 5ª edição revisada,
corrigida e aumentada, sem data, mas das quais o depósito legal no BNF data de
dezembro de 1872 e a sétima edição, datada de 1883, pouco antes da denúncia da
possível adulteração de Henri Sausse na revista Le Spiritisme, 2o ano,
n. 19, primeira quinzena, dezembro 1884, que reproduzimos mais adiante neste
artigo.(3)
Este tipo de análise só pode ser precisa manuseando-se os volumes impressos
originais, dada a definição por vezes insuficiente de digitalização disponível on-line,
e também a capacidade de examinar o papel e a intensidade da pressão
tipográfica. Infelizmente, não temos uma cópia original da 4ª edição, então a
análise foi limitada ao seu conteúdo.
Adicionamos também o texto de um documento original por Allan Kardec, provando a
adulteração cometida por P.-G. Leymarie na transcrição deste documento na Revista
Espírita de 15 de março de 1887 e em Obras Póstumas.
Comparação de diferentes edições de A
Gênese
O
conteúdo da 1ª, 2ª, 3ª e 4ª edição são rigorosamente idênticos.
Estas edições foram tiradas das mesmas formas de composições tipográficas
originais (tipo móvel). Temos as mesmas lacunas nas mesmas letras nas mesmas
páginas.
Os
conteúdos da 5ª e 7ª edições são idênticos entre si.
A
5ª edição é uma completa recomposição a partir de uma fundição de diferentes
caracteres, justificando que para o mesmo texto, a formatação da linha é
diferente, exigindo um layout completo, e que com as modificações feitas é
adicionada uma busca diferente, alterando a paginação.
As
4ª e 5ª edições são diferentes e a importância das diferenças mostra que temos
que fazer uma recomposição total. Portanto, são edições diferentes.
As
edições 5a e 7a são idênticas em seu conteúdo, mas são
diferenciadas pela qualidade: podemos verificar que a 7a usou
impressões digitais. Estas impressões(4) ou
espaços em branco são feitas a partir da composição original em caracteres
livres, permitindo, quando há mais correções para fazer (correções que são
feitas letra por letra pelo compositor), para ter a página (ou a forma de
impressão imposta) em questão neste molde oco ou em branco e poder fazer um
molde de liga de chumbo-antimônio que será fiel à página (ou a forma imposta de
impressão) em questão. Há claramente uma perda de qualidade compreensível devido
à impressão. Este não é o caso nas primeiras cinco edições, tiradas de uma
composição tipográfica original no tipo móvel (Fig. 1).
O
problema dos clichês não surge para as cinco primeiras edições, e o problema da
fundição para a composição das quatro primeiras edições também não aparece, já
que a 5ª edição foi completamente recomposta.
As
quatro primeiras edições têm 460 páginas e a 5ª e 7ª edições têm 472 páginas.
Isso poderia dar crédito à palavra "aumentada" na página de título. No entanto,
comparando as duas versões, a quarta contém 125.979 palavras, enquanto a quinta
contém apenas 125.006, cerca de 1.000 palavras a menos na revisão "aumentada".
Isso é compreensível pela grande quantidade de parágrafos que foram excluídos na
5ª edição, enquanto pouco texto novo foi adicionado. O
aumento no número de páginas é explicado apenas pela recomposição, e não pelo
aumento do texto. A palavra "aumentada" na capa é, portanto, abusiva, Allan
Kardec certamente não teria cometido tal coisa.
Para impressores, qualquer documento deve incluir um nome de impressora, além do
editor, se houver um. Ao verificar os nomes das impressoras em diferentes
edições, podemos ver que:
- A 5a edição apresenta: Tipografia
Rouge Frères et Comp. Rue du Four St. Germ., 43.
- A 3ª edição apresenta: Paris.
– Tipografia ROUGE FRERE, DUNON ET FRESNE. Rue du Four Saint- Germain, 43.
Este é o mesmo endereço e nome da mesma impressora, de acordo com afirmação de
P.-G. Leymarie, que as primeiras seis edições foram feitas por essa impressora.
No
que diz respeito à análise do papel utilizado, o da segunda e terceira edições
parece idêntico. O da 1ª edição parece ser da mesma gramatura, mas o papel é
menos suave, e a espessura total das 460 páginas é ligeiramente superior: 23,5
mm, contra 23 mm para o primeiro. Isto continua a ser confirmado por uma análise
mais detalhada e uma análise complementar de um exemplar original da 4ª edição.
Impressões, reimpressões e edições:
De
acordo com os documentos reunidos no livro de Simoni Privato, e cuja
autenticidade foi confirmada por nós, as informações adicionais sobre o depósito
legal e os pedidos de autorização para impressão são os seguintes:
-
7 de outubro de 1867: pedido de autorização para impressão de 3.000 exemplares
por Typ. ROUGE FRERE, DUNON ET FRESNE. Conforme explicado abaixo, essa primeira
impressão corresponde à 1ª, 2ª e 3ª edições, de 1.000 exemplares cada, vendidas
em 1868 e em 1869.
-
7 de fevereiro de 1869: pedido de autorização para uma impressão de mais 2.000
exemplares por tipografia ROUGE FRERE, DUNON ET FRESNE. Essa segunda impressão
corresponde à 4ª edição, estritamente idêntica às três primeiras, vendidas até
1872.
Depósito Legal na Biblioteca Nacional da França:
-
Janeiro de 1868 para a 1ª edição.
-
Dezembro de 1872 para a 5ª edição.
Não houve outro depósito legal nesse intervalo, o que confirma que todas as
edições eram idênticas antes da 5ª edição.
Também é possível acompanhar as edições para venda ao longo do tempo, examinando
as menções na Revista Espírita, nos livros publicados na época e no
“Catálogo Racional das obras que podem ser usadas para fundar uma Biblioteca
Espírita”:
-
A Revista Espírita de 1867, cuja coleção anual foi publicada no início de
1868, não menciona o número da edição, por isso é a primeira.
-
O mesmo se aplica à edição de janeiro de 1868, página 31, anunciando o
lançamento do livro em 6 de janeiro de 1868.
-
A edição de fevereiro de 1868, página 64, anuncia o esgotamento da 1ª edição e o
lançamento da 2ª edição. Podemos ver que as primeiras 1.000 cópias se passaram
em um mês, sob o efeito do lançamento de um novo livro por um renomado autor.
Veremos outra confirmação disso mais tarde, de acordo com um manuscrito de Allan
Kardec.
-
A edição de março de 1868, página 95, anuncia o quase esgotamento da 2ª edição e
o lançamento da 3ª edição. Vemos que as 1.000 cópias seguintes venderam bem no
segundo mês, levando ao lançamento da 3ª edição, esgotando bem 3.000 cópias da
primeira tiragem.
-
A coleção anual da Revista Espíritade 1868, publicada no início de 1869,
menciona a 3ª edição, pouco antes da segunda impressão, cujo pedido de
autorização foi feito em meados de fevereiro de 1869.
-
A capa das cópias originais das edições mensais da Revista Espíritade
1869, inclui o catálogo de obras de Allan Kardec. As edições de janeiro,
fevereiro, setembro, outubro e novembro de 1869 mencionam a 3ª edição.
-
A coleção anual da Revista Espíritade 1869, publicada no início de 1870,
ainda menciona a 3ª edição.
Os
dois últimos elementos acima podem sugerir que a 3ª edição só foi aprovada no
final de 1869 e o ritmo de vendas caiu. No entanto, essas capas não parecem ter
sido atualizadas sistematicamente, e o que confirma é o “Catálogo Racional”,
cuja primeira edição foi publicada por Allan Kardec em março de 1869 e anexada
à Revista Espírita do mês de abril de 1869 (o último composto por Allan
Kardec antes de sua desencarnação em 31 de março de 1869).
Infelizmente, ainda não conseguimos encontrar uma cópia original deste catálogo,
mas as seguintes edições do mesmo ano, publicadas em agosto de 1869 já pela
Livraria Espírita, localizada na rue de Lille, 7 (de que ainda não
participava Pierre Gaëtan Leymarie), citar a 4ª edição de A Gênese,
confirmando assim o esgotamento da 3ª edição da primeira edição de 1867, e a
venda da 4ª edição, correspondente à tiragem cujo pedido de autorização foi
feito por ordem de Allan Kardec em fevereiro de 1869.
Esta quarta edição sempre menciona A. Lacroix, Verboeckhoven et Cie, Éditeurs, o
escritório da Revista Espírita em Rua e Passagem Ste-Anne, 59, e a data
de 1868. Já que o pedido de impressão é de fevereiro de 1869.
É
de se perguntar por que o ano não foi mudado em 1869 e o endereço da Passage
Sainte Anne para rue de Lille: provavelmente é por causa do novo
endereço, anunciado apenas por Allan Kardec na revista Revista Espírita de
abril de 1869, ainda não havia sido definido no início da impressão, em
fevereiro de 1869, e não era essencial mudar o ano, sendo a quarta edição
idêntica às três primeiras de 1868. Quanto à editora, sua falência em Paris data
de 1872, e não desde 1869, como afirmado por P.-G. Leymarie.
(Este
artigo terá continuidade na próxima edição desta revista.)
3 - Disponível
em: Enciclopédia Espírita,www.spiritisme.net;
www.kardecpedia.com; O legado de Allan Kardec, Ed.USE-SP,
2018.
4
- Na
impressão, o estereótipo (etimologicamente, "tipo em relevo") também é chamado
de clichê. Este é um termo específico para impressão tipográfica. Os moldes em
folhas flexíveis, os "brancos", possibilitaram a obtenção de imagens dobradas,
adaptáveis aos cilindros de impressão das impressoras tipográficas, que
imprimiam a maioria dos jornais até o surgimento da impressão offset.