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por Eurípedes Kühl

 
Colônias espirituais


Na literatura espírita atual há citação de grande número de colônias espirituais e muitos perguntam se essas seriam as mesmas a que se referem outras religiões, de outras culturas, de todas as épocas, citando como exemplo as citações das religiões egressas da Grande Fraternidade Branca[1].
Não se pode afirmar categoricamente que as colônias espirituais citadas na literatura espírita sejam as mesmas referidas em outras fontes.
No entanto, nada objeta refletir e deduzir que sim: de alguma forma assemelham-se, em parte, como o fato de todas se localizarem nas esferas (degraus) espirituais, na psicosfera terrena, nas quais habitam Espíritos bons e maus.
As diferenças existentes decorrem da diversidade, não só da forma de expressão humana para registrar acontecimentos, forma essa quase sempre eivada de animismo, mas principalmente em razão das tradições e da cultura dos diversos povos, ao longo da História. Além disso, as várias correntes do pensamento religioso preconizam diferentes fundamentos para o “depois” da morte, quase todas, via de regra, proclamando existência terrena única e "juízo final".
Essa a grande diferença: a Doutrina dos Espíritos e não apenas ela[2] professam a reencarnação — vidas sucessivas —, como forma individual (por merecimento) de alcançar o progresso moral e a felicidade.
As referências de colônias espirituais, nas religiões advindas da Grande Fraternidade Branca[3], segundo pesquisas que realizei na internet, salvo engano, tratam do assunto, pelas premissas, e a ótica filosófica, de cada uma.
Exemplos de referências a colônias espirituais (também chamadas de "cidades espirituais", "moradas espirituais" etc.)[4]:
- Os egípcios (por volta do ano 2.100 a.C.): consideravam que os mortos seriam julgados diante de Osíris (deus do mundo infernal e juiz dos mortos); daí os bons iriam para locais venturosos e os maus para lugares tenebrosos, sem luz e sem alimentos, para sempre;
- Os persas (1.500 a.C.): proclamavam mais ou menos as mesmas condições dos egípcios, com a diferença de que, no fim (?), até os maus se salvariam;
- Os gregos (500 a 400 a.C.): os deuses, no Olimpo; quanto aos demais, após a morte, haveria um julgamento presidido por Hades (um dos doze deuses do Olimpo, senhor das profundezas subterrâneas, os Infernos), quando, então, os bons iriam para os Campos Elíseos, mansão dos bem-aventurados, e os ímpios seriam atirados ao Tártaro (lugar de expiação). Sócrates e Platão filosofavam (intuíam) que as almas, após permanecerem por algum tempo no Hades, retornariam à vida terrena (pródromos da reencarnação...);
- Jesus: declarou sumariamente a existência de "muitas moradas na Casa do meu Pai";
- Dante Alighieri (1265-1321): consentaneamente com o pensamento da Idade Média, afirmou, na "Divina Comédia", que na Semana Santa de 1300 desdobrou-se espiritualmente e, após atravessar os nove círculos do inferno, viu como é a vida no mundo do Além;
- Emmanuel Swedenborg (1688-1772), sueco de grande cultura, precursor do Espiritismo, narrou ter recebido revelações espirituais; numa delas descreveu a visão que teve do Mundo Espiritual, citando, dentre tantos detalhes, a existência de cidades, palácios, casas, livros etc.
- Já Allan Kardec, de fato, foi econômico quanto a citações referentes a cidades espirituais. Porém, à questão nº 86 de "O Livro dos Espíritos", os bons Espíritos deixaram cristalinamente informado que "(...) é incessante a correlação entre o mundo espírita (espiritual) e o mundo material", daí inferindo-se que no plano espiritual há cidades e tudo o mais que temos aqui... Sem pieguismo, por dedução, minha ilação é de que "lá" tem muito mais do que "aqui"...
Depois, Kardec deixou pequenas notas sobre habitações espirituais:
- Na "Revista Espírita" de agosto/1868: cidades na Espiritualidade, com comentários sobre habitações em Júpiter, com moradas e edifícios para várias finalidades;
- Em "O Céu e o Inferno", 2ª Parte, cap. II, registra o depoimento do Espírito da condessa Paula, dando conta das moradas aéreas, iluminadas por cores sublimes.
Na Espiritualidade os Espíritos que lá habitam são agrupados segundo:
- o grau individual de evolução moral;
- a sintonia: simpatias, objetivos, habilidades, tendências, hábitos etc.

- suas necessidades de aprendizado (evolução moral).

Nenhuma dessas condições é excludente.
Espíritos trevosos — infelizes, pois — reunidos em falanges constroem cidades no mundo espiritual, onde exercem tirania, subjugando incautos. Como exemplo, cito a obra "Libertação", do autor espiritual André Luiz, com psicografia de F. C. Xavier, nos cap. II e XIV, este, contendo impressionante descrição de uma “cidade espiritual estranha”, comandada por infortunado, quanto poderoso, governador: naquela cidade residem centenas de milhares de Espíritos alienados e doentes.
De se registrar: em todos os pontos infelizes, a caridade do Pai — Supremo Criador — sempre esteve, está e estará permanentemente presente!
Construções no mundo espiritual, para o bem, ou para o mal, obedecem ao manejo da vontade e do pensamento do Espírito (vide "O Livro dos Médiuns", cap. VIII e "A Gênese", cap. XIV, item 13.)
No livro "Nosso Lar", do autor espiritual André Luiz, com psicografia de F. C. Xavier (a obra espírita mais detalhada de uma cidade espiritual, consta que sua localização é sobre a cidade do Rio de Janeiro.)
Incontáveis obras espíritas mencionam a existência de colônias espirituais, muitas delas situadas próximas à Terra, e outras, distantes, nas altas esferas.
São tantas as citações sobre essas colônias que se torna inviável quantificá-las.
Numa comparação tosca: apenas no Brasil existem mais de cinco mil municípios, além de uma infinidade de pequenos povoados, muitos deles sem registro nos mapas. E no mundo todo?...
Quanto à localização dessas incontáveis colônias espirituais, apenas por dedução, e também não mais do que por hipótese, considerando as notícias vindas do Plano Maior, parece-me que, na maioria dos casos, a cada cidade terrena, há uma correspondente espiritual, situada logo acima da respectiva psicosfera. 
Provas materiais da existência de cidades espirituais, evidentemente não existem. Quanto a provas espirituais, são muitas: não apenas as trazidas em reuniões mediúnicas, mas também as constantes na literatura espírita.
É assim que, como espírita, com lastro na fé raciocinada, preconizada por Kardec, creio firmemente na existência de colônias espirituais.
Algo assim como, arrimando-me na lógica, sem jamais ter ido ao Japão, no entanto tenho certeza, absoluta, de que sua capital é Tóquio... (Relevem-me o ligeiro sofisma.)

Referências:

[1] Grande Fraternidade Branca: segundo as tradições teria surgido no Antigo Egito, vindo a popularizar-se no século XIX, graças à Teosofia,
[2] Religiões reencarnacionistas: Hinduísmo (Índia, 3.000 a.C.), Confucionismo, Jainismo, Seicho-No-Ie etc.
[3] Pensadores surgidos no período entre 700 a.C. e 300 d.C., trazendo ideias de várias vidas: Confúcio e Lao-Tse na China; Buda na Índia; Zoroastro na Pérsia, Pitágoras, Sócrates, Platão e Aristóteles na Grécia e Plotino e Amônio Saccas em Alexandria; além dos judeus que estudaram o judaísmo esotérico, ou Cabala. 
[4] Pequenas notas extraídas da obra "Colônias Espirituais", de Lúcia Loureiro, 1ª Ed. 1995, Edit. Mnêmio Túlio, SP/SP.

 


 

     
     

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