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por Temi Mary Faccio Simionato

 

Pedro, a pedra viva


Também eu te digo que és Pedro e sobre esta rocha edificarei a minha igreja.” ¹


Simão, filho de Jonas, irmão de André, casado e pescador, nascido em Betsaida, na Galileia, foi um dos mais destacados apóstolos de Jesus. Sua missão na Terra inicia-se às margens do lago do Tiberíades, ao ser surpreendido pela presença do Mestre que lhe acerca com uma voz sublime e inesquecível, convocando-o a transformar-se: “Segue-me, e Eu vos farei pescador de homens”. ²Era impulsivo, simples, humilde, preconceituoso, sincero, rude e, por vezes, ingênuo. Passa por três fases: antes de conhecer o Mestre, o tempo que com Ele conviveu e os anos após a morte do divino Amigo. Entre os discípulos tinha a posição de porta voz do grupo, por ser um líder autêntico.

Constante e pacientemente era corrigido por Jesus que utilizava os seus equívocos para dar preciosas lições aos demais e, por isso, foi chamado pelo Mestre de Pedro, “a rocha viva da fé”, apelido que evocava o vigor do seu caráter e da sua personalidade.

Podemos sempre nos lembrar de Pedro como o mais ativo companheiro do apostolado. Durante três anos que esteve com Jesus, presenciou acontecimentos surpreendentes:  leprosos sendo limpos, cegos voltando a enxergar, loucos recuperando a razão. Deslumbrou-se com a visão do Messias transfigurado no Tabor e, ainda mais, com a saída de Lázaro da escuridão do sepulcro. Entretanto, mesmo diante de tantos fenômenos, ainda não se considerava convertido, pois sabia da necessidade de trabalhos intensos, de sacrifícios pessoais, das enormes lutas para consigo mesmo e do testemunho de sua conversão aos irmãos de fé, recomendado pelo Mestre às vésperas do calvário.

Não ignoramos que a conversão é um trabalho árduo, pois, muitos dizem “eu creio”, mas poucos são aqueles que declaram “estou transformado”. Desta maneira, poderemos compreender que como candidatos ao esforço da renovação com o Cristo, seremos testados continuamente, convocados a dar testemunho de nossa fidelidade aos princípios que acatamos como regra de vida, tal como ocorreu aos discípulos de Jesus.

O meigo Rabi confiou a Pedro a orientação dos primeiros passos do Cristianismo e, também, a direção dos trabalhos da disseminação do Evangelho com a assertiva: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja”. A igreja da qual Jesus se refere é a de refletir a luz dos Seus ensinamentos que cresce com eficiência à medida que há a conscientização dos postulados do Evangelho e da sua prática.

É importante considerarmos que o Mestre sempre valoriza as circunstâncias para ensinar com acerto. Ele, como todos os benfeitores que nos tutelam com amor, acompanha de perto o nosso desenvolvimento, verificando se estamos, efetivamente, seguindo Seus passos, fazendo-nos entender que devemos nos posicionar como observadores atentos. Esta também é a proposta da Doutrina Espírita quando, pela fé raciocinada, nos fornece padrões de conhecimento seguro, impulsionadores da nossa melhoria espiritual, concedendo-nos condições para avaliar o progresso adquirido segundo nossa posição evolutiva.

Jesus amava em Pedro a força de seu caráter, seu entusiasmo, sua bondade, sinceridade, justiça e o espírito conciliador que o tornaria merecedor de grande respeito, não apenas no trabalho, como também na família. Por isso, vemos em Simão Pedro o símbolo dos principais combates que nos aguardam às culminâncias espirituais.

Intimidado ante as ameaças de perseguição e sofrimento, Pedro nega Jesus por três vezes e sai daquele lugar andando pelas vielas solitárias de Jerusalém. Sempre tão rígido quanto ao perdão, às quedas alheias, cai em si ao deparar-se com o olhar compassivo do Mestre. Sob remorso obsedante, chora amargamente, iniciando em Jerusalém a missão de divulgar o Evangelho que lhe fora confiado pelo Mestre, avançando resoluto para a reabilitação do apostolado.

Percebemos que “a negação de Pedro mostra a fragilidade das almas humanas perdidas na invigilância e na despreocupação da realidade espiritual, deixando-se conduzir, indiferentemente, aos torvelinhos mais tenebrosos do sofrimento, sem cogitarem de um esforço legítimo e sincero na definitiva edificação de si mesmas”, de acordo com o benfeitor Emmanuel, no livro O Consolador,questão 320.

Pedro, a rocha viva da fé, levanta, fortalece-se e lapida-se trazendo consigo o sentimento de congregação dos ensinamentos do Cristo, interpretados em espírito e verdade, concretizados nas manifestações de amor ao próximo, exortando os cristãos a viverem no espírito de caridade e virtudes. Desta forma, nasce “A casa do Caminho”, marco da fase áurea do Cristianismo primitivo.

Os ensinamentos deixados pelo Mestre falam alto nos corações dos trabalhadores da Casa do Caminho que pregam com entusiasmo a Boa Nova, curam doentes e não se deixam corromper, proclamando o perdão e o arrependimento das faltas. Ali, naquela humilde casa habitava o hospital, a escola, o acolhimento, a oficina de trabalho, da oração e da comunhão com o Cristo.

Fica-nos claro, portanto, que se quisermos alterar o nosso curso, poderemos fazê-lo amando, ajudando e praticando o bem. Ao que nos remete ao médium Divaldo P. Franco que esclarece: “O bem que fazemos anula o mal que fizemos”, ou seja, “O amor cobre a multidão de pecados”. 3

Trabalhando incansavelmente em favor dos necessitados, Pedro passa a curar pela imposição de mãos e pelo toque. Até sua sombra era considerada poderosa para curar os doentes que eram colocados em macas no caminho pelo qual ele passaria. Conhecido como aquele que negou Jesus, teve sempre a coragem de afirmar que o fizera reconhecendo que o homem é muito mais fraco do que perverso. Com vontade firme e perseverante no trabalho ao próximo, demonstrou como pode ser forte um homem movido pelo amor e pela fé.

Cinco séculos mais tarde, onde se supõe que Simão abriu a alma em choro compulsivo, ergue-se uma igreja com o nome de São Pedro. Assim, Amélia Rodrigues através do médium Divaldo P. Franco, no livro Há Flores no Caminho, capítulo Fraqueza e força, emociona: “Com o espinho do arrependimento cravado na mente, a doer no coração, o discípulo se deixaria agora joeirar pelo sacrifício e se tornaria uma bandeira desfraldada, simbolizando a coragem que deveria infundir nos irmãos que lastreariam os solos das outras vidas com o martírio de si mesmos”.

Concluímos que não se formam cristãos para adornos vivos do mundo e, sim, para a ação regeneradora e santificante da existência. Ao comungarmos efetivamente o banquete da revelação cristã, em tempo algum esqueceremos o Mestre amoroso. Desta forma, entendemos quando Pedro pergunta com pureza: “Senhor, para que iremos nós?4Simão Pedro, desejando saber qual seria a recompensa pela adesão à Boa Nova, vê de perto a necessidade de renúncia, e quanto mais lhe purifica a fé, maiores testemunhos de amor à humanidade lhe é requerido, e, quanto mais conhecimento adquire, mais é impelido a expandir a caridade até o sacrifício extremo.

Podemos notar, então, que se deixarmos por devoção a Jesus os laços que nos prendem às zonas inferiores da existência, receberemos do céu a honra de ajudar, o privilégio de entender e a glória de servir para alcançar a felicidade.

Com o Cristo, Salvador das almas e Mestre dos corações, encontraremos o roteiro para a vida imortal, assim como Pedro que se levantou do engano para viver em plenitude Seu Evangelho até sua crucificação.

Entendemos que é necessário amar, porque apenas o amor puro arrancará as escamas das trevas dos nossos olhos, aprendamos trabalhando e servindo até que um dia, qual aconteceu ao velho Simeão da Boa Nova, discípulo por excelência, pedra e pastor, possamos exclamar ante a presença Divina: “Agora Senhor, despede em paz o teu servo, segundo a Tua palavra, porque, em verdade, meus olhos já viram a salvação”. 5

 

Bibliografia:

1. Mateus, 16:18.

2. Mateus, 4:19.

3. I Pedro, 4:8.

4. João, 6:66-69.

5. Lucas, 2:29-30.

RIBEIRO. Cesar, Saulo coordenação – O Evangelho por Emmanuel segundo Mateus – 1ª edição – Brasília/ DF/ Editora FEB -  2016 – página 475.

RIBEIRO. Cesar, Saulo coordenação – O Evangelho por Emmanuel segundo João – 1ª edição – Brasília/ DF/ Editora FEB - 2015 – página 92.

XAVIER, C. Francisco – Boa Nova – ditado pelo Espírito Humberto de Campos – 36ª edição – Brasília /DF/ Editora FEB – 2013 – capítulo 26.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita