Pedro, a pedra viva
“Também eu te digo que és Pedro e sobre esta
rocha edificarei a minha igreja.” ¹
Simão, filho de Jonas, irmão de André, casado e
pescador, nascido em Betsaida, na Galileia, foi
um dos mais destacados apóstolos de Jesus. Sua
missão na Terra inicia-se às margens do lago do
Tiberíades, ao ser surpreendido pela presença do
Mestre que lhe acerca com uma voz sublime e
inesquecível, convocando-o a transformar-se: “Segue-me,
e Eu vos farei pescador de homens”. ²Era
impulsivo, simples, humilde, preconceituoso,
sincero, rude e, por vezes, ingênuo. Passa por
três fases: antes de conhecer o Mestre, o tempo
que com Ele conviveu e os anos após a morte do
divino Amigo. Entre os discípulos tinha a
posição de porta voz do grupo, por ser um líder
autêntico.
Constante e pacientemente era corrigido por
Jesus que utilizava os seus equívocos para dar
preciosas lições aos demais e, por isso, foi
chamado pelo Mestre de Pedro, “a rocha viva
da fé”, apelido que evocava o vigor do seu
caráter e da sua personalidade.
Podemos sempre nos lembrar de Pedro como o mais
ativo companheiro do apostolado. Durante três
anos que esteve com Jesus, presenciou
acontecimentos surpreendentes: leprosos sendo
limpos, cegos voltando a enxergar, loucos
recuperando a razão. Deslumbrou-se com a visão
do Messias transfigurado no Tabor e, ainda mais,
com a saída de Lázaro da escuridão do sepulcro.
Entretanto, mesmo diante de tantos fenômenos,
ainda não se considerava convertido, pois sabia
da necessidade de trabalhos intensos, de
sacrifícios pessoais, das enormes lutas para
consigo mesmo e do testemunho de sua conversão
aos irmãos de fé, recomendado pelo Mestre às
vésperas do calvário.
Não ignoramos que a conversão é um trabalho
árduo, pois, muitos dizem “eu creio”, mas poucos
são aqueles que declaram “estou transformado”.
Desta maneira, poderemos compreender que como
candidatos ao esforço da renovação com o Cristo,
seremos testados continuamente, convocados a dar
testemunho de nossa fidelidade aos princípios
que acatamos como regra de vida, tal como
ocorreu aos discípulos de Jesus.
O meigo Rabi confiou a Pedro a orientação dos
primeiros passos do Cristianismo e, também, a
direção dos trabalhos da disseminação do
Evangelho com a assertiva: “Tu és Pedro e
sobre esta pedra edificarei a minha igreja”. A
igreja da qual Jesus se refere é a de refletir a
luz dos Seus ensinamentos que cresce com
eficiência à medida que há a conscientização dos
postulados do Evangelho e da sua prática.
É importante considerarmos que o Mestre sempre
valoriza as circunstâncias para ensinar com
acerto. Ele, como todos os benfeitores que nos
tutelam com amor, acompanha de perto o nosso
desenvolvimento, verificando se estamos,
efetivamente, seguindo Seus passos, fazendo-nos
entender que devemos nos posicionar como
observadores atentos. Esta também é a proposta
da Doutrina Espírita quando, pela fé
raciocinada, nos fornece padrões de conhecimento
seguro, impulsionadores da nossa melhoria
espiritual, concedendo-nos condições para
avaliar o progresso adquirido segundo nossa
posição evolutiva.
Jesus amava em Pedro a força de seu caráter, seu
entusiasmo, sua bondade, sinceridade, justiça e
o espírito conciliador que o tornaria merecedor
de grande respeito, não apenas no trabalho, como
também na família. Por isso, vemos em Simão
Pedro o símbolo dos principais combates que nos
aguardam às culminâncias espirituais.
Intimidado ante as ameaças de perseguição e
sofrimento, Pedro nega Jesus por três vezes e
sai daquele lugar andando pelas vielas
solitárias de Jerusalém. Sempre tão rígido
quanto ao perdão, às quedas alheias, cai em si
ao deparar-se com o olhar compassivo do Mestre.
Sob remorso obsedante, chora amargamente,
iniciando em Jerusalém a missão de divulgar o
Evangelho que lhe fora confiado pelo Mestre,
avançando resoluto para a reabilitação do
apostolado.
Percebemos que “a negação de Pedro mostra a
fragilidade das almas humanas perdidas na
invigilância e na despreocupação da realidade
espiritual, deixando-se conduzir,
indiferentemente, aos torvelinhos mais
tenebrosos do sofrimento, sem cogitarem de um
esforço legítimo e sincero na definitiva
edificação de si mesmas”, de acordo com o
benfeitor Emmanuel, no livro O Consolador,questão
320.
Pedro, a rocha viva da fé, levanta, fortalece-se
e lapida-se trazendo consigo o sentimento de
congregação dos ensinamentos do Cristo,
interpretados em espírito e verdade,
concretizados nas manifestações de amor ao
próximo, exortando os cristãos a viverem no
espírito de caridade e virtudes. Desta forma,
nasce “A casa do Caminho”, marco da fase
áurea do Cristianismo primitivo.
Os ensinamentos deixados pelo Mestre falam alto
nos corações dos trabalhadores da Casa do
Caminho que pregam com entusiasmo a Boa Nova,
curam doentes e não se deixam corromper,
proclamando o perdão e o arrependimento das
faltas. Ali, naquela humilde casa habitava o
hospital, a escola, o acolhimento, a oficina de
trabalho, da oração e da comunhão com o Cristo.
Fica-nos claro, portanto, que se quisermos
alterar o nosso curso, poderemos fazê-lo amando,
ajudando e praticando o bem. Ao que nos remete
ao médium Divaldo P. Franco que esclarece: “O
bem que fazemos anula o mal que fizemos”, ou
seja, “O amor cobre a multidão de pecados”. 3
Trabalhando incansavelmente em favor dos
necessitados, Pedro passa a curar pela imposição
de mãos e pelo toque. Até sua sombra era
considerada poderosa para curar os doentes que
eram colocados em macas no caminho pelo qual ele
passaria. Conhecido como aquele que negou Jesus,
teve sempre a coragem de afirmar que o fizera
reconhecendo que o homem é muito mais fraco do
que perverso. Com vontade firme e perseverante
no trabalho ao próximo, demonstrou como pode ser
forte um homem movido pelo amor e pela fé.
Cinco séculos mais tarde, onde se supõe que
Simão abriu a alma em choro compulsivo, ergue-se
uma igreja com o nome de São Pedro. Assim,
Amélia Rodrigues através do médium Divaldo P.
Franco, no livro Há Flores no Caminho,
capítulo Fraqueza e força, emociona: “Com o
espinho do arrependimento cravado na mente, a
doer no coração, o discípulo se deixaria agora
joeirar pelo sacrifício e se tornaria uma
bandeira desfraldada, simbolizando a coragem que
deveria infundir nos irmãos que lastreariam os
solos das outras vidas com o martírio de si
mesmos”.
Concluímos que não se formam cristãos para
adornos vivos do mundo e, sim, para a ação
regeneradora e santificante da existência. Ao
comungarmos efetivamente o banquete da revelação
cristã, em tempo algum esqueceremos o Mestre
amoroso. Desta forma, entendemos quando Pedro
pergunta com pureza: “Senhor, para que iremos
nós?4Simão Pedro, desejando saber
qual seria a recompensa pela adesão à Boa Nova,
vê de perto a necessidade de renúncia, e quanto
mais lhe purifica a fé, maiores testemunhos de
amor à humanidade lhe é requerido, e, quanto
mais conhecimento adquire, mais é impelido a
expandir a caridade até o sacrifício extremo.
Podemos notar, então, que se deixarmos por
devoção a Jesus os laços que nos prendem às
zonas inferiores da existência, receberemos do
céu a honra de ajudar, o privilégio de entender
e a glória de servir para alcançar a felicidade.
Com o Cristo, Salvador das almas e Mestre dos
corações, encontraremos o roteiro para a vida
imortal, assim como Pedro que se levantou do
engano para viver em plenitude Seu Evangelho até
sua crucificação.
Entendemos que é necessário amar, porque apenas
o amor puro arrancará as escamas das trevas dos
nossos olhos, aprendamos trabalhando e servindo
até que um dia, qual aconteceu ao velho Simeão
da Boa Nova, discípulo por excelência, pedra e
pastor, possamos exclamar ante a presença
Divina: “Agora Senhor, despede em paz o teu
servo, segundo a Tua palavra, porque, em
verdade, meus olhos já viram a salvação”. 5
Bibliografia:
1. Mateus, 16:18.
2. Mateus, 4:19.
3. I Pedro, 4:8.
4. João, 6:66-69.
5. Lucas, 2:29-30.
RIBEIRO. Cesar, Saulo coordenação
– O Evangelho por Emmanuel segundo Mateus –
1ª edição – Brasília/ DF/ Editora FEB - 2016 –
página 475.
RIBEIRO. Cesar, Saulo coordenação
– O Evangelho por Emmanuel segundo João –
1ª edição – Brasília/ DF/ Editora FEB - 2015 –
página 92.
XAVIER, C. Francisco – Boa
Nova – ditado pelo Espírito Humberto de
Campos – 36ª edição – Brasília /DF/ Editora FEB
– 2013 – capítulo 26.