Brasil
por Paulo Salerno

Ano 12 - N° 602 - 20 de Janeiro de 2019

Divaldo Franco: “A paz é o combustível do amor”


O Movimento Você e a Paz, idealizado por Divaldo Franco, chegou em Salvador, BA, à sua 21ª edição, obtendo, como nas vezes anteriores, grande sucesso.

No dia 14 de dezembro o encontro realizou-se no Farol da Barra, tradicional ponto turístico de Salvador. O momento artístico esteve sob ação musical de Assis Diomar e sua filha Luana, de Sorriso/MT, da Soprano Andrea Alves, do Barítono Henrique Moraes e da Pianista Débora Limeira. A Banda de Música da Academia de Polícia Militar da Bahia abriu o cerimonial executando o Hino Nacional, apresentando em seguida outras melodias, encantando o público.

No palco estavam Francisco Ferraz, da Federação Espírita Brasileira, representando as caravanas presentes; Ruth Brasil Mesquita, oradora; Marcel Mariano, orador; Demétrio Ataíde Lisboa, Presidente do Centro Espírita Caminho da Redenção e Mansão do Caminho; Telma Sarraf, Vice-Presidente do CECR e da Mansão do Caminho e diligente organizadora desses eventos, como o Você e a Paz, e Divaldo Franco, Embaixador da Paz e da Bondade, coordenados pelo Mestre de Cerimônia João Araújo.

Ruth Brasil Mesquita destacou a excelência do amor ao explanar sobre a dúvida de uma filha que se questionava se sua mãe a amava tanto quanto aos seus irmãos. Em um episódio, a filha se sentiu envolvida por uma onda de amor que partia de sua mãe, sustentando-a em sua dor momentânea, ficando em paz. O perdão é como uma bússola, onde o amor aponta para a paz, destacando que todos os indivíduos são potências de paz.

Marcel Mariano ressaltou os exemplos deixados por Jesus de Nazaré, bem como as Suas atitudes nas mais diversas passagens. Ele veio para semear a esperança e o amor. Asseverou que a formação do Seu colégio apostólico incluiu, entre eles, criaturas toscas e iletradas, confiando-lhes o exercício e a divulgação do perdão, da paz e do amor. Jesus se dedicou a pacificar as massas, falava-lhes de uma paz que o mundo não poderia oferecer, a paz interna.

Divaldo Franco, Embaixador da Paz no Mundo, narrou a comovente e inspiradora história real acontecida na Armênia e contida na obra Perdão Radical, de Brian Zahnd. O episódio aconteceu durante o genocídio do povo armênio, provocado pelos turcos otomanos, na guerra ocorrida entre 1915 e 1916, envolvendo a Armênia e a Turquia, dizimando cerca de um milhão e quinhentos mil seres humanos. Esse genocídio ocorreu em paralelo a I Guerra Mundial. A história é a demonstração da poderosa força de transformação da mensagem de Jesus, quando bem compreendida e vivenciada, despertando o verdadeiro amor na criatura humana. Esse amor levou aquela jovem armênia a perdoar radical e incondicionalmente o algoz que a havia desventurado e exterminado sua família impiedosamente.

A jovem, então com 15 anos, viu a família ser cruelmente destruída pelo exército turco, seus pais foram mortos de súbito, impiedosamente, sua irmã menor, com 12 anos, foi jogada aos soldados que a violentaram até a morte, e ela foi feita escrava sexual do comandante da tropa. Após fugir das atrocidades que lhe foram impostas, diplomou-se como enfermeira, pois declarava que havia nascido para amar e salvar vidas. Também tornou-se cristã. Assim, por volta do ano de 1927, deparou-se outra vez com o seu algoz implacável, tendo oportunidade de lhe salvar a vida, apesar de o ter reconhecido desde o primeiro momento no hospital em que trabalhava, em Istambul. O algoz, então comandante daquela força exterminadora, estava preste a morrer, suas carnes estavam pútridas, era um farrapo humano. O enfermo foi colocado sob os cuidados da jovem enfermeira para que o assistisse na morte. Ela, porém, dedicadamente tratou-o, por cerca de seis meses, restituindo-lhe a saúde.

Por ocasião de sua alta hospitalar, e porque era um oficial de destaque, foi agradecer ao diretor do hospital. Esse lhe disse que o mérito era da enfermeira que o havia cuidado diuturnamente, internando-se com ele, a fim de lhe prestar um excelente serviço. Ao dirigir-se a enfermeira, o oficial notou que ela tinha um sotaque que lhe lembrava o povo armênio, onde estivera durante a guerra. Ela confirmou sua origem, declarando que o conhecia, e que ele a havia escravizado sexualmente, torturando-lhe a alma, após dizimar a sua família. O oficial, tomado de inusitada surpresa, perguntou-lhe porque não o havia deixado morrer. Ela, então, redarguiu-lhe que havia aprendido a perdoar, que Jesus é o seu Mestre, que aprendeu a amar até mesmo os inimigos, e que sua profissão é dedicada a salvar vidas, jamais extingui-las.

Sobrevivendo os tormentos a ela impostos pelo algoz, ela decidiu dar à sua vida um sentido, um objetivo, dignificando-a, apesar de, inicialmente, haver desejado matá-lo, vingando-se e vingando a sua família que fora brutal e covardemente exterminada naquele belo domingo ensolarado, porém, sem paz. O amor e o perdão foram os seus objetivos a conquistar. Alcançando-os, pacificou-se. Sentia-se grata pela oportunidade de salvar a vida de seu algoz, ao tempo em que o perdoava.

O perdão, destacou o nobre orador, é a base sólida onde a humanidade deve se erguer. Jesus de Nazaré ensinou o amor, decantou-o intensamente. A verdadeira felicidade está no ato de amar. A paz é o resultado do amor. O ser humano necessita de paz, tanto quanto necessita de ar para continuar vivendo, asseverou o Arauto do Evangelho. Fazendo uma breve abordagem sobre a solidão, a depressão e o suicídio, Divaldo evidenciou, do autor Andrew Solomon, jornalista, escritor nascido em Nova Iorque, o seu livro O Demônio do meio-dia: um atlas de depressão.

A humanidade vive um momento lamentável, uma crise moral, onde as incertezas são evidentes e a violência, urbana ou familiar, deve ser enfrentada com amor. Divaldo Franco, tomando por exemplo o estoicismo de Mahatma Gandhi, que asseverava que se um único homem alcançasse a mais elevada qualidade de amor, isso seria suficiente para neutralizar o ódio de milhões. Destacou, também, que Gandhi afirmava não existir um caminho para paz, porque a paz é o caminho. Somente o amor é a antítese da violência. É dever de todos irradiar a paz onde se encontre, em qualquer circunstância. Deve, igualmente, desenvolver a fé em um mundo melhor, a fé nas pessoas e nas circunstâncias da vida. Após narrar o Poema de Gratidão, de Amélia Rodrigues, todos, irmanados e de mãos dadas cantaram a canção Paz pela Paz, de Nando Cordel. Assim se encerrou a bela e suave noite de paz na orla de Salvador, banhada pela luz da lua em fase crescente.

No Dique do Tororó, a segunda etapa
No dia 16 de dezembro, o Dique do Tororó foi um iluminado e bucólico palco para mais um evento do Movimento Você e a Paz em Salvador, uma promoção da Mansão do Caminho, obra social do Centro Espírita Caminho da Redenção, com apoio da Rede Bahia. Em sua 21ª edição, vem conquistando espaço e se afirmando como importante marco a favor da paz, da não violência.

Aos que estão acostumados a assistir esses verdadeiros espetáculos enaltecendo a necessidade de pacificação de corações e mentes, não conseguem avaliar o também grandioso trabalho realizado na retaguarda, nos bastidores. Verdadeiro exército de voluntários e servidores se mobilizam e agem coordenadamente sob o planejamento e a execução comandada por Telma Sarraf, Vice-Presidente do Centro Espírita Caminho da Redenção e da Mansão do Caminho, movimentando inúmeros equipamentos e técnicos diversos. Essa magnífica equipe, inspirada e estimulada por Telma, não possuem visibilidade, porém, sabemos que o efeito visual e operacional que identificamos claramente, somente pode ter origem em uma causa altamente qualificada e perfeitamente integrada entre si. Parabéns Telma Sarraf, parabéns equipe dedicada e profissional! O visual e o resultado das apresentações são altamente positivos, atestando o quanto são dedicados ao bem, promovendo momentos de paz e serenidade.

O momento artístico, que antecedeu a abertura do Movimento Você e a Paz, com vários cantores e instrumentistas, teve seu ponto de culminância com a bela apresentação das crianças da Escola de Educação Infantil Alvorada Nova e dos alunos do Centro de Artes e Educação Integral para adolescentes de 12 a 16 anos.

Participaram do palco Iraci Campos, do Centro Espírita Joanna de Ângelis, do Rio de Janeiro; o Padre Antonio Olavo Amarante, de São Paulo; Demétrio Ataíde Lisboa, Presidente do Centro Espírita Caminho da Redenção – CECR - e da Mansão do Caminho; Ruth Brasil Mesquita, oradora, de Salvador; Marcel Mariano, orador, de Salvador; Milciades Lezcano, Presidente da Federação Espírita do Paraguai; Divaldo Pereira Franco, inspirador e idealizador do Movimento Você e a Paz; e Telma Sarraf, Vice-Presidente do CECR e da Mansão do Caminho, coordenadora desse extraordinário Movimento.

Conclamada ao microfone por João Araújo, Mestre-de-cerimônias, Ruth Brasil Mesquita asseverou que a paz é alcançada através da autoiluminação, abandonando o sentimento de vingança, do apego, da desonestidade, do egoísmo e do orgulho, desenvolvendo a humildade, o amor, o altruísmo, a honestidade, a caridade, a fé e a esperança, isto é tornando-se uma criatura pacífica e pacificadora, pois que esses potenciais jazem latentes em todo e qualquer ser humano.

O Padre Católico Olavo Amarante afirmou que a construção da paz no íntimo de cada indivíduo depende do autoconhecimento, da meditação, do estudo de si mesmo, da reflexão. A paz somente pode ser construída de dentro para fora, quando o homem redescobre-se ao conhecer-se, passando, assim, a sentir e viver a paz, fazendo o bem para ter sucesso nesta reencarnação, nesta vida atual. O ser humano é, ao mesmo tempo, sujeito e objeto da paz.

Marcel Mariano frisou, em bases sólidas, que a humanidade viveu nos últimos 3.500 anos de história, somente 150 anos de paz. As guerras, esses espetáculos dantescos, tiveram suas origens para atender demandas de cunho religioso e político, entre outros de menor expressão, atestando a belicosidade do ser humano, incapaz de gerenciar conflitos e interesses contrários, dando origem a violência. Há todo um esforço em construir leis e regras para evitar conflitos entre as pessoas e os entes de Estado. A religião e a filosofia abrandaram as relações conflituosas, sem contudo eliminá-las. Porém, falta ao homem colocar em prática o amor preconizado e vivido por Jesus de Nazaré, tornando-se pacífico, brando, afável, transformando-se em um ser pacifista e pacificador.

Divaldo Franco, o idealizador do Movimento Você e a Paz, Embaixador da Paz no Mundo, salientou através de uma narrativa de um fato real, que a vida, tanto quanto os acontecimentos, apresenta fatos inusitados, que se desencadeiam de um momento para outro. As criaturas humanas, conforme os eventos que experimentam, podem mudar de atitudes, saindo de uma posição para outra impulsionadas por desejos de vingança e de ódio.

O ódio se propaga conforme os indivíduos o alimenta, contagiando os que estão mais próximos, construindo um circuito, um encadeamento de ações negativas a vitimar os desatentos infortunados. Somente o arrependimento e o perdão têm poderes para romper esse circuito, essa cadeia de ódio, fazendo cessar sua ação nefasta e virulenta. O amor, que interpenetra todas as criaturas humanas, é a solução para todo e qualquer conflito. Ante o amor, o ódio desaparece.

A violência é uma enfermidade da alma, assim classifica a Organização Mundial de Saúde. A paz que deve reinar no coração do homem ainda não encontrou acolhimento, e na sua insanidade, gera mais violência, contaminando a sociedade. Somente o trabalho, o amor de muitos em prol da paz, do perdão, da educação e das aquisições de cunho moral é que irão permitir que o homem construa a paz em seu íntimo, estabelecendo a paz na sociedade humana. A família é o instituto basilar para diminuir a violência, haja vista, que ela é a melhor escola de pacifismo.

Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, destacou que o egoísmo se trata de um câncer na sociedade. Somente o amor, a solidariedade e a caridade possuem o poder de “curar” esse câncer, ensejando a mudança interior, gerando pais, filhos, cidadãos, indivíduos melhores. Ante os “tesouros” enganadores encontráveis na Terra, iludido e ambicioso, o homem sensato não pode esquecer o principal, isto é, o que realmente possui valor, a vida e o seu significado, o esforço em domar as suas más inclinações, adquirindo as virtudes de uma homem de bem, caridoso, fraternalmente amoroso, de posse do necessário.

Existe somente um antídoto à violência: é a paz no coração. Todo agressor é um doente. Jesus é o amor que dá vida e a dor é o prêmio que Deus reserva para as suas criaturas. O sofrimento é o melhor educador, somente a paciência, revestida de ternura e amorosidade pode construir a paz. Jesus é o maior exemplo de filósofo, ensinou que a felicidade é uma conquista individual e intransferível.

Apresentando as próprias experiências, e são muitas, ao longo de mais de 73 de vida pública, Divaldo Franco, com sua verve tocou nos corações, dedilhou a alma em sofrimento e atormentada, colocando os óleos do amor, despertando o riso, sempre terapêutico, apresentando lições de amor, caridade, solidariedade e paz. Ensinou que não se deve atribuir importância ao que não é importante, o principal.

O Movimento Você e a Paz sensibiliza a alma para as conquistas superiores, construindo a paz interior, irradiando para os que estão à volta o sentido da vida, isto é, o amor que deve ser indistinto, sem dar importância para o mal que ainda permeia a alma humana.

Finalizado o grande evento, o público de pé e aplaudindo calorosamente o orador Divaldo Franco e todos os demais, foi cantado a canção Paz pela Paz, de Nando Cordel, ensejando ao público a oportunidade de se darem as mãos, de se abraçarem, confraternizando-se em plena paz.

O ápice do evento na Praça Dois de Julho

O Movimento Você e a Paz idealizado por Divaldo Pereira Franco, Embaixador da Paz no Mundo, alcançou a sua culminância em 19 de dezembro de 2018, encerrando a sua 21ª edição na Praça Dois de Julho, no Campo Grande, na Capital baiana. A data de 19 de dezembro é consagrada, na cidade de Salvador, para a promoção e comemoração da paz, divulgando, nesta data oficial o projeto da não violência.

Como sói acontecer, a Equipe de Eventos do Centro Espírita Caminho da Redenção/Mansão do Caminho, liderada pela eficiente Telma Sarraf, Vice-Presidente do Centro Espírita Caminho da Redenção e da Mansão do Caminho, tem se superado a cada evento, sempre muito primorosos, ricos de detalhes, funcionalidade e acolhimento. Telma e equipe transpõem quaisquer obstáculos, em esforço hercúleo, para que na data e horários aprazados, o evento se realize com precisão. Essa é uma etapa que passa sem ser percebida, em qualquer evento, pois que, tudo funcionando harmonicamente, os espectadores pouco visualizam o esforço, as horas de trabalho dedicado, as preocupações e as horas indormidas de todos os envolvidos nesse grandioso projeto dedicado à promoção da paz. Não se pode deixar de considerar que há um ingente, exaustivo e produtivo trabalho realizado nos bastidores, construído no silêncio e no anonimato de inúmeros voluntários e funcionários sob a coordenação segura e agregadora de Telma Sarraf.

O Movimento Você e a Paz homenageia entidades, instituições e personalidade que se destacam ao promover o ser humano, seja no campo social, educacional ou de inserção no seio da sociedade. A esses são ofertados os Troféus Você e a Paz, marcando e enaltecendo o trabalho que realizam em prol de um mundo mais pacífico e justo. Este ano foram destacadas quatro personalidades físicas, três instituições e uma empresa.

Animando o público, Assis Diomar, e a seguir os jovens do Centro de Artes Integradas Ana Franco, da Mansão do Caminho, juntamente com Juan Danilo Rodríguez, formando o Coral Redenção, se apresentaram, recolhendo muitos aplausos e manifestações de apoio.

Cordel, cantor e compositor, levantou o público ao se apresentar, embalando-o em suas belas canções. A Banda de Música do 2º Distrito Naval da Marinha do Brasil se apresentou magnificamente, estimulando o público, sendo amplamente aplaudida.

O evento foi filmado e televisionado pela TV Mansão do Caminho. A mestre de cerimônia foi a apresentadora Camila Marinho, da Rede Bahia de Televisão. Durante o dia, e antes do evento, Divaldo Franco concedeu várias entrevistas para diversos veículos de comunicação. A presença de diversas autoridades do Estado e da Prefeitura de Salvador, bem como de outras personalidades dos meios social, cultural, político e religioso, atesta o quanto é importante a realização de esforços em favor da paz. No público havia vários representantes vindos do Exterior e do Brasil, bem como diversas caravanas, de pelo menos seis Estados brasileiros. A Praça Dois de Julho ficou pequena para acolher um incalculável número de pessoas que se somavam aos moradores do entorno, assistindo o brilhante evento de suas janelas e sacadas.

Os oradores destacados para se pronunciarem ressaltaram as condições necessárias para se construir uma paz duradoura, isto é, no interior de cada ser humano, que utilizando-se da razão e do sentimento, alcançarão o estado de paz e de harmonia, ainda ausentes nos pensamentos e ações de muitos. Deus deve habitar o coração de todos, tornando o cidadão em um homem de bem. O amor deve ser a tônica nas relações humanas, perdoando os que fazem o mal, estimulando-os ao automelhoramento. Asseveraram que a paz e a justiça devem andar juntas, em complementaridade, somando-se também. Jesus é referência, estimulando os indivíduos, pelo exemplo, a se tornarem promotores da paz, do amor, respeitando a diversidade de pensamentos. Diante do amor, da solidariedade, da caridade, todas as religiões caem, pois que acima delas está o amor, a paz, a plenitude, a harmonia de Jesus.

Divaldo Franco, idealizador desse grandioso programa de paz, disse que o amor é uma força ciclópica, onde o pessimismo e a angústia cedem lugar para a esperança e para a alegria de viver. O amor deposita inteira confiança no ser humano, pois que é portador de excepcionais condições e diversidades voltadas para a prática do bem, como propõe Jesus. A humanidade, e em particular os brasileiros, vive momentos singulares onde a violência sufoca a liberdade e a fraternidade, personalidades dão maus exemplos pelos seus envolvimentos em escândalos escabrosos. A violência é fruto do distanciamento da criatura de seu Criador.

Para enfatizar a necessidade de paz e de justiça, o Arauto do Evangelho discorreu sobre um conto do poeta e escritor libanês Gibran Khalil Gibran (1883-1931), narrando o seu encontro com o Emir, o mandatário maior do Líbano, em um julgamento. Gibran desejava saber como estava a justiça em seu amado pais, após estar afastado por muitos anos. Queria saber do senso de justiça, conhecer as dores e as verdades dos acusados.

Gibran foi a um julgamento. O Emir, um tanto entediado, ordenou ao acusador que fizesse entrar o primeiro caso. Adentrou no grande salão de julgamento um homem acusado de matar um soldado do Emir, este, então, perguntou o motivo de tal crime. - Foi legítima defesa, disse o acusado. Foi esbofeteado, de imediato, na face e não pode continuar. O acusador afiançou que aquele homem, amarrado, era acusado de decepar com uma adaga a cabeça de um cobrador de impostos. Foi anunciado pelo acusador como sendo um homem sem respeito pelas autoridades e pelo próprio Emir, já que desafiava seus representantes. O Emir, encolerizado, ordenou que o acusado tenha a sua cabeça decepada. Quem pela espada fere, por ela será ferido.

Uma mulher foi a próxima. Pesa sobre ela a acusação de adultério, relatou o promotor. É uma mulher que foi tirada da miséria pelo marido, um homem nobre e rico, que a flagrou em adultério no jardim da própria casa. Descabelada, nada pode dizer em sua defesa. Rapidamente, sem mais, o Emir a condenou a lapidação e a desfilar nua pelas ruas da cidade, sendo de imediato arrastada para fora do salão e dali para as ruas, cumprindo a sentença.

O terceiro caso foi anunciado como sendo o de um velho homem que trabalhava em um monastério cristão, e que para lá retornara, na calada da noite, para roubar um pote de ouro. Foi surpreendido pelos monges que o entregaram as autoridades. Assim que tentou pronunciar algo em sua defesa foi esbofeteado, tendo o nariz quebrado e a boca cortada. A sentença, proferida pelo impiedoso Emir, foi o enforcamento por ter praticado o ato hediondo de tentar roubar.

Gibran era poeta, e como tal, ficou chocado com a dureza dos corações que se apresentaram de forma tão vil naquele tribunal.

Ao cair da tarde, anoitecendo, com seu coração de poeta apertado, saiu para o campo dos condenados e não tardou a ouvir barulho de galhos e choro. Ao sair da penumbra viu uma jovem que segurava a cabeça do jovem decepado junto ao corpo e então quis saber como podia chorar por um assassino. Temendo ser entregue às autoridades, Gibran a tranquilizou, afirmando não gostar da forma como o Emir tratava o seu povo. Confiante, ela então narrou que aquele jovem havia se adentrado em sua casa para proteger a ela e ao seu pai. - Como? Perguntou Gibran.

Os homens do Emir exigiam os impostos. Eram 90 partes para o reino e 10 para a família que arrendara as terras reais, todas do Emir. Como não tinham, porque o clima fora impróprio, o chefe ordenou que o pai fosse preso e que a propriedade fosse devolvida ao Emir. Quando entrei a sala, e assim que o soldado me viu, disse: “perdoarei as dívidas e levarei a filha como escrava”. Foi nesse momento que esse jovem, que eu nunca havia visto, entrou para nos defender daquele horror, e para não ser morto, pegou uma adaga que ficava na parede e defendeu-se daquele funcionário vil. A jovem enterrou o decapitado e saiu, deixando lá o poeta, só.

O silêncio foi quebrado por choro e palavras de amor. O poeta, buscando aquele som, encontrou um homem a abraçar o corpo disforme e nu daquela mulher acusada de adultério. O homem gritou, ao avistar Gibran, que ele poderia denunciá-lo, mas não deixaria o corpo virginal daquela mulher exposto para os abutres.

- Mas ela era adúltera, falou Gibran. - Não! Ela não era, respondeu o jovem. Nós crescemos juntos e quando completei 18 anos, e ela 16, pedi ao seu pai que me concedesse sua mão, mas ele era avaro e desejava dinheiro. Então eu lhe disse para que a guardasse para mim, que eu viajaria o mundo para enriquecer e voltaria para casar-me com ela. Mas ele a vendeu a um homem rico, possuidor de um harém. Eu subornei o guarda para vê-la, a encontrei diante de uma fonte a chorar e quando ela me viu, me falou: “por que demorou tanto para voltar?”

Perguntei se o casamento já estava consumado e ela me disse que não, mas que já havia uma data para a consumação. Então nos abraçamos, e choramos, e foi neste momento que o esposo de 70 anos adentrou, juntamente com os guardas, e não adiantou eu dizer que nada havia acontecido. Eu fugi e ela ficou, foi espancada, humilhada, lapidada. Então, afirmou o enamorado enlutado, nada vai me impedir de vesti-la com as folhas da natureza e enterrá-la. Gibran começou a ajudar, colhendo ramos das árvores para cobrir aquele corpo nu. Um manto foi jogado sobre o corpo e eles a enterraram.

Gibran se afastou, e novo barulho lhe chamou a atenção. Era uma velha, magérrima e miserável que cortava com os próprios dentes a corda que segurava o corpo morto, suspenso, do homem enforcado. Quando ela viu Gibran disse-lhe: - Nada podes fazer para me impedir de enterrar o meu esposo. - Mas ele roubou o ouro da igreja! - Não! Respondeu ela. Ele trabalhava para aqueles monges gordos e bêbados e recebia uma miséria, basta ver o nosso aspecto. Eram mesmo tristes figuras de farrapos humanos, dava para ver os ossos de seus corpos miseráveis.

- Nosso filho ficou doente de fome, continuou a miserável mulher, então meu marido pediu aos monges o dinheiro para o remédio e eles negaram, riram e mandaram-no trabalhar mais. Nosso filho está morrendo, e ontem, quando o dia estava para amanhecer ele acordou com os olhos arregalados, e com um brilho estranho de desespero, me disse: “hoje trarei comida” e saiu em direção ao monastério, não era o pote de ouro que ele queria, mas sim um pouco do trigo que é guardado lá dentro. Gibran ajudou a mulher a enterrar seu marido e a viu sumir na escuridão após beijar a terra sobre o cadáver como se osculasse a testa do companheiro.

Naquele momento o poeta libanês chorou e orou a Deus, declarando sua dor em forma de poesia, escrevendo a respeito da justiça. Para haver paz é preciso equilíbrio, dignidade, que, sonegados, geram violência de todo tipo. O Emir, após Gibran ter escrito sobre o senso de justiça no Líbano, tornou-o apátrida e seus livros foram queimados em praça pública.

Passaram-se os anos, e Gibran Khalil Gibran morreu. Seu país devolveu-lhe a condição de cidadão, honrando-o, e seu funeral, no Líbano, teve mais de 600 mil libaneses acompanhando o cortejo. É pensando nesse drama narrado por Gibran, que é o mesmo do Brasil, onde as incertezas campeiam em todos os poderes e a ausência de dignidade, de exemplo de justiça, de honradez, onde há a usurpação de alguns ante a dignidade de muitos, a paz desaparece e se torna revolta. A revolta, ante a injustiça, envilece o homem, tornando-o predador de seu semelhante.

Destacando uma frase de Madame Roland, Divaldo chamou a atenção para as condições em que se trata a liberdade. Oh, Liberdade, Oh, Liberdade, quantos crimes se cometem em teu nome! Cada ser humano deve ter a consciência da dignidade, do respeito, do amor ao próximo, frisando que tudo isso independe de religião ou de qualquer outra crença ou filosofia. O Movimento Você e a Paz é um projeto que visa promover e divulgar a paz. A liberdade é o maior anseio da alma humana e que deve ser conquistada e mantida com amor, paciência, tolerância, sem o uso de revide.

Mahatma Gandhi afirmava que a paz não possui um caminho, a paz é o próprio caminho. Asseverou o nobre orador pacifista que é necessário ter coragem para amar, para ser solidário e caridoso. A paz e o amor se entrecruzam. A paz é o único meio de ser feliz, para desfrutar a harmonia e ser fraternal. Com a declamação do Poema da Gratidão, de Amélia Rodrigues, o evento se encaminhou para o final, quando todos, irmanados cantaram a canção Paz pela Paz, de Nando Cordel, que do palco animou os milhares de pazeadores ali presentes e milhares de outros através da internet.

Os sentimentos estavam aflorados, os abraços, desejando paz duradoura, se multiplicaram em uma verdadeira onda de solidariedade e de fraternidade. Lembre-se: Você é a Paz! Você é Paz!

 

Nota do autor:

As fotos desta reportagem são de Jorge Moehlecke.


 

 

 

     
     

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